Quarta, 23 de fevereiro de 2011
Por Ivan de Carvalho
Os protestos e rebeliões continuam ocorrendo em vários países do chamado Oriente Médio, quase todos árabes, mas em pelo menos um muçulmano não-árabe, o Irã dos ayatollahs e do simpático (para Lula) presidente-ditador Ahmadinejad.
No Bahrein, fortemente, na Argélia, levemente ainda na Jordânia e no Marrocos, depois da queda dos presidentes quase vitalícios da Tunísia e do Egito.
Mas o epicentro da crise, no momento, localiza-se na Líbia, onde o coronel Muammar Gadaffi enfrenta o risco de ter que ver finda sua longa “revolução” de 42 anos, uma ditadura que já foi confessadamente alinhada com o terrorismo internacional (explodindo aviões comerciais de passageiros, por exemplo) e agora volta a usar táticas de terror, desta vez contra sua própria população.
O coronel, uma personalidade que pouco falta (se alguma coisa realmente falta) para inserir-se no âmbito da loucura – mas não o suficiente para ser absolvido criminalmente sob a alegação de não estar de posse de suas faculdades mentais.
Gadaffi está, entre um bombardeio com aviões e a metralha a partir de helicópteros contra a população de Trípoli, a capital da Líbia – num desespero repressivo que já beira o genocídio e dá a medida da desintegração de quaisquer todos os elementos de sustentação de sua ditadura, salvo a força e a repressão brutal – retendo em território líbio muitos brasileiros que querem sair de lá ante a insegurança e a violência.
E onde está o governo brasileiro? Pediu autorização para um avião fretado pelo Itamaraty voar sobre território líbio e sobrevoar e aterrisar em aeroporto do país para apanhar os brasileiros. Até ontem à noite, segundo o ministro Antonio Patriota, não havia conseguido. Desde domingo a autorização para o avião é esperada e nada. Está tão complicada que o Itamaraty já está tentando a alternativa de conseguir navios italianos que aportem em Trípoli para retirar os brasileiros de lá.
Mas onde está Lula, o ex-presidente que é uma espécie de amigo-irmão do coronel Gadaffi? Conta-se que Lula se tornara tão amigo que entrava na tenda beduína – onde Gadaffi conversa, descansa e dorme sob forte escolta feminina – sem “bater” antes, sem se fazer anunciar. Lula não pediu ao “meu amigo, meu irmão e meu líder” o fim dos massacres, não pediu reformas, não pediu nada. Em dois encontros internacionais, Lula e Gadaffi tornaram-se assim como unha e carne. Se Lula ligar, Gadaffi, mesmo em meio ao azáfama das ordens para bombardear seus concidadãos-escravos, atenderá o telefone. E Lula poderá pedir para ele deixar sair os brasileiros do inferno criado pelo “amigo, irmão e líder”.
Mas não telefona. E não pede. Por que não pede?
Bem, esperemos que Lula acabe pedindo ou explique porque não pede e, enquanto isto, assinalemos aqui, só para não deixar passar batida uma mentira tão escandalosa, que o coronel Gadaffi afirmou que os manifestantes são jovens drogados e que dão dinheiro para que outros jovens usem pílulas alucinógenas e participem dos protestos. Ah, a revolução dos sacizeiros e assemelhados.
Parece que nessa história, se há um alucinado, é mesmo – como há décadas já se desconfiava seriamente – o coronel Gadaffi. Um alucinado que se beneficia de ter o controle total da comunicação social em seu país, inclusive bloqueando a Internet e interferindo, com equipamento potente e sofisticado, no sinal das emissoras de países vizinhos, como denunciou a Al Jazira. Para que possa mentir sem ser desmentido.
- - - - - - - - - - -
Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quarta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.