Segunda, 4 de abril de 2011
Por Ivan de Carvalho
1. Um é o Dragão da Inflação. O Plano Real, implantado a partir de 1º de julho de 1944, aplicou-lhe um potente sonífero, que conseguiu, sob o governo de Fernando Henrique Cardoso, apesar do monumental erro cometido na política cambial, superar várias crises econômicas internacionais, entre elas – para citar apenas as principais – a crise russa e a crise dos tigres asiáticos.
Durante o governo do PT a inflação permaneceu inerte, em sono profundo para os padrões históricos brasileiros, durante os sete primeiros anos da presidência de Luiz Inácio Lula da Silva. Mas uma nova e grave crise econômica internacional, desencadeada a partir dos Estados Unidos e que atingiu seriamente a Europa, veio somar-se ao ano eleitoral de 2010.
Primeiro veio a crise, que forçou aumento de gastos do governo e expansão do crédito ao consumidor com programas de estímulo à economia, à produção e geração de empregos, tudo combinado com renúncias fiscais com o objetivo de baixar preços para o consumidor.
Essa foi a parte boa das medidas financeiras adotadas pelo governo Lula – a parte voltada para transformar, aqui, o tsunami que devastava, e até certo ponto ainda devasta, os Estados Unidos e vários países europeus, em uma “marolinha”.
Em verdade, “marolinha” não foi, mas uma marola de bom tamanho, derrubando o Produto Interno Bruto para negativo (0,2 por cento abaixo de zero), o que, felizmente, não caracteriza um tsunami.
A parte ruim foi a política econômico-financeira para o ano eleitoral. Ela pode ser produzida numa só palavra, com sua conotação notoriamente negativa: gastança. Vale registrar, em algumas palavras, que a gastança não começou no ano eleitoral, ela vinha se impondo gradualmente com o inchaço da máquina estatal, principalmente no que diz respeito a despesas de pessoal (muita gente entrando, pela porta, pela janela, pelo basculante, pela chaminé, pelo buraco do rato, outro tanto doido para entrar) e despesas dispensáveis de custeio.
É claro que há despesas de custeio indispensáveis, mas, apesar disso, frequentemente dispensadas. É o caso de um posto de saúde ou hospital inaugurado e que funciona a meia capacidade ou nem funciona por falta de medicamentos, gaze, algodão, desinfetantes, material de limpeza, chapas de raio X, substâncias para contraste usadas em vários exames. Uma infinidade de coisas. Quanto às despesas de custeio dispensáveis, nem vou citar exemplos. Qualquer pessoa, servidor público ou não, conhece um monte delas.
Mas à gastança produzida pelo inchaço gradual, rápido e seguro da máquina estatal acrescentou-se, especialmente durante o ano de 2010, um evidente descontrole de gastos (gastar mais do que arrecada, apesar do aumento da arrecadação no ano passado e da previsão de mais aumento este ano) com notório objetivo político-eleitoral. Dilma Roussef não pode dizer, mas uma parte considerável do que passaram a ela foi herança maldita.
2. O outro monstro que dormitava e agora volta a ficar esperto com o “relatório final” da Polícia Federal, requerido pelo ministro do STF Joaquim Barbosa, relator do processo, é o Mensalão. “O Mensalão foi uma farsa. Vamos provar isso”, disse Lula há tempos. Agora a PF afiança que o Mensalão existiu, aconteceu no governo Lula, foi financiado com dinheiro público, beneficiou mais gente do que os 40 que estão sendo processados no STF e não se resumiu a “dinheiro não contabilizado (ilegal, portanto) para campanha eleitoral”, mas também à compra de apoio político e votos no Congresso Nacional.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.
Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.