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(Millôr Fernandes)

terça-feira, 27 de julho de 2021

AMIGOS DE LONGA DATA. Líder de ato neonazista pró-Bolsonaro em 2011 organiza carreatas em apoio ao presidente em SP

Terça, 27 de julho de 2021

Eduardo Thomaz concedeu entrevista em ato com grupos neonazistas, em 2011; ele segue apoiando o presidente Jair Bolsonaro - Reprodução/TV Gazeta e Reprodução/Instagram


Eduardo Thomaz foi candidato a prefeito pelo PSL e ostenta relação com general Augusto Heleno, ministro-chefe do GSI

Paulo Motoryn
Brasil de Fato | Brasília (DF)

O militante de extrema-direita Eduardo Thomaz, um dos líderes de manifestação que reuniu grupos neonazistas em apoio ao então deputado federal Jair Bolsonaro, em 2011, na Avenida Paulista, em São Paulo, é um dos organizadores de carreatas e motociatas em favor do atual presidente da República.

Thomaz foi uma das figuras públicas da manifestação de rua ocorrida 10 anos atrás. Na ocasião, disse que o ato foi motivado por "solidariedade" a Bolsonaro, criticado por declarações homofóbicas feitas durante entrevista ao programa CQC, exibido pela TV Bandeirantes.


À época, o então deputado disse à cantora Preta Gil que não correria o risco de ver seus filhos apaixonados por uma negra porque teriam sido bem educados. Em reação, grupos neonazistas convocaram manifestação de apoio ao congressista no Museu de Arte de São Paulo (Masp).

Em entrevista à TV Gazeta durante a manifestação, Thomaz se identificou como integrante do grupo Ultra Defesa. "A gente está dando apoio ao deputado Bolsonaro porque ele representa a família brasileira. Nós temos direito de apoiar ele", afirmou.

Em seu site, o Ultra Defesa afirma que seus princípios fundamentais são “Deus, Brasil e Família”. Os integrantes do grupo também são adeptos da “Saudação Romana”, que é o ato de estender o braço para a frente com a palma da mão para baixo.

Também estiveram presentes no ato vários grupos neonazistas como o Kombat RAC. Alguns se identificavam com roupas, bandeiras e tatuagens alusivas ao nazismo. Grupos de esquerda apareceram no Masp para protestar contra os nazistas, e a Polícia Militar precisou fazer um cordão de isolamento para evitar o confronto.

Questionado sobre a manifestação, Bolsonaro afirmou que não poderia estar presente, mas apoiou o ato: “Fico feliz se o movimento for voltado contra as propostas que estão aí, de invadir as escolas de primeiro grau simulando o homossexualismo e preparando nossos jovens para a pedofilia”.

Um dos líderes da manifestação, Thomaz foi candidato a prefeito pelo PSL em Mairinque, na Grande São Paulo, nas eleições municipais de 2020. À época, Bolsonaro já não integrava mais o partido. Mesmo assim, sua campanha foi referenciada no presidente.

Nas redes sociais, Thomaz também se vangloria de ser um dos organizadores de carreatas e motociatas a favor do presidente. O militante também exibe fotografia com o ministro-chefe do Gabinete Segurança Institucional, o general Augusto Heleno.

O general Augusto Heleno, ministro-chefe do GSI, em fotografia ao lado de Eduardo Thomaz / Reprodução/Instagram

Relembre atos nazistas do governo Bolsonaro e de seus aliados

Em março deste ano, o Brasil de Fato mostrou momentos em que bolsonaristas mostraram a relação estreita que existe entre o governo brasileiro e o movimento fundado por Adolf Hitler, responsável pelo assassinato de seis milhões de judeus.

Filipe Martins

O assessor internacional da Presidência da República, Filipe Martins, apareceu na TV Senado, atrás do presidente da Casa, o senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), quando fez um gesto de “OK” com as mãos, mas com três dedos retos, em forma de W. O gesto é classificado pela Liga Antidifamação (ADL), entidade com sede nos Estados Unidos, que combate o antissemitismo, como forma de identificação entre supremacistas brancos.

Filipe Martins e o gesto que gerou revolta, por sua identificação com supremacistas brancos / Reprodução/TV Senado

Roberto Alvim

O caso mais emblemático, até então, era do ex-secretário especial de Cultura, Roberto Alvim, que em janeiro de 2020, copiou uma citação do ministro de propaganda da Alemanha nazista, Joseph Goebbels, em um discurso para as redes sociais, para divulgar o Prêmio Nacional das Artes.

Em um de seus discursos, Goebbels afirmou: “A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada”.


Na adaptação de Alvim, ficou assim: “A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada.”

Roberto Alvim copiou discurso de Gobbels / Foto: Reprodução

Paraquedistas

Em 17 de maio de 2020, ex-companheiros de armas de Bolsonaro, quando o presidente era paraquedista das Forças Armadas, foram até o Palácio do Planalto saudar o mandatário. Porém, no momento do cumprimento, estenderam o braço direito para o alto e gritaram “Bolsonaro somos nós”.

O episódio foi encarado por especialistas como uma alusão ao nazismo. Entre eles, Lilia Moritz Schwarcz, historiadora, doutora em antropologia e professora titular da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Em um artigo publicado na Revista Zum , ela faz a relação entre o gesto e o movimento alemão.

“Paraquedistas, vestidos com roupas militares, entoam uma variação de Heil Hitler a partir do grito de ‘Bolsonaro somos nós’, selando uma espécie de compromisso coletivo, na base do ‘nós comum’, em torno dos ideais do presidente. No caso, porém, o gesto não evoca um ritual religioso, mas reforça um compromisso bélico numa nação que não está em guerra. Nesse sentido, indica uma possível guerra no horizonte político, e sinaliza lealdade ao dirigente”, explicou Shwarcz.

Para especialistas, não há dúvida sobre a referência do gesto / Foto: Reprodução

Pai, filho e Allan dos Santos

Jair Bolsonaro e seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), protagonizaram um dos episódios. Em maio de 2020, o presidente tomou um copo de leite puro, durante uma transmissão ao vivo em seu perfil no Facebook.

Imediatamente, pesquisadores associaram o gesto a uma prática de movimentos neonazistas americanos, que passaram a tomar leite branco como símbolo da supremacia branca. Um dia depois, Eduardo Bolsonaro ironizou as críticas recebidas pelo pai e postou uma foto dos atores Lázaro Ramos e Thais Araújo bebendo leite puro. O blogueiro Allan dos Santos, linha auxiliar do bolsonarismo nas redes sociais, repetiu o gesto em uma transmissão ao vivo do seu canal.


“Nacionalistas brancos fazem manifestações bebendo leite para chamar a atenção para um traço genético conhecido por ser mais comum em pessoas brancas do que em outros – a capacidade de digerir lactose quando adultos. É uma tentativa racista para se embasar em ‘ciência’ para diferenciar e justificar a ‘raça branca’. Mas como já provado e explicado por toda ciência: não há evidência genética para apoiar qualquer ideologia racista. O que há é, na verdade, um governo tosco e motivado pelo ódio”, explicou o antropólogo David Nemer, na época.

“O extremismo do Bolsonarismo é tão tosco que eles apropriam tudo da Alt Right (extremistas brancos americanos) e com atraso – já que isso começou nos EUA em 2017”, ironizou.

Bolsonaro bebe leite branco e puro em sua live semanal / Foto: Reprodução

Sara Winter

Fiel apoiadora de Jair Bolsonaro, a militante Sara Geromini passou a usar o sobrenome “Winter” para homenagear Sarah Winter, uma mulher inglesa que se tornou espiã nazista e integrante da União Britânica de Fascistas.

Em suas casas, a Winter original ostentava a bandeira nazista e nunca foi punida pelos bárbaros crimes cometidos pelos nazistas, ao contrário de outros ingleses que se vincularam ao governo de Hitler.


Winter, a brasileira, organizou um grupo chamado “300 do Brasil”, que tinha como objetivo “combater a corrupção e a esquerda no mundo”. O grupo manteve, durante o mês de maio de 2020, um acampamento na Esplanada dos Ministérios. Nas marchas do movimento, eles carregavam tochas e se vestiam de branco. A estética se assemelhava à Ku Klux Klan (KKK), movimento de supremacistas brancos americanos.

Sara Winter e sua inspiração, a espiã nazista Sarah Winter / Foto: Reprodução

Edição: Rebeca Cavalcante