Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

domingo, 1 de maio de 2011

Centrais avacalham o 1º de Maio

Domingo, 1 de maio de 2011
Data que é um símbolo das lutas dos trabalhadores, o 1º de Maio vem a cada ano que passa sendo mais avacalhada pelos sindicatos e pelas centrais de trabalhadores no Brasil. As manifestações do Dia do Trabalho passaram de atos de protesto, de reivindicações, a eventos musicais e de sorteios de casas e automóveis.

Tem central que hoje sorteará 20 carros. Parece mais uma central de sorteios que uma de trabalhadores. É o caso da Força Sindical, nascida como uma idéia do grupo de empresários incomodados com a atuação da CUT, e também por inspiração do governo Collor, cumpriu o seu papel de dividir o movimento dos trabalhadores. Hoje tem como sua mais forte aliada a própria CUT, central inspirada no sindicalismo americano, um sindicalismo que nada ou quase nada tem de ideológico. Elas —CUT e Força— só discordam em momentos muitos raros e de pouca importância.

É no 1º de Maio que essas duas centrais se dividem. Mas apenas no “promover” a festa. Uma vai para um lado, com seus sorteios de apartamentos e automóveis, e a outra para outras paragens, mas também com uma festa essencialmente musical. É como se estivesse tudo bem para os trabalhadores brasileiros.

Os gritos de guerra do “fora FMI” (Fundo que continua ditando as decisões ao nosso governo, como foi o caso da manutenção do famigerado superávit primário), e as lutas pelo controle das atividades dos bancos, pelo aumento salarial, pela auditoria das dívidas externa e interna, foram trocados pelas músicas sertanejas e pelo axé. E o pior, isso acontece com as duas maiores centrais de trabalhadores, a CUT e a Força Sindical.

Parece até que a dívida externa acabou, que não esteja beirando os R$380 bilhões de reais, e que a outra dívida, a interna, se encontre em limites razoáveis, e não marchando, como está, para os 2 trilhões e 500 bilhões de reais. Fazem de conta que ignoram que em 2011 já pagamos aos bancos e demais rentistas R$264 bilhões referentes aos encargos e rolagem da dívida, sangrando assim o Estado, e conseqüentemente todo o povo, pois é dinheiro tirado da saúde, da segurança, da educação, da previdência, da infra-estrutura.

Enquanto o governo paga em 2011 a insuportável quantia de R$264 bilhões de juros e da rolagem da dívida, aplica apenas R$600 milhões (milhões, apenas) em investimentos, isto é, em construções de estradas, portos, aeroportos, escolas, obras de saneamento, hospitais etc.

Para a CUT e a Força Sindical, e também para algumas outras centrais que são penduricalhos das duas primeiras, esses problemas não existem. Vale apenas a festa, o sertanejo, o axé.

As festas das principais centrais serão, conforme divulgado na imprensa, bancadas com dinheiro da contribuição sindical e pelo patrocínio de empresas estatais (Eletrobrás, Banco do Brasil, CEF, Petrobrás) e, pasmem! Por empresas como Carrefour, Pão de Açúcar, Casas Bahia, Brahma, e os bancos BMG, Itaú e Bradesco.

Financiadas por Bradesco, Itaú e BMG, não dá realmente para protestar contra as dívidas externa e interna. Nem fazer qualquer outro protesto mais sério.

Os artistas e o clima de colaboracionismo que estarão presentes nas festas da CUT e da Força Sindical só não estarão presentes no ato da Praça da Sé, na capital paulista. Neste local o ato do 1º de Maio será realizado pela esquerda, como a Conlutas, Intersindical, Psol, PSTU, PCB, MTST —Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto— Consulta Popular e Pastoral Operária. Os próprios organizadores desse ato esperam cerca de 10 mil pessoas.