Quinta, 5 de maio de 2011
Da "Auditoria Cidadã da Dívida"

O governo irlandês fechou recentemente um acordo com o FMI, para
pagar as questionáveis dívidas anteriores, decorrentes do salvamento de
bancos falidos e das altas taxas de juros. Esta iniciativa de auditoria
mostra que cresce a resistência dos trabalhadores europeus contra os
pacotes de cortes de gastos sociais e retirada de direitos. Conforme
comentado na semana passada por este boletim, na Islândia a maioria da
população votou contra o pagamento da dívida externa, em referendo
ocorrido no início de abril.
Já no Brasil, o Senado Federal aprovou hoje a Medida Provisória (MP)
513, que prevê a emissão de mais títulos da dívida interna para serem
entregues ao chamado “Fundo Soberano”, para que este Fundo compre ativos
no exterior, tais como dólares ou títulos do Tesouro dos EUA. Em suma:
mais uma vez, o país aumentará a sua dívida interna – que paga os juros
mais altos do mundo – para investir em papéis no exterior, que rendem
juros baixíssimos. Outro risco desta MP é permitir que o Fundo Soberano
adquira “papéis podres” de bancos falidos na crise global.
O Jornal Estado de São Paulo divulga o lançamento do projeto “Brasil
sem Miséria” pelo governo federal, que visa retirar da miséria 16,3
milhões de brasileiros que ganham até R$ 70 mensais. Porém, ainda não
foram anunciadas as medidas que serão implementadas para atingir este
objetivo, além de outros como a expansão de serviços públicos (como
educação) e inclusão produtiva.
Portanto, caso tais 16,3 milhões de brasileiros passarem a ganhar R$
71 por mês, a principal meta do governo Dilma estaria cumprida, o que
representa um objetivo bastante rebaixado, frente às potencialidades e
riquezas de um país como o Brasil, hoje transferidas aos rentistas por
meio da dívida pública.
Este efeito estatístico também pode ser observado no estudo divulgado
ontem pela Fundação Getúlio Vargas, segundo o qual o percentual de
pobres no Brasil caiu 50% de 2002 a 2010, conforme mostra outra
reportagem do jornal Estado de São Paulo. Porém, cabe comentar que, para
tanto, foi considerada uma linha de pobreza de R$ 151 mensais, ou seja,
quem ganha R$ 152 por mês já não é considerado pobre, embora não tenha
aumentado significativamente sua renda.
Desta forma, não é de se espantar que a renda média mensal recebida pelos trabalhadores brasileiros em 2009 (R$ 1.111) ainda estava abaixo da renda média apurada em 1995 (R$ 1.113), conforme mostra a PNAD/IBGE (pág 271).