Sexta, 15 de junho de 2018
Por
Pedro Augusto Pinho
Pedro Augusto Pinho
O VATICANO VAI AO BORDEL?
Este
mundo não é para amadores, dirá todo diplomata de carreira. Se não o
era quando os colonizadores eram Estados Nacionais, imagine neste
século XXI no qual o grande colonizador é um sistema: o sistema
financeiro internacional, que abrevio denominando “banca”.
A
banca são a meia centena de famílias que dominam os fluxos financeiros
mundiais; algo entre um terço e a metade do que circula, diariamente,
entre bancos, financeiras, cambistas, brokers e similares. É um poder
imenso. A transferência de um país para outro de valores controlados
pela banca causará dano violento não apenas nas finanças, mas na
economia, na política, derrubando governos e empobrecendo
populações.
Para o bom desempenho de seu poder, a banca criou o mito da globalização e
o mito da libertação em questões transversais, ou seja,
que são motivo de disputas políticas e culturais em todos os países,
como as questões ecológicas, de gênero e igualdade racial.
Assim,
ela se insere e domina partidos e movimentos tão díspares como os
socialistas – franceses, espanhóis, gregos – e os conservadores –
ingleses, estadunidenses, alemães.
O
formato atual da banca é do século XX, após a derrocada do colonialismo
inglês. Constituiu diversas instituições, algumas de conhecimento
público outras ocultas dos olhos de quase todos. Também
dominou a comunicação de massa, como se constata pelo controle das
agências de notícia e de inúmeros jornais, revistas, emissoras de rádio e
televisão.
Se
o caro leitor dedica boa parcela de seu tempo diante da telinha
plim-plim, certamente terá uma visão distorcida pelos “analistas”,
“especialistas”,
âncoras e quem mais surja para lhe doutrinar. Assim achará que a
Venezuela, a Rússia, o Irã são países do “mal” e os condenará, sem saber
que o fazendo estará prestando um serviço à banca, pois a destruição
dos Estados Nacionais é um de seus objetivos.
Vamos
refletir sobre caso concreto, que nem é para amadores nem para os
desinformados globais: a presença de um representante do Vaticano na
reunião anual do Grupo Bilderberg. Soaria desconcertante, de certo modo
o é, mas coloca mais uma vez a dialética marxista como capaz de uma
resposta.
O
Grupo Bilderberg, um braço conhecido da banca, foi criado, de acordo
com o escritor e jornalista Thierry Meyssan, em 1954, pela CIA e pelo
MI6. O pesquisador argentino Walter Graziano (Hitler ganó la guerra,
2004) adiciona que surgiu do estadunidense Council of Foreign Relations
(CFR).
Em
2018, a reunião anual do Bilderbeg (BG) ocorreu entre 7 e 10 de junho,
em Turin (Itália). Além dos convidados habituais – CIA, MI6, OTAN
– dois chamaram a atenção: a primeira ministra da Sérvia (Ana Brnabic) e
o Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado do Vaticano.
Sob
a presidência de Henri de Castries, do Instituto Montaigne – um “think
tank” francês que assumiu o poder com a eleição de Emmanuel Macron
– compareceram cerca de 130 pessoas, dentre as quais a dona do Banco
Santander (Ana Botín), os presidentes da Royal Dutch Shell, da Norsk
Hydro, da Fiat Chrysler, o Governador do Banco da Inglaterra, a diretora
geral da Unesco e figuras conhecidas como Henry
Kissinger.
A
banca tem estruturas para pensar, como a Rand Corporation, o Center for
Strategic & International Studies (CSIS), da Georgetown University,
e o Royal Institute of International Affairs (RIIA), outras para agir,
como o Fórum Econômico Mundial, cujo atual presidente, Borge Brennan,
esteve na reunião em Turin.
Às
reuniões do Bilderberg costumam comparecer pessoas destas estruturas
(pensar e agir) como demonstra a composição de convidados, que inclui
também muitos homens de imprensa (editores e donos).
