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(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 9 de junho de 2016

A fuga do ministro e a ‘Carta de Fortaleza em defesa do SUS’; Ministro da Saúde do governo Temer exonera auditores signatários de carta

Quinta, 9 de junho de 2016
Do Blog do CEE Fiocruz — Centro de Estudos Estratégicos

A fuga do ministro e a ‘Carta de Fortaleza em defesa do SUS’

De costas para o ministro da Saúde: cartazes dizem “não ponham a mão no SUS”; a cada palavra de Ricardo Barros, uma onda de vaias e manifestações de repúdio (Foto: Adelante – Coletivo Saúde e Democracia)
Por Conceição Lemes (do Viomundo/Blog da Saúde)

De 1 a 4 de junho realiza-se em Fortaleza (CE) o XXXII Congresso Nacional do Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde do Brasil (Conasems). O tema central, claro, é o Sistema Único de Saúde (SUS). Participam mais de 4 mil gestores de todo país, além de trabalhadores da saúde.  O ministro interino da Saúde, o engenheiro e deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), compareceu à abertura oficial, mas não conseguiu falar. Logo na entrada, no saguão, foi recebido por manifestantes em defesa do SUS, que o chamaram de golpista. Ele passou correndo, de fininho, convocando de pronto os seguranças para conter o protesto (Veja o vídeo do lado direito).

Depois, no auditório, muitos participantes sentaram-se no chão, de costas viradas para a mesa de abertura, com Barros presente, enquanto outros, em pé, gritavam “Fora Temer!”. A cada menção ao nome do ministro ou referência às propostas de redução do SUS e congelamento dos recursos da saúde, ele recebia vaia. Foram centenas de vaias, que viraram milhares, inclusive de secretários municipais de Saúde, a ponto de ele desistir de falar.

Saiu sem dizer uma palavra, fugindo do rechaço generalizado da plateia que passou a entoar “Ministro bundão tem medo do povão”.

Carta de Fortaleza
Reunidos em Fortaleza desde terça-feira, os diretores do Departamento Nacional de Auditoria do SUS/Ministério da Saúde (Denasus) e os seus chefes nos estados protagonizaram um feito histórico.  Decidiram elaborar um documento inédito, corajoso. É a Carta de Fortaleza dos auditores em defesa do SUS.  “De antemão, são indispensáveis o fortalecimento do SUS e ampliação de recursos”, frisa o auditor Stenio Dias Pinto Rodrigues, do Denasus/RS. “E sendo uma das preocupações o combate à corrupção, tem de se fortalecer também o sistema nacional de auditoria do SUS e os demais órgãos de controle”.

Carta de Fortaleza já está sendo distribuída aos participantes do Congresso. Na prática, a carta aberta dos auditores do Denasus: vai na contramão das propostas do governo interino de Michel Temer (PMDB-SP), que visa ao desmonte do SUS e à crescente privatização da nossa saúde pública; salienta a defesa firme da manutenção dos vínculos orçamentários constitucionais; não se trata de uma atitude individual, mas de uma posição aberta de um Departamento do Ministério da Saúde. A Carta de Fortaleza é dirigida não só aos gestores e governos, mas também à sociedade.

Ela conclama a população brasileira a lutar contra as PECs (Proposta de Emenda à Constituição) 87/2015 e 451/2014, que estão no Congresso.  E a apoiar a PEC 01/2015. Leia a íntegra da carta e vai entender por quê. Espalhe nas redes sociais, no seu bairro, no seu local de emprego. Que ela ajude a incendiar a resistência aos ataques que o SUS está sofrendo. Muita luta será necessária para impedir retrocessos no SUS e na saúde da população.

O futuro da saúde pública brasileira depende de todos nós.

