Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Eles riem de todos nós

Segunda, 7 de junho de 2010

Foram gravações de áudio e de cenas, milhões de reais do povo entrando em cuecas, maletas, bolsas, meias, divisão do botim, partilha daquilo que foi roubado do contribuinte, retirado das escolas e hospitais públicos, roubado da segurança e dos transportes do povo simples de Brasília. Teve até oração da propina para proteger o propinoduto e seus beneficiários.
É verdade que o governador do Demsalão passou na cadeia uns diazinhos, menos de dez por cento do tempo que passou a mãe de família que furtou um potinho de margarina num mercado. Também dois distritais, espertamente, renunciaram. Uma distrital está enrolada com um processo de cassação que ninguém sabe em que vai resultar. A bolsa é pesada, mas a consciência de alguns de seus colegas julgadores mais ainda.
Teve deputado na fita confessando que fraudou licitação de publicidade. Teve dirigente de Codhab precisando tirar o tufo de jornal velho de dentro da bolsa para que coubesse mais dinheiro da corrupção. Dono de jornal sujando mais ainda o dinheiro da corrupção, ao colocá-lo dentro da cueca.
Houve também secretário da confiança do governador organizando até sistema de pesos e recompensas de distritais, suplentes, autoridades. Houve deputado apresentando projeto de lei que beneficiou empresas de outro distrital. Um lixo. Também vimos empresários se queixando que pagar 30 por cento de propina à determinada autoridade não era uma coisa justa. Justa, para ele, seria alguma coisa em torno de 4 ou 5 por cento. E vimos isso na TV de nossas casas!
Vimos —e ouvimos— de tudo, ou quase tudo. E quase nada aconteceu. O governador que saiu cassado, mas tão somente por infidelidade partidária, está solto e conseguiu eleger o presidente da CLDF (Câmara Legislativa do Distrito Federal) que, inclusive, foi governador interino. Houve mudanças casuísticas no processo de escolha do governador-tampax.
Por fim, elegeu-se um governador que foi homem da estrita confiança do ex-governador Joaquim Roriz, exercendo inclusive o cargo de Administrador Regional do mais importante colégio eleitoral de Brasília —a cidade de Ceilândia. E também ocupou a presidência da Codeplan (Companhia de Desenvolvimento do Planalto), exatamente sucedendo a Durval Barbosa, o delator do Demsalão que tanto recebeu propina para repassar quando exercia ali a presididência da companhia.
A despeito dos esforços de Roberto Gurgel, procurador-geral da República, em tentar convencer o STF —Supremo Tribunal Federal— de que o único caminho a ser trilhado para recuperar a ética e a seriedade no Distrito Federal é a intervenção, aqueles que se beneficiaram do Demsalão ou que depois viabilizaram a eleição para governador daquele que é o resultado do cruzamento político de Roriz com Arruda riem do povo de Brasília.
Mas ainda há alguma esperança. Quem sabe, o presidente do STF não coloca logo em pauta o julgamento do pedido feito por Roberto Gurgel e isso levanta novamente a sociedade de Brasília? Não os segmentos da mídia, que dependem das graciosas verbas de publicidade; não o segmento empresarial que, no geral, se beneficia do dinheiro público; não o segmento dos atuais deputados distritais, que dependem de visibilidade para que possam se segurar na CLDF. O levante será daqueles que não estão atrelados à candidatura de A, B ou C. Será o levante da indignação por nada de significativo ter mudado até agora.
Veja a seguir como os Demsaleiros, e também outros políticos que não foram diretamente beneficiados com o esquema denunciado pela Operação Caixa de Pandora, devem estar rindo dessa situação toda.