Sábado, 9 de junho de 2018
Do Blog Gama Livre
Por Taciano
Por Taciano
Havia
o Zé Prequeté de Itiúba, sertão querido da minha Bahia. Figura popular e quase
folclórica da amada aldeia encravada num vale da Serra da Itiúba. Espigadinho,
mas barrigudinho. Bigode de vassoura que parecia nunca ter visto um pente ou
escova. Um saudoso irmão meu observava que o bigode do Prequeté ganhava
do cultivado pelo ex-presidente Sarney. A diferença era só trato de um e do
outro. Melhor, a falta de trato do bigode itiubense.
Desfilava —o Zé Prequeté— pra cima e pra baixo com o seu
jeguinho, que era mais manso do que gato de bodega do interior. O nome do
jumentinho? Vocês não exijam isso de mim, pois já se passaram décadas, e a
memória nunca foi o meu forte.
As
vezes montado, mas quase sempre os dois lado a lado. Alguns maliciosos de
Itiúba chegavam a comentar que aquelas duas criaturas — Zé Prequeté e o
jumentinho— eram almas, se não gêmeas, irmãs.
E o
que tem a ver o Zé Prequeté da minha aldeia num vale entre serras de Itiúba e o Zé Prequeté de Brasília? É que uma das histórias vividas pelo Prequeté baiano, tem alguma
coisa que me fez observar num Prequeté do Planalto Central do Brasil. Um personagem
também espigadinho, uma barriguinha, e até mesmo um bigode. Pequeno, é verdade,
se comparado com o do Zé de Itiúba. Mas a inspiração, se é que é inspiração,
para afirmar que se existe o Zé Prequeté de Brasília, ele não tem nada a ver
com o espigadinho, com a barriguinha, com o bigode, muito menos com o
jumentinho mansinho.
A
história de um e do outro são semelhantes, pelo menos, numa faceta que é
marcante.
Vamos
adiante, então.
Foi
o meu querido e saudoso irmão Ivan que lembrou-me há alguns anos, e aos meus
outros dois irmãos, de uma passagem na vida do Zé Prequeté da Bahia.
O
nosso personagem itiubense viveu algumas décadas, talvez umas três, com sua
companheira. Não eram casados de papel passado, nem foram unidos perante o
padre da cidade, o padre José. Também nem um pastor evangélico celebrou a união.
Viviam juntos. Se Deus é quem casa, não havia a necessidade de comparecerem à
presença de um juiz de paz, padre ou pastor.
Viveram
juntos. Mas vocês já imaginaram o que era isso em décadas passadas? Para muitas
pessoas, o casal formado não passava “de duas pessoas amasiadas” (usado sempre num
linguajar pejorativo). E casais amasiados sofriam o preconceito e, também, a
estupidez da sociedade (se é que preconceito não seja estupidez). Lá onde vivia
Zé Prequeté, uma prática trazida de Portugal era na Semana Santa, acho que no Sábado
de Aleluia, ocorrer a estupidez do “Serra Velho”. Em que eram “serrados”
('zoados', inclusive com o arrastar de ossos na porta dos casais que viviam
amasiados). E Zé Prequeté e sua mulher foram algumas vezes vítimas de tais
“brincadeiras”. Já perceberam que normalmente quem humilha diz apenas que
estava brincando?
E a
companheira que viveu (assim ou assado) tantos anos “amasiada”, resolveu casar
de papel e de padre com o nosso personagem. Pra quê? Dizia que era para ‘limpar
o nome’ diante da sociedade itiubense. O
motivo —limpar o nome com o casamento— foi dito a minha mãe, a professora Lygia
Lemos de Carvalho, pela velha e simpática negra, neta de escravos, Maria de Benício. Maria, era quase vizinha, grande amiga e confidente da
companheira de Zé Prequeté.
Algum
tempo depois do casamento de papel passado entre Prequeté e sua companheira,
eis que a professora Lygia em visita à Maria de Benício, visitas que aconteciam
normalmente a cada semana, perguntou como estava a mulher recém casada.
Maria
de Benício não se fez de rogada. Lembrou que a amiga havia casado “pra limpar o
nome”. Minha mãe, que nunca deu muita bola para essas formalidades e convenções
de uma sociedade hipócrita, simplesmente mandou que transmitisse um abraço e
arrematou, 'que bom que ela se sinta bem'. Sabe qual foi a resposta disparada por
Maria de Benício?
—
Dizem que ela casou com o Zé Prequeté pra limpar o nome. E foi um BUSUNTO.
E eu
que conheci bem Maria de Benício, se ela falou que foi um ‘BUSUNTO’ é porque foi um ‘buSunto’ mesmo.
Alguém
que tenha resistido a este texto e enfrentado até este ponto, deve estar
pensando que “o Taciano pirou”. É possível, cada um de nós temos um nível de
loucura. Aliás, dizem que a loucura é o normal. O normal é que não é anormal.
Mas vamos lá, tentar amarrar a história do Zé Prequeté da minha aldeia, com o
Zé Prequeté desta cidade de Brasília, cidade que aprendi a também amar.
Há
uma moça aqui nessas terras do Planalto Central. Vamos chamá-la simplesmente de "população de Brasília”. Viveu alguns anos junto com um sujeito. Vamos chamá-lo
de Zé Prequeté. Os dois viveram coladinhos por alguns anos. A moça (população)
escolheu viver amasiada com Zé Prequeté. Para isso, o elegeu deputado distrital. A relação entre os dois foi evoluindo. E, logo depois, elegeu Zé Prequeté deputado federal. O relacionamento evoluiu ainda mais, e
essa ‘moça população de Brasília’ colocou o Zé Prequeté no Senado da República.
Como
o relacionamento aumentava, a “moça população” topou casar com o companheiro no Palácio do Buriti, no cargo de
governador. O Zé Prequeté do Cerrado topou o casamento, e junto com sua
companheira fizeram o casamento. Casamento de urna passada, e na presença de
juiz eleitoral.
E a
“moça população” que casou para limpar o nome, com tristeza responde quando lhe
perguntam como anda o casamento:
—
Meu amigo, vivi anos neste relacionamento com o Zé Prequeté do Cerrado. Resolvi
casar com ele para limpar o nome. Casei. MAS FOI UM BUSUNTO!!!
É...a "moça" tem total razão. Foi realmente um BUSUNTO.