Carta de Fortaleza em defesa do SUS (íntegra)
A Direção do Departamento Nacional de Auditoria do SUS (DenaSUS/SGEP/MS) e os chefes dos Serviços e Divisões de Autidoria, unidades desconcentradas nos Estados presentes ao XXXII Congresso Nacional de Secretários Municipais de Saúde, realizado em Fortaleza (CE), respaldados na Constituição Federal, que define os princípios fundamentais, os direitos e garantias estabelecidos para a instituição do Estado Democrático de Direito, que garante a saúde como direito de todos e dever do Estado, mediante políticas sociais e econômicas de acesso universal e igualitário às ações e serviços para a promoção, proteção e recuperação da saúde, vêm por meio desta Carta Aberta rechaçar qualquer tentativa de desconstruir o Sistema Único de Saúde (SUS) conquistado pelo povo brasileiro com muita luta durante o processo de redemocratização.

Dessa forma conclamamos a sociedade brasileira a, conosco, posicionar-se contra a PEC 87/2015, a qual prevê além da prorrogação da ampliação da desvinculação de receitas da União (DRU), o que fatalmente agravará o subfinanciamento das ações de saúde pública comprometendo ainda mais o processo de descentralização do Sistema Único de Saúde sobrecarregando os já combalidos entes municipais. Posicionar-se contra a PEC 451/2014, um retrocesso que visa beneficiar o interesse privado, retirando o direito ao acesso igualitário e universal ao Sistema de Saúde, relegando grande parcela da população os mais necessitados, ao descaso e à penúria permanente.

Defendemos a garantia e a expansão do Financiamento do Sistema Único de Saúde com a concretização das propostas apresentadas pelo Movimento Saúde Mais Dez, que propõe o repasse efetivo e integral de 10% das receitas correntes brutas da União para a saúde pública brasileira, e a aprovação da PEC 01/2015, que dispõe sobre o valor mínimo a ser aplicado anualmente pela União em ações e serviços públicos de saúde.

Lutamos pelo fortalecimento das instâncias de controle interno da admiministração pública, do Sistema Nacional de Auditoria do SUS, que juntamente com o controle social exercem papel fundamental na consolidação do SUS como a maior política pública de inclusão social.

Fortaleza (CE), 1º de junho de 2016.
Reprodução

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Ministro da Saúde exonera auditores signatários de carta em defesa do SUS

Do site https://saude-popular.org

Por Conceição Lemes, do Viomundo
Reunidos em Fortaleza (CE), na semana passada, durante o XXXII Congresso do Conasems (Conselho Nacional dos Secretários Municipais de Saúde), os diretores do DENASUS (Departamento Nacional de Auditoria do SUS/Ministério da Saúde) e os seus chefes nos estados lançaram um documento histórico: A Carta de Fortaleza dos auditores em defesa do SUS (na íntegra, ao final).

Em retaliação, o ministro interino da Saúde, o engenheiro e deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), decidiu exonerar os signatários do documento.

Diário Oficial da União (DOU) desta segunda-feira 6 (aqui e aqui), já constam sete dirigentes do Denasus. O DOU de amanhã provavelmente trará mais nomes de demitidos.

denasus-exoneracao-3

O DENASUS é o departamento de auditoria de todo o Sistema Único de Saúde (SUS).

É a cabeça do controle de todas as ações da saúde pública, inclusive contra a corrupção.

Ao exonerar os dirigentes do DENASUS nos Estados, Ricardo Barros enfraquecerá o combate à corrupção na saúde.

A decisão absurda equivale à extinção da Controladoria Geral da União (CGU).

Aliás, foi graças ao trabalho conjunto da CGU e do DENASUS que, em 2006, estourou o Escândalo dos Sanguessugas, também conhecido como máfia das ambulâncias.

Também foi do DENASUS a ação que, em 2010, demonstrou que governos estaduais descumpriam a Emenda Constitucional nº 29, que garante financiamento da saúde.

Ou seja, eles não colocavam na saúde o piso estabelecido na Constituição.

Alguns Estados, como São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, e o Distrito Federal aplicavam no mercado financeiro os recursos enviados pelo governo federal para saúde. Em consequência, desassistindo ações vitais, como SAMU, Assistência Farmacêutica, Atenção Hospitalar, entre outras.

A atitude de Ricardo Barros revela clara tentativa de desarticular serviços de auditoria, controle e combate à corrupção.

Sinaliza também que o governo do “interino” Michel Temer visa desmontar o SUS e privatizar a saúde pública.