Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

terça-feira, 29 de março de 2022

INVESTIGAÇÃO —Padilha pede análise do TCU sobre ida de ex-diretor do DataSUS para Amazon, revelada pelo BdF

Terça, 29 de março de 2022

Ex-ministro da Saúde protocola pedido no Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União para análise do caso

Paulo Motoryn
Brasil de Fato | Brasília (DF) 28 de Março de 2022

Deputado do PT questiona ida de ex-diretor da DataSUS para Amazon; no governo, ele participou de migração de dados da rede pública de saúde para a empresa - Agência Câmara e Ministério da Saúde

O deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP) protocolou nesta segunda (28) um requerimento direcionado ao procurador Lucas Rocha Furtado, do Tribunal de Contas da União (TCU), para que investigue informações reveladas pelo Brasil de Fato sobre um possível conflito de interesses na política de dados do Ministério da Saúde durante o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL).

"As revelações trazidas pela matéria são gravíssimas e podem implicar possível conflito de interesses, ademais de desrespeito à quarentena para servidores públicos de cargo de alto escalão", escreveu o congressista, que é ex-ministro da Saúde (2011 a 2014). Leia a íntegra do documento assinado pelo petista.

Na última quinta-feira (24), o Brasil de Fato mostrou que o ex-diretor do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Data SUS) Jacson Barros, um dos responsáveis pela adoção do serviço de nuvem Amazon Web Services pelo Ministério da Saúde, assumiu um cargo na própria Amazon menos de um mês após deixar o governo Bolsonaro.


Na petição, Padilha também solicita que a Corte analise "o risco de que esse acesso aos dados de milhões de usuários do sistema público de saúde por empresa privada, sem a devida e pormenorizada segurança e transparência, representa para o país".

Governo ignorou estrutura pública de TI

Em agosto de 2020, o Brasil de Fato mostrou que o processo de licitação para contratar serviços de armazenamento de dados públicos em nuvem, no valor de R$ 245 milhões, era visto por profissionais da área de tecnologia como um risco à soberania brasileira.

O governo de Jair Bolsonaro defendeu a contratação de um serviço privado, afirmando que atende às necessidades de 140 órgãos e entidades, com o uso da nuvem representando economia na manutenção.

No entanto, trabalhadores da área de tecnologia pública afirmam que as expertises do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) e da Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência (Dataprev) não foram levadas em consideração.

Apagão dos dados

Em dezembro de 2021, um ataque cibernético derrubou o site do Ministério da Saúde e o aplicativo ConecteSUS, que fornece o Certificado Nacional de Vacinação Covid-19. Além dos dados sobre vacinação, a invasão afetou o sistema de notificação de casos da covid-19 e o e-SUS Notifica.


O ataque aos dados da Saúde ocorreu justamente na infraestrutura de nuvem privada contratada da empresa Primesys, uma subsidiária da Embratel, em 2018, pelo Ministério do Planejamento (hoje, incorporado ao Ministério da Economia).

Segundo informações da empresa, o acordo com o governo brasileiro não incluiu serviços de segurança, apenas de hospedagem.

Já o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência declarou que os problemas foram causados por “perfis legítimos de administrador”, o que sugere que os invasores obtiveram login e senha de servidores públicos. O ataque ainda está sob investigação.

Edição: Rodrigo Durão Coelho