Quem
desejar se aprofundar nos organismos da banca, há o notável trabalho de
1996, de Adrián Salbuchi: “El cerebro del mundo. La cara oculta
de la globalización”, Ediciones del Copista, Argentina, sendo a mais
recente atualização do Editorial Solar, Colômbia, em 2004. Também o site
Réseau Voltaire, de Thierry Meyssan, editado em alguns idiomas, trás
informações sobre organizações da banca, como
o Instituto Montaigne e o Grupo Bilderberg.
Analisemos, inicialmente, a presença de Ana Brnabic.
As
“Primaveras Árabes”, o desmonte da Ucrânia, entre outras façanhas da
banca, foram, antes de ocorrerem, temas do Bilderberg. Estaria a Sérvia
neste caminho?
Andrey
Afanasyev, do Katehon, informa no site Dinâmica Global que Brnabic é
“funcionária de inúmeras ONGs americanas, apoiadora da legalização
dos chamados “casamentos entre pessoas do mesmo sexo” e uma lésbica
aberta”. É um caso da transversalidade onde a banca vem assumindo o
controle para alterar legislações, substituir governantes e assumir o
poder em Estados Nacionais.
Também
foi-me surpreendente o número de convidados turcos, cinco (superior aos
alemães, holandeses, franceses e idêntico aos donos da casa,
italianos), entre eles o vice premier Mehmet Simsek, dois empresários,
um acadêmico e um jornalista.
A
área do Oriente Médio, Ásia Menor, tem sido inquietante para os
Europeus, principalmente pela questão dos refugiados. E a banca teme o
estilhaçar
da União Europeia.
Temos
então temas que fogem às tradicionais investidas econômicas e políticas
da banca. Lembrar que na 65ª reunião, ano passado, a presença
notável foi a China. Uma questão nitidamente econômico-financeira.
A
transversalidade pode ser observada sob a ótica estritamente humanista,
onde inseriremos adiante o representante do Vaticano, e sob a questão
de emergências políticas.
Vamos
exemplificar. O Papa Francisco deve ver, nas levas de africanos,
árabes, palestinos, asiáticos que chegam a todo instante à Europa, a
busca pela vida mais segura, mais decente. Daí seu apoio e suas
palavras de recriminação às selvagerias do capital e das guerras, que
são, na verdade, uma só.
Logo o Vaticano, pelo seu Sumo Pontífice, defende os direitos de ir e vir dos emigrantes.
Mas
a banca os avalia de modo diferente. Eles irão quebrar uma
homogeneização nacional: francesa, alemã, austríaca, qual seja, e
enfraquecer
o sentido patriótico, nacionalista. Abre-se, então, a oportunidade de
eliminar as barreiras nacionais e facilitar o trânsito dos capitais; sem
carimbos, sem restrições tributárias.
A
brilhante escritora e perspicaz jornalista de Porto Alegre, Tania
Faillace, vem escrevendo que a questão do gênero tem sido um instrumento
da banca em dois sentidos: no de agitação política e no da redução
populacional; outro vital projeto da banca, pois seus dois mais
importantes inimigos são o crescimento demográfico e o nacionalismo.
Para
entender bem o significado do crescimento demográfico, é só lembrar a
concentração de renda, princípio básico da competitividade rentista,
financeira.
Temos
então a contradição que aponto no título; pode o Papa que tem se
notabilizado pela preocupação humana, com os pobres, os oprimidos,
aceitar
o convívio com o mais cruel, bélico e exterminador capitalismo
financeiro?
Agora, o televiciado global terá uma síntese dialética a resolver.
Não
cabe o simplismo da corrupção. Isto só serve para os políticos, não é
mesmo? Também não se aplicam as agressões bolsonarianas, ou o Papa
seria um arco íris disfarçado de banqueiro?
Falta
a consciência cidadã. A capacidade de resolver contradições da
existência humana no regime capitalista, o único que sobreviveu no
século
XXI. E não é tarefa para um artigo nem para avô, aposentado.
Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado