Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sábado, 13 de outubro de 2018

Saúde e bem-estar. 41 Consumo de carnes

Sábado, 13 de outubro de 2018
Por
Aldemario Araujo


SAÚDE E BEM-ESTAR
50 textos (um a cada final de semana). Registros de uma caminhada em busca de saúde e bem-estar consistentes e duradouros. Veja todos os escritos em:

41 CONSUMO DE CARNES

O consumo dos vários tipos de carnes (bovina, suína, frangos e peixes) gera uma crescente discussão em perspectivas bem distintas. Em geral, o debate gira em torno dos seguintes pontos: a) bem-estar animal envolvido nas práticas de criação, transporte e abate; b) agressões ao meio ambiente; c) uso de antibióticos e outras substâncias e d) qualidade nutricional. 

Por outro lado, também cresce significativamente a quantidade de vegetarianos e veganos. Os vegetarianos não se alimentam de carne, mas consomem outros produtos de origem animal (leite e ovos, por exemplo). Os veganos não consomem nenhum produto de origem animal (carne, leite, ovos, derivados, etc). Normalmente, os veganos também não utilizam produtos que foram testados em animais (remédios, xampus, sabonetes, maquiagens e cosméticos em geral). 

A primeira grande questão envolvida no consumo de carnes possui um profundo viés moral. Seria eticamente aceitável (“correto”) recorrer aos corpos de seres (em especial os sencientes) como forma de alimentação humana? Considera-se “senciente” todo ser que pode sofrer fisicamente ou psiquicamente e possui um sistema nervoso e um cérebro desenvolvidos. A caracterização envolve: a) mamíferos (humanos ou não); b) pássaros; c) répteis; d) anfíbios e e) peixes. Registre-se que o forte e crescente movimento relacionado com a defesa dos animais chegou a desenvolver uma “Declaração de Direitos dos Seres Sencientes” (http://movimentoanimal.blogspot.com).

Logo depois da questão moral-filosófica anterior, aparece o problema do bem-estar animal relacionado com as práticas de criação, transporte e abate. Mesmo que se admita a utilização da carne de animais na alimentação humana, não seria exigível um tratamento que não gerasse dor e sofrimento ou reduzisse ao mínimo essas ocorrências? Nesse quesito, a moderna indústria de carnes animais está colocada em xeque, talvez xeque-mate. São crescentes os relatos dos procedimentos mais absurdos verificados nesta área. Os problemas envolvem, entre outros: a) padronização genética; b) confinamento e transporte em espaços reduzidíssimos; c) aceleração do crescimento por intermédio de substâncias químicas; d) contaminação por bactérias nocivas e fezes; e) elevada administração de antibióticos e f) consumo de rações inadequadas e geneticamente modificadas. 

Também devem ser considerados os enormes e deletérios efeitos sobre o meio ambiente produzidos pela criação industrial. Nesse aspecto, ganham especial relevo: a) a quantidade gigantesca de água consumida (cerca de 2.500 litros de água potável para produzir um quilo de carne bovina); b) a poluição decorrente dos dejetos produzidos; c) a produção de gases do efeito estufa e d) os desmatamentos (para a criação de pastagens). Importa registrar uma preocupação crescente com a relação entre a multidão de animais confinados (na casa das dezenas de bilhões) e os novos patógenos cada vez mais perigosos. 

Capítulo especial envolve a utilização de antibióticos, hormônios e outras substâncias químicas voltadas para acelerar o crescimento, combater doenças (até por antecipação) e obter certos resultados específicos (endurecer cascas de ovos ou melhorar a coloração de gemas, por exemplo). Essas práticas ensejam dois questionamentos instigantes. Os resíduos desses aditivos nas carnes são aceitáveis ou seguros para o consumo humano? Qual a velocidade do surgimento de bactérias resistentes ou super-resistentes? 

Por fim, temos um delicado debate acerca dos aspectos nutricionais relacionados com o consumo de carnes, sobretudo a bovina. Afastadas todas as questões anteriores, a carne animal deve integrar uma alimentação saudável? A resposta (ou as respostas) revela uma séria controvérsia (mais uma) no campo da nutrição. 

