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(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 26 de julho de 2021

O SISTEMA FEUDAL DO DF —Capítulo III da Série Feudalismo Distrital

Segunda, 26 de julho de 2021


O SISTEMA FEUDAL DO DF — Capítulo III da Série Feudalismo Distrital

Por Juan Ricthelly

A população segue afastada do processo de participação decisória de suas comunidades e territórios. Por quê? Por qual razão nenhum dos governadores levou essa questão adiante?

Porque é um sistema cômodo! Tanto para o Governador, quanto para os Deputados!

Chamamos esse sistema de Feudalismo Distrital, e lamentavelmente todos os governos que tivemos até hoje, se beneficiaram dele de alguma maneira, tendo em vista que tão poucos esforços foram feitos para garantir a participação da população no processo de escolha dos Administradores Regionais, e isso não é por acaso.

Quando um governador é eleito, normalmente precisa formar uma base para realizar o seu programa de governo, e isso não é de graça, além dos custos que a população paga para manter um deputado, o governador também precisa desembolsar alguma coisa para ter apoio, normalmente alguma secretaria, alguns cargos comissionados avulsos pela estrutura do GDF, ou na melhor das hipóteses, alguma Administração Regional.

E Administrações Regionais são moedas de troca diferenciadas, pois com ela, vem o território que ela envolve, a população que nele vive, a publicidade gratuita que obras realizadas pelo Executivo traz e a possibilidade de ter um escape para a execução de emendas parlamentares priorizadas sem a inconveniência de ter o recurso barrado por algum “coronel” local.

No Feudalismo Distrital, o Governador se converte numa figura equivalente ao suserano dos tempos medievais, e os deputados de sua base, em verdadeiros vassalos, que devem apoio incondicional ao governo, caso contrário podem sofrer retaliações, como a perda de seu feudo.

Com esse sistema, o governador tem uma base de apoio, e o deputado ganha uma base material para preparar a sua próxima eleição, oferecendo cargos comissionados na Administração Regional para seus apoiadores (vassalos do vassalo), se promovendo com qualquer coisa feita pelo Executivo na cidade e tendo as suas emendas priorizadas, já que a administração é sua, e a cidade se converte em seu curral eleitoral.

Isso possibilita por exemplo, que uma cidade como o Gama, em menos de dois anos de governo, já tenha tido 4 administradores regionais, sem a participação da comunidade, um número infeliz.

Entender como esse sistema funciona, facilita bastante compreender algumas decisões tomadas por alguns deputados, se você verifica um recuo aparentemente inexplicável de algum parlamentar, basta se perguntar: o que ele teria a perder, se não voltasse atrás?

Simples, a Administração Regional sob o seu comando e os cargos que possui na estrutura administrativa do GDF.

Fizemos um breve levantamento de quantas Administrações Regionais estão sob o comando de algum vassalo do Governador Ibaneis. Infelizmente está incompleto, mas é importante para termos uma ideia de como esse sistema se materializa:


ADMINISTRAÇÃO REGIONAL/DEPUTADO (Partido)

Gama (Daniel Donizet - PL)

Jardim Botânico (Daniel Donizet - PL)

Guará (Rodrigo Delmasso - Republicanos)

SIA (Rodrigo Delmasso - Republicanos)

Núcleo Bandeirante (Hermeto - MDB)

Candangolândia (Hermeto - MDB)

Samambaia (Rafael Prudente - MDB)

Estrutural (Rafael Prudente - MDB)

Itapoã (Flávia Arruda - PL)

Sobradinho II (Flávia Arruda - PL)

Varjão (Martins Machado - Republicanos)

Cruzeiro (Reginaldo Sardinha - Avante)

Águas Claras (Agaciel Maia - PL)

Ceilândia (Fernando Fernandes - PROS)

Planaltina (Claúdio Abrantes - PDT)

Sobradinho (João Cardoso - Avante)

Santa Maria (Jaqueline Silva - PTB)

Brazlândia (Iolando - PSC)

Riacho Fundo II (Valdelino Barcelos - PP)

Vicente Pires (Pr. Daniel Castro - Suplente)

Arniqueiras (Telma Rufino - Suplente)


A consequência principal dessa forma de fazer política é o afastamento da população do debate sobre a gestão de suas comunidades e territórios, e a conversão das Administrações Regionais em extensão de gabinetes parlamentares, com o propósito de servir aos interesses políticos do Deputado/Vassalo, e do Governador/Senhor Feudal, aumentando a sua base de apoio na CLDF, aprovando os seus projetos e impedindo que o Legislativo fiscalize as ações do Executivo, sendo o exemplo mais escancarado o sepultamento da CPI DA PANDEMIA.

Você sabe quem é o Administrador Regional da sua cidade? Sabe quem é o deputado que indica e decide isso? Você votou nele? Concorda com isso?

Confira aqui mesmo no Blog Gama Livre na semana que vem o próximo capítulo da série FEUDALISMO DISTRITAL.


LEIA:




PRÓXIMO CAPÍTULO:

IV – Uma Breve História da Administração Regional do Gama

*Juan Ricthelly  é advogado, ambientalista militante, coordenador do Gama Verde, músico, e inquieto filho e morador do Gama, DF.



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Obs.: Por ser um texto de opinião do autor, não necessariamente coincide com a posição deste Blog.