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(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

OS investigada por desvio de R$ 4,5 milhões na saúde pretendia assumir hospital; Ex-secretário de Fazenda, acusado de esquema via OS, se entrega na PF

Sexta, 15 de dezembro de 2017
Do site Ataque aos Cofres Públicos, com informações do G1 e EPTV  

O Jornal da EPTV 2ª Edição desta quinta-feira (14) deu mais detalhes sobre os desdobramentos da Operação Ouro Verde, que apura desvios de mais de R$ 4,5 milhões da Saúde de Campinas, por meio de uma quadrilha, que tinha como linha de frente a Organização Social Vitale.

A matéria mostra como as OSs são organizações criminosas muito bem organizadas e especializadas em drenar os cofres públicos, valendo-se de uma rede muito bem articulada e conectada a agentes públicos.


Veja a reportagem na íntegra ou clique aqui para o vídeo do EPTV:

OS investigada por suposto desvio de R$ 4,5 milhões na saúde pretendia assumir Hospital de Paulínia, diz MP
Promotoria interceptou conversas que presidente da Vitale fala sobre indicar diretor para administrar a unidade. Operação Ouro Verde apura desvios em hospital e seis já foram presos.

A Organização Social Vitale Saúde (OS), investigada pelo Ministério Público por ser a responsável por supostos desvios no Hospital Ouro Verde, em Campinas (SP), também tinha interesse em assumir o Hospital Municipal de Paulínia (SP). A informação está no relatório elaborado pela Promotoria e em áudios de conversas interceptadas pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) durante a investigação.

A Promotoria investiga supostos desvios de R$ 4,5 milhões do setor da saúde e a principal suspeita é a Vitale, que administrava o Hospital Ouro Verde desde o ano passado. O contrato com a OS foi rompido após a Operação Ouro Verde ser deflagrada, no dia 30 de novembro. Seis empresários ligados à empresa estão presos preventivamente.

Em uma das conversas interceptadas pelo MP, no dia 14 de julho, Aparecida Bertoncello, a Tata, que era a presidente da Vitale, ligou para Paulo Câmara, considerado pela Promotoria um dos verdadeiros donos da empresa, e disse que recebeu um pedido do lobista Fernando Vitor Torres Nogueira Franco: solicitar uma pessoa de confiança para fazer um estudo no Hospital de Paulínia. Os três estão presos.

Tata: Um estudo de custo do hospital. Então a gente já vai… vai ser superintendente administrativo, sabe, dentro do hospital? O valor o hospital vai pagar, né, o salário, e nós indicamos o Juliano. Que que você acha?

Paulo Câmara: Eu acho perfeito.

Tata: Gostou?

Paulo Câmara: Esse hospital, eu acho fundamental. Ele é um p*** hospital, dá um bom resultado, acho que vale a pena investir, tá?

Tata: Ai, que bom.

Paulo Câmara: E o Juliano é uma pessoa que a gente confia nele, né? Então, assim, melhor indicação, impossível.

A pessoa mencionada por Aparecida e Câmara é Juliano César Botéro, que já trabalhava para a Vitale e ligou para Tata no dia seguinte. Na conversa, a presidente da OS explicou a função dele em Paulínia e já dava como certo a contratação da empresa para administrar o hospital. Veja abaixo um trecho:

Tata: Mas eu acho muito interessante a proposta. É, você vai ser um tipo de superintendente lá dentro do hospital, você vai ficar lá por quatro meses.

Juliano: Hum.

Tata: Até depois de a gente ajeitar a vida da Vitale, porque o projeto é nosso praticamente, entendeu? Porque quem colocou o secretário da saúde lá foi o Vitor.

Juliano: Entendi.

Tata: Entendeu? O salário gira em torno de R$ 10 a R$ 13 mil.

Juliano: Tá.

Tata: Achei bom

De acordo com o Diário Oficial de Paulínia do dia 1º de agosto, Botéro foi nomeado ao cargo comissionado de superintendente do Hospital de Paulínia. A unidade médica viveu um ano de crise, com a suspensão de cirurgias eletivas, falta de material para raio-x e demora de até 4 meses para a realização de exames. Em outra conversa entre Tata e Juliano, eles conversam sobre a apresentação dele no hospital.

Juliano: Então tá bom, viu. Eu acabei de sair daqui de.. como chama a cidade? Paulínia. O Vitor ligou ontem à noite falando que..

Tata: P***

Juliano: Fiz a entrevista com o secretário e acabei de ser apresentado na Santa Casa, como superintendente, já. É, começo segunda-feira.

Tata: Ah, que bom!

Juliano: Confesso que deu um friozinho na barriga.

Tata: Por quê?

Juliano: Ah, não sei. Jesus, Nossa Senhora. Deu um friozinho na barriga.

No entanto, a Vitale não chegou a assumir a gestão do Hospital de Paulínia. No dia 16 de outubro, Juliano Botéro foi exonerado do cargo na secretária de Saúde e, segundo o Ministério Público, foi nomeado pela Vitale diretor geral do Hospital Ouro Verde no lugar de Ronaldo Foloni, também apontado como lobista e preso na operação do dia 30 de novembro.

No depoimento de Aparecida Bertoncello ao Ministério Público, o nome de Juliano Botério chegou a ser mencionado pelos promotores, mas, apesar das gravações telefônicas e dos documentos que comprovam que ele ocupou um cargo público, a presidente a OS negou todas as acusações. “A Vitale não indicou ninguém”, disse ela à Promotoria.

‘Operação Ouro Verde’
Seis empresários investigados cumprem prisão preventiva e foram denunciados à 4ª Vara Criminal de Campinas, no dia 7 de dezembro, pelos crimes de organização criminosa, fraude à licitação, falsidade ideológica e peculato. Entre eles está Fernando Vitor Torres Nogueira Franco, que teve dois carros, modelos Ferrari e BMW, apreendidos no dia em que ocorreu a 1ª fase da “Operação Ouro Verde”.

Os outros presos são Aparecida Bertoncello, Ronaldo Foloni, Ronaldo Pasquarelli, Paulo Câmara e Daniel Câmara. Os três últimos são apontados no relatório do MP como donos da Vitale e teriam coordenado as ações dos supostos desvios por meio da presidente (Aparecida), além de Foloni e Franco, que tinham as funções de lobistas. A Promotoria diz ainda que os donos da Vitale eram ligados à Pró-Saúde, instituição que administrou unidades no estado e foi alvo de denúncias.

Entre os servidores de Campinas que foram exonerados pelo governo após a operação estão Anésio Corat Júnior, Ramon Luciano da Silva e Maurício Rosa. O primeiro foi exonerado do cargo em comissão de diretor de departamento, junto ao Departamento de Prestação de Contas da Saúde, e foi na casa dele que PMs apreenderam R$ 1,2 milhão levado para a sede do MP. Além disso, ele está suspenso por 30 dias enquanto tramita o processo administrativo do governo municipal.

Já Ramon Silva foi desligado do cargo de coordenador Setorial, junto à Coordenadoria Setorial de Auditoria de Repasse Público ao Terceiro Setor, do mesmo departamento na Saúde. Por fim, Maurício Rosa, exonerado na quarta-feira (13), era um dos responsáveis por estruturar um “plano B” para o grupo conseguir mais verbas públicas sem precisar recorrer à Justiça.

O prefeito de Campinas, Jonas Donizette (PSB), é investigado pela Procuradoria Geral de Justiça (PGJ) após ter tido o nome citado em conversas gravadas pelo MP. O secretário de Assuntos Jurídicos e o líder do governo na Câmara, Marcos Bernadelli (PSDB), também são investigados pela Promotoria.

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Ele é mais um preso da ‘Custo Político’, que investiga o desvio de mais de R$ 20 milhões da saúde do Estado por meio de contratos de terceirização de unidades. (leia aqui)