Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Paridade para quê? Para reeleição? Viva o voto universal!

Segunda, 25 de julho de 2011
Do Miraculoso

Maestro Jorge Antunes*
A reportagem da revista Veja, achincalhando com a Universidade de Brasília e com o seu Reitor, é uma peça de “jornalismo do absurdo” que vai ficar na história. Concordo totalmente com aqueles que apontam o fato como sendo parte de uma ação bem arquitetada para obtenção de determinados fins inconfessáveis.

Alguns logo denunciaram que a matéria da Veja, agredindo a UnB e o Reitor José Geraldo, tinha características de uma matéria plantada para macular a imagem da instituição.

Muitos professores apaixonados pela UnB, como eu, correram aos teclados para escreverem notas de desagravo e protestos. A minha perplexidade foi tão grande, que me contive. Se pobre quando vê muita esmola desconfia, mais vividos quando vêm paroxismos de absurdo também desconfiam.

Alguns disseram que a reportagem interessa apenas àqueles que foram defenestrados da UnB pela ocupação da reitoria em 2008, quando surgiram evidências de falta de ética e de lisura na administração da Universidade.

Mas isso não é verdade. A reportagem interessa também ao grupo de poder em que o Reitor está inserido.

Maquiavel e seu famoso postulado de que “os fins justificam os meios”, ainda hoje são admirados por muitos detentores do poder.
Seria possível, num país governado pela tirania de golpistas militares, unir todo o povo aos milicos, sob a bandeira do patriotismo? Claro que sim. O general Leopoldo Galtieri, presidente da Argentina em 1982, encontrou a fórmula: a guerra das Malvinas.

O pensamento de Maquiavel, em O Príncipe, destaca a importância da guerra para com o desenvolvimento do espírito patriótico e nacionalista que vem a unir os cidadãos de um Estado.

Seria possível unir um ditador, toda a massa de estudantes, toda a intelectualidade, todo o povo brasileiro, para uma declaração de guerra? Claro que sim. Bastaria a identificação de um agressor externo. É por essa razão que muitos ainda acreditam que navios brasileiros foram afundados pelos norte-americanos, sendo colocada a culpa nos alemães, para o Brasil entrar na Segunda Guerra Mundial.

Vamos refletir um pouco. Sabe-se que alguns membros da comunidade universitária e lideranças que ocupam postos importantes da administração da UnB, tratam de colocar em pauta as festinhas dos estudantes, o consumo de drogas no câmpus e a denúncia de danos ao patrimônio.

Sabe-se também que existe um movimento nebuloso e sem cara, escondido nas trevas dos espaços noturnos, que faz tudo para esvaziar e frear o processo de realização da Estatuinte.

É sabido também que o continuísmo já começou a colocar as manguinhas de fora, com balões de ensaio que falam na reeleição de José Geraldo e sua companheirada.

Boa ideia, para ser dado início a uma estratégia bem arquitetada, seria, tal como preconizou Maquiavel, unir o povo, a situação e a oposição, os privilegiados e os não privilegiados, com a fabricação de um inimigo comum externo.

Claro. Para todos se unirem defendendo o Príncipe, nada melhor que a guerra, para que rapidamente se desenvolva o espírito patriótico, nacionalista e, no nosso caso, acadêmico.


*Jorge Antunes é pesquisador sênior do Departamento de Música da UNB, maestro, compositor, autor das Sinfônicas das Diretas, da Cantata dos Dez Povos, da Ópera Olga e da Ópera de Rua Auto do Pesadelo de Dom Bosco e escreve semanalmente para O Miraculoso.