Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

Universidade viva: não à doença e à morte

Quinta, 10 de dezembro de 2020

Por

Professora Fátima Sousa*

Novamente o Ministério da Educação decide que as universidades devem retornar às atividades presenciais a partir de 1º de março de 2021, mesmo diante de todos os alertas sobre o aumento dos casos de covid-19 e a angústia de todos/as, afinal nem hospitais de campanha temos mais. Ora, mas como nossos locais de trabalho e aprendizado, sem estrutura alguma para o contexto de uma pandemia cuja contaminação é fácil e rápida, irão nos acolher em segurança?

Sabemos a resposta. Não estaremos seguros/as. Nossos/as estudantes se submeterão ao transporte público, a bebedouros e banheiros que mesmo sem pandemia são um verdadeiro problema devido à falta de limpeza adequada, estaremos reunidos/as em salas que mal nos cabem devido ao grande número de estudantes. Seria necessária uma revolução em um curtíssimo prazo para a volta das aulas em março. 

E teremos que escolher entre retornar às aulas ou ter o mínimo de saúde física e mental? Afinal, como mantermos o mínimo de segurança? Vejamos alguns caminhos que precisam ser trilhados. O primeiro deles é a readequação dos espaços, pois é impossível continuarmos com 40 a 50 alunos/as, praticamente amontoados/as nas salas, que não possuem sequer ventilação adequada. Diante desta realidade, em segundo lugar, será necessário redistribuir as turmas, as quais serão limitadas e causarão ainda mais problemas por causa do número de vagas.

Além disso, temos atividades coletivas e espaços utilizados por todos/as. Estes precisarão funcionar sob o esquema de rodízio, porém antes, necessita-se de planejamento. Aqui, incluem-se ainda aqueles locais que não estão diretamente relacionados às disciplinas. Por exemplo, quem cuidará dos “Amarelinhos” e sua devida higienização? Temos equipes e insumos suficientes para desinfecção de todos os espaços? E a reduzida frota de ônibus, que hoje acarrete a superlotação o metrô, meio essencial ao deslocamento de nossa comunidade, quem se responsabiliza?

Nossos/as técnicos/as administrativos/as e nós, professores/as, também precisaremos de equipamentos de proteção individual e de amparo para atendimento e testagem para todos/as. O Hospital Universitário de Brasília (HUB) será este ponto de apoio à nossa comunidade? Uma casa que já tem a responsabilidade, inclusive, de cuidar de outras doenças da população, para além da covid-19.

São inúmeras questões que nos levam a afirmar enfaticamente que nossas vidas, nosso bem maior, e nossa saúde física e mental, são mais importantes que atender mera burocracia de um desgoverno que não cuida de sua população e cada dia mais toma atitudes genocidas. Só voltaremos às atividades presenciais se tivermos garantia que nossas vidas serão preservadas com a vacina para todos/as. Resistiremos, pois a universidade é lugar de vida e não de morte.

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Fátima Sousa
Paraibana, 57 anos de vida, 40 anos dedicados a saúde e a gestão pública; 
Professora e pesquisadora da Universidade de Brasília;
Enfermeira Sanitarista, Doutora em Ciências da Saúde, Mestre em Ciências Sociais; 
Doutora Honoris Causa;
Implantou o ‘Saúde da Família’ no Brasil, depois do sucesso na Paraíba e em São Paulo capital; 
Implantou os Agentes Comunitários de Saúde;
Dirigiu a Faculdade de Saúde da UnB: 5 cursos avaliados com nota máxima;
Lutou pela criação do SUS na constituinte de 1988;
Premiada pela Organização Panamericana de Saúde, pelo Ministério da Saúde e pelo Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde.