Segunda, 16 de outubro de 2017
Apresentadora e chef de cozinha natural comenta sobre os efeitos nocivos dos agrotóxicos.
Por Norma Odara-Brasil de Fato/Foto: Reprodução - e Portal ContextoExato
Nesta segunda-feira (16) se celebra o Dia Mundial da Alimentação
Saudável, que tem a finalidade de chamar a atenção da população mundial
para os problemas relacionados à fome e desnutrição, que assola cerca de
815 milhões de pessoas em todo o mundo, segundo dados das Organizações
das Nações Unidas (ONU).
Além disso, os movimentos populares do campo também aproveitam a data
para fazer o debate em torno do modelo de produção agrícola e denunciar o
alto consumo de agrotóxicos praticado pelo agronegócio. O Brasil, por
exemplo, é o campeão no uso de agrotóxicos na agricultura, ao utilizar
quase 900 mil toneladas na safra de 2015, de acordo com dados do
Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal
(Sindiveg).
Para debater essas questões, o Brasil de Fato conversou com a
culinarista e apresentadora Bela Gil. A importância da implementação da
agroecologia e da soberania da agricultura familiar foram os pontos que
permearam a entrevista.
A apresentadora e chef de cozinha também reiterou a necessidade de
incluir no prato da população brasileira alimentos livres de
agrotóxicos.
Preocupada com os efeitos nocivos dos agrotóxicos, Bela destaca a
Política Nacional de Redução de Agrotóxicos (PNaRa), que, entre outros
pontos, visa barrar diversas iniciativas defendida pelo "Pacote do
Veneno" proposto pela Bancada Ruralista no Congresso Nacional, que
pretende mudar o nome de "agrotóxicos" para "defensivo fitossanitário",
além de alterar a venda, rotulação e distribuição destes produtos.
Brasil de Fato: Dia 16 de outubro é comemorado o Dia da Alimentação
Saudável. Segundo dados do IBGE, o consumo nacional de ingredientes
ativos de agrotóxicos dobrou. Como você avalia isso?
Bela Gil: Eu acho que afeta deixando a gente doente, obesos, com
doenças crônicas. Eu acredito que essa forma como a gente produz comida
vem afetando a saúde da população, porque a gente parou de diversificar o
campo. A gente devasta e planta uma, duas ou três monoculturas e isso
acaba afetando o modo como a gente consome, como a gente come.
Com a chegada de Michel Temer no poder, temos visto diversas ofensivas da bancada ruralista no Congresso. Você concorda?
Isso não vem de hoje, isso vem de muito tempo. O Brasil é baseado numa
economia agrícola e o modo como a gente produz comida tem que mudar. A
gente não pode mais basear a nossa economia nisso, do jeito que está.
Então acho que não vem de hoje. Que eu me lembre não teve nenhum
presidente, nenhum representante para levantar a bandeira de uma
produção mais agroecológica, mais sustentável, com um impacto menor no
meio ambiente, na nossa saúde. Mas sempre frisando o poder da economia,
comemorando as toneladas de soja, que são exportadas e colhidas. Então
eu acho que é um problema mesmo cultural da política.
Como você enxerga a tentativa de ruralistas de alterarem a lei de agrotóxicos?
Eu acho que é a tentativa de sempre de poder controlar o que a
população vem consumindo. Envenenando o prato dos brasileiros, porque a
gente pode mudar. A questão é que não querem. Eu acho que é um absurdo,
uma vergonha pro Brasil a gente ter este tipo de representante na
bancada, querendo fazer com que a gente coma veneno.
Então fica uma conversa um pouco esquizofrênica de "Dia da Alimentação
saudável", fazer com que as pessoas comam melhor e tratar a obesidade,
etc, envenenando as pessoas, fazendo com que os produtos orgânicos
sejam, muitas vezes, menos acessíveis, mais difíceis de achar. Muitas
vezes mais caros. É bem complicado.
Você acha importante, então, apoiar o PNaRa, a Política Nacional de Redução de Agrotóxicos, proposta por movimentos populares?
Eu acho que esse é o caminho que a gente tem. A gente usa a nossa
força, nosso poder enquanto indivíduo para poder mudar. Enquanto nosso
governo não faz o seu papel, de proteger e levar uma comida segura para a
população, eu acho muito importante esses movimentos, todos os
movimentos que debatem as questões dos venenos e mostram para a
população com pesquisas, debates o porquê e como esses venenos estão nos
matando.
Quais seriam as saídas possíveis para que toda população pudesse comer comida saudável?
Eu acho que é mudando a forma como o campo produz. Eu acho que se a
gente começar a transformar as monoculturas em cultivos agroecológicos,
agroflorestais, diminuindo as propriedades, distribuindo melhor os
espaços de terra, fazendo com que o campo produza de uma maneira mais
justa, mais limpa, a gente consegue sim levar comida para a mesa de
todos os brasileiros.
O Brasil hoje é um grande produtor de alimentos, mas que não vai parar
no prato de quem precisa. Muitas vezes vai parar em outros países para
alimentar animais ou pra virar base de produtos ultraprocessados, mas
não necessariamente para virar comida na mesa do povo. Então eu vejo que
o caminho é agroecologia. É a forma mais harmônica e sustentável de se
produzir comida e vejo muito a agroecologia como essa resistência, como
eu até falei no post, da alimentação saudável e da comida de verdade.
Porque é a única forma que a gente tem pra colocar comida sem veneno no
prato de todo mundo.
Edição: Simone Freire
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