Nina Teicholz, no livro “Gordura sem medo”, afirma: “A conclusão a que este livro chega é que uma dieta com maior teor de gordura é, com quase toda certeza, mais saudável sob todos os aspectos do que uma dieta de baixo teor de gordura e alto teor de carboidratos. Uma ciência rigorosa dá apoio a essa afirmação (…) a única maneira de consumir gordura suficiente para a boa saúde consiste em ingerir as gorduras saturadas presentes nos alimentos de origem animal. Na prática, isso significa ingerir leite e laticínios não desnatados, ovos e carne – até carne gorda. Em suma: todos aqueles alimentos saborosos e proibidos aos quais renunciamos há tanto tempo. Esses alimentos são elementos necessários de uma dieta saudável. (…) Além disso, hoje sabemos que temos muitas outras razões para comer alimentos de origem animal, como carne vermelha, queijo, ovos e leite integral: sua densidade nutricional é particularmente alta, muito mais que a de frutas e hortaliças; eles contêm gorduras e proteínas na proporção que os seres humanos precisam; demonstrou-se que fornecem a melhor nutrição possível para o crescimento e a reprodução saudáveis; as gorduras saturadas são, além disso, os únicos alimentos que aumentam o índice de colesterol HDL, que como se demonstrou, é um indicador muito mais confiável do que o colesterol LDL no que se refere ao risco de ataque cardíaco. (...) É recomendável comer não só carnes magras, mas também a gordura da carne, pois ela fornece ao corpo a gordura de que ele precisa e também ajuda a compensar os perigos do excesso de proteínas, que, se não forem associadas a gorduras numa proporção suficiente, podem causar envenenamento por nitrogênio”. 

No livro “Cirurgia Verde”, o doutor Alberto Peribanez Gonzalez, sustenta posição diametralmente diversa. Ele afirma: “Ingerimos diariamente agentes inflamatórios pela dieta, a saber: carnes e proteínas animais, laticínios, amidos e açúcar. (…) CARNE E LATICÍNIOS: A BOMBA INFLAMATÓRIA. Proteínas de origem animal (carne e leite) causam resposta inflamatória e elevam os índices de PCR, que é a proteína C-reativa produzida pelo fígado e é um marcador específico de condições inflamatórias no corpo. Substituiu mesmo a homocisteína como marcador inflamatório./Estudos científicos de diabetes e doenças cardiovasculares mostram um aumento da PCR em razão direta do consumo de carnes e laticínios. Outros estudos opostos, isto é, de introdução de dietas vegetarianas, mostram exatamente o contrário, a redução de níveis de PCR./Cabe acrescentar que o marcador inflamatório PCR apresenta potente efeito lesivo da camada de células internas dos vasos sanguíneos, o endotélio, assim como a homocisteína. Manter uma dieta com elevado consumo de carne e laticínios é um evidente estimulador da inflamação que acompanha as doenças cardiovasculares e o diabetes”. 

No livro “Comer para não morrer”, o doutor Michael Greger destaca a conclusão do que ele identifica como o maior estudo sobre dieta e saúde da história (o NIH-AARP) por pesquisar cerca de 545 mil pessoas ao longo de uma década. Segundo Greger, os cientistas concluíram que “… o consumo de carne estava associado a um risco maior de morte por câncer, por doença cardíaca e, em geral, de morte prematura” e o editorial da publicação da Associação de Médicos dos Estados Unidos defendeu “uma grande redução na ingestão total de carne”. 

Parece prudente, para quem não é vegetariano ou vegano, reduzir o consumo de carne animal para níveis baixos. O doutor Ícaro Alves Alcântara recomenda: “30 – Carne Vermelha. Não coma diariamente. No máximo em dias alternados, na hora do almoço, período em que a acidez estomacal é mais favorável à digestão dela; a carne do gado comum, proveniente da criação e abate em larga escala, costuma vir com muitas toxinas (tanto produzidas pelo animal quanto advindas da sua alimentação e de aditivos que recebe) e até hormônios 'estranhos' ao organismo humano. Carne branca tem digestão melhor e, se você buscar boa procedência, pode ser ingerida, em geral, com bem maior frequência (buscando sempre diversidade de fontes)”. 

O doutor Uronal Zancan alerta para os malefícios decorrentes da fritura da carne, em especial o processo de desnaturação das proteínas. Segundo Zancan: “... quanto mais alta for a temperatura e mais chamuscada for a carne, maior será a produção de substâncias potencialmente cancerígenas (como as aminas heterocíclicas)” 

Costuma-se alertar os veganos e aqueles que adotam significativas restrições de consumo de produtos de origem animal para a verificação mais cuidadosa dos níveis de vitamina B12 (presente em maior intensidade justamente em carnes e alimentos de origem animal).