Quinta, 3 de dezembro de 2009
Por Ivan de Carvalho

Padilha explica que diante das coisas que estão saindo da Caixa de Pandora, o debate nas eleições ficará ainda mais centrado em quais são os dois projetos – do governo e da oposição – para o país. Uma polarização entre o que é o governo Lula, sua continuidade e seus instrumentos de combate à corrupção (?) e a comparação com governos anteriores. Creio que ele se referia apenas aos dois mandatos de FHC, pois se estendesse a comparação para os governos de Sarney e de Collor estaria atingindo dois diletos aliados e, se atacasse Itamar Franco, estaria dando murro em ponta de faca.
Bem, isso foi o que disse o ministro Padilha. Mas o que diz o presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, reconduzido há poucos dias à presidência de seu partido com o apoio do presidente da República?
Berzoini promete que o PT vai realizar uma campanha eleitoral de “alto nível”, como se combater corrupção – desde que esta exista, não seja apenas maledicência – baixasse o nível da campanha. Não baixa não. Se a corrupção existe e sobre ela silenciam os que têm o dever de levantar o tema, isso aí, sim, baixa o nível de uma campanha eleitoral, pois se estará varrendo o lixo para baixo do tapete, de modo a escondê-lo dos eleitores, que pagam a conta.
O presidente do PT anuncia que seu partido não vai “politizar” o caso do “Mensalão do DEM”, mas a mim isto não me sensibiliza, não me parece generosidade nenhuma. O DEM tem seu problema, por enquanto, pelo menos, restrito à sua seção do Distrito Federal. O PSDB tem o seu, restrito à campanha passada do senador, ex-governador e ex-presidente nacional do partido, Eduardo Azevedo. Mas é um caso restrito à seção de Minas Gerais. O Grande Mensalão, aquele que abalou o país, derrubou auxiliares presidenciais tão importantes quanto José Dirceu e José Gushiken e o presidente nacional do PT, José Genoíno, foi o do PT – “O maior espetáculo da Terra” quando se trata de Mensalão, sugiro que assim se considere.
Então, fica muito fácil entender porque o presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, promete que seu partido não vai politizar o “Mensalão do DEM” – se fizer isto, estará apenas dando o sinal para a oposição ir buscar o monstro da lagoa, talvez parente próximo daquele que até hoje ninguém viu inteiro e vive mergulhado nas profundezas do Lago Ness, possivelmente uma Caixa de Pandora mais assustadora e surpreendente do que essa que foi agora aberta no Distrito Federal.
O que não entendi bem foi a disposição do ministro Padilha de sugerir que o caso Arruda pode contribuir para polarizar as eleições com as comparações relacionadas com corrupção. A não ser que esteja ele, esperto, contando com uma amnésia geral do eleitorado, ressalvada apenas a memória de curto prazo – o que bem pode acontecer.
Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quinta-feira.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano