Sexta, 29 de julho de 2011
Por
Ivan de Carvalho

Nos Estados Unidos, o povo está envenenado pela
alimentação fast-food, que surgiu com o objetivo de ser uma comida rápida, mas
atualmente já é por muitos degustada com toda a calma e em quantidades ilimitadas.
Daí que, por causa disto, da grande quantidade de refrigerantes que ingere
(frequentemente puxados pela alimentação fast-food), o norte-americano é o povo
mais obeso do planeta.
Nos EUA, a obesidade
tornou-se uma avassaladora epidemia, uma doença-mãe geradora de várias outras e
responsável pela queda na qualidade de vida de muita gente, grande parte desta
com alto padrão econômico. No Brasil, nós que sempre fomos afeitos a assimilar
culturas alheias, estamos no limiar de uma epidemia de obesidade semelhante à
americana.
Aderimos amplamente ao
fast-food e vale notar que as crianças e adolescentes lideram a marcha para
essa alimentação, os haburgers, chesburgers, hot-dogs e afins, complementados
pela contribuição italiana das pizzas, que leva a resultados parecidos, embora
não iguais.
Assim, do veneno que eles,
norte-americanos, comeram, estamos nós, brasileiros, cada vez mais comendo.
Como se isto não bastasse, estamos acrescentando ao veneno fast-food (vamos
chamá-lo assim, para simplificar) outro tipo de veneno que não é encontrado
apenas nessa espécie de alimentação, mas em muitas outras que, de outro modo,
poderiam ser consideradas saudáveis.
O Brasil tem menos de 200
milhões de habitantes. Estamos aí na casa dos 190 milhões. Os Estados Unidos
passaram dos 300 milhões, aproximam-se dos 310 milhões. E, na média, um
americano come mais, por dia, do que um brasileiro. É verdade que eles exportam
grande quantidade do alimento que produzem, mas também é verdade que nós,
brasileiros, também fazemos isso.
Dentro desta conjuntura, é
razoável que os americanos usem mais agrotóxicos (que a linguagem
comercialmente correta chamaria de defensivos agrícolas), em termos absolutos,
do que os brasileiros. E que o lucro desse comércio de agrotóxicos seja bem
maior lá do que aqui.
Mas parece que o nosso país
tem mania de grandeza. Quer ultrapassar o vizinho do norte. De acordo com
reportagem distribuída pela Agência Pulsar, “o Brasil deve ultrapassar os EUA
na arrecadação com vendas de defensivos agrícolas”. A estimativa é de que
haverá um crescimento de 10 por cento no mercado brasileiro de agrotóxicos, com
vendas no valor aproximado de R$ 12,4 bilhões.
Mas anotem. Segundo estudo
elaborado pela consultoria alemã Kleffmann, o consumo de agrotóxicos pelos
produtores americanos teve uma queda de seis por cento entre 2004 e 2009. No
Brasil, no mesmo período, houve um crescimento de 1,5 por cento. O que, feitas
as contas, dá uma diferença de 7,5 por cento a favor da saúde dos americanos. É
claro que nem todos os agrotóxicos, aqui ou nos EUA, são usados em lavouras de
comestíveis. No Brasil, por exemplo, o uso desses venenos se concentra muito na
soja, comestível, com 44 por cento, e no algodão, com 11 por cento (depois
podemos plantar feijão na terra envenenada onde esteve o algodão com
agrotóxicos).
Mas agora saímos