Segunda, 28 de março de 2022
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Bolsonaro exibe camiseta que remete às eleições presidenciais durante evento pago com dinheiro público - Reprodução/YouTube - TV Brasil
Presidente tem participado de eventos com forte teor político-eleitoral, com críticas a oponentes e material de campanha
Paulo Motoryn
Brasil de Fato | Brasília (DF) | 28 de Março de 2022
Nos últimos meses, o presidente Jair Bolsonaro (PL) participou de uma série de eventos com forte teor político-eleitoral. Os casos foram resgatados nas redes sociais depois da decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de proibir qualquer manifestação política no Lollapalooza.
Em reação à decisão judicial, diversos artistas que marcaram presença no terceiro e último dia do festival se posicionaram contra a censura. O alvo da maioria das manifestações foi o atual presidente, cujo partido entrou com o pedido de intervenção no sábado (26).
O Brasil de Fato reuniu momentos em que Bolsonaro fez atos eleitorais que foram ignorados pelo TSE. Entre eles, estão as motociatas organizadas com dinheiro público, a exibição de material de campanha e discursos de ataques a adversários do pleito de outubro.
1) Ato com Pazuello no Rio de Janeiro
Em maio do ano passado, em companhia do general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, Bolsonaro participou de um ato político no Rio de Janeiro em apoio a seu governo, com forte tom eleitoral. Durante o protesto, Pazuello e Bolsonaro não usaram máscara. A ação aconteceu logo após o ex-ministro ter participado da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid e ter pedido desculpas por não ter usado o equipamento de proteção em um shopping em Manaus.
O ato de Bolsonaro contou com milhares de motociclistas que passearam pelas ruas da Barra da Tijuca, bairro da zona Oeste do Rio onde o presidente mantém uma residência, no condomínio "Vivendas da Barra". A manifestação terminou com um ato político e aglomeração na orla da praia, onde apoiadores do presidente se reuniram para ouvir o mandatário e seus correligionários políticos, entre eles Pazuello e o deputado federal Hélio Lopes (PSL-RJ).
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Bolsonaro e Pazuello em trio elétrico no Rio de Janeiro (RJ) / Reprodução/Redes sociais
2) Magno Malta pedindo voto a Bolsonaro
Em fevereiro deste ano, o ex-senador Magno Malta (PL-ES) chegou a pedir votos para o presidente em um evento oficial da Presidência da República no Rio Grande do Norte. “Precisamos reconduzir esse homem ao poder, à reeleição. Depois dele, outro conservador e depois outro conservador”, disse, se referindo à tentativa de reeleição de Bolsonaro nas eleições de outubro.
A lei eleitoral proíbe declarar candidatura antes da hora e pedir voto de maneira explícita ou implícita. Além disso, o evento era oficial do governo federal, custeado com verba pública.
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Magno Malta e Bolsonaro: amigos de longa data em campanha eleitoral / Divulgação
3) Camiseta com escrito "Bolsonaro 2022"
Em outra viagem oficial da Presidência, desta vez ao Pará, o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, entregou para Bolsonaro duas camisas com as cores do Brasil, uma delas presenteada pela localidade de Quatro Bocas, no Pará, e outra, por "outro grupo", nas palavras de Guimarães, com os dizeres: "É melhor Jair se acostumando - Bolsonaro 2022".
Bolsonaro pegou as camisas e, sorridente, mostrou a peça à plateia. O lado exibido aos apoiadores era justamente o que tinha a inscrição "Bolsonaro 2022", em referência ao processo eleitoral de outubro.
4) Palanque na Avenida Paulista e em Brasília
Nas manifestações de 7 de setembro do ano passado, o presidente fez declarações num trio elétrico com tom crítico. Na capital federal, sem citar o Supremo Tribunal Federal, disse: "Não podemos aceitar mais prisões políticas no nosso Brasil. Ou o chefe desse poder enquadra o seu, ou esse poder vai sofrer aquilo que não queremos. Porque nós valorizamos, reconhecemos e sabemos o valor de cada Poder da República".
Na capital paulista, Bolsonaro foi ainda deselegante, xingou o ministro do Supremo Alexandre de Moraes de "canalha" e disse que não iria cumprir decisões judiciais: "Nós devemos sim, porque eu falo em nome de vocês. Determinar que todos os presos políticos sejam postos em liberdade. Digo a vocês que qualquer decisão do ministro Alexandre de Moraes esse presidente não mais cumprirá".
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Bolsonaro discursa em ato político na Esplanada dos Ministérios / Reprodução/YouTube
5) Motociatas com dinheiro público
Sem conexão com as atividades desempenhadas no cargo de presidente, as motociatas em apoio ao presidente são atos de forte teor eleitoral realizados desde o início da pandemia. Patrocinados com dinheiro público, já custaram praticamente R$ 5 milhões aos cofres públicos, segundo levantamento realizado pelo jornal Folha de S.Paulo a partir de mais de 50 pedidos via Lei de Acesso à Informação.
A soma leva em conta as despesas com o cartão de pagamento do governo federal, informadas pela Secretaria-Geral da Presidência, e os gastos assumidos pelos estados para garantir a segurança da população e da comitiva de Bolsonaro. A primeira motociata ocorreu em Brasília, no dia 9 de maio de 2021. Pelo menos outras 12 a sucederam em quase todas as regiões do país: Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Goiás, Minas Gerais, Pernambuco e Paraná.
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Bolsonaro durante motociata: atos de campanha com dinheiro público / Divulgação
6) Eventos de filiação e pré-campanha no PL em Brasília
Neste domingo (27), mesma data da censura imposta pelo TSE ao Lollapalooza, Bolsonaro participou de uma cerimônia de seu novo partido, o PL, em Brasília. O mote do ato teve que ser alterado para driblar a Justiça Eleitoral. Divulgado inicialmente como "lançamento da pré-campanha", a equipe do presidente passou a identificar o evento como "Movimento Filia Brasil", como se fosse um ato de filiação em massa à sigla.
No ano passado, contudo, o presidente já havia participado de uma cerimônia de filiação ao PL. Na ocasião, fez discurso eleitoral, atacou adversários e tratou diretamente da campanha. O evento ocorreu em horário de expediente em um dia de semana. Na trilha sonora, uma música atacava líderes da esquerda.
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Cerimônia em Brasília teve tom de campanha eleitoral na mesma data do Lollapalooza / Reprodução/Twitter
7) Outdoor pró-Bolsonaro e contra Lula liberado pela Justiça
O mesmo ministro do TSE que censurou o Lollapalooza, o juiz Raul Araújo, negou, há cerca de uma semana, uma representação do PT que pedia a retirada de outdoors em defesa de Bolsonaro e contra Lula no Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Bahia.
A sigla afirmou que os cartazes configuram propaganda eleitoral antecipada, proibida pela Corte eleitoral. As publicidades foram pagas por apoiadores de Bolsonaro na região. No despacho, Raul Araújo disse que o abuso de poder econômico não se enquadra na violação de propaganda antecipada.
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Outdoor com ataque a Lula foi liberado pelo Tribunal Superior Eleitoral / Divulgação
Edição: Vivian Virissimo
Fonte: Brasil de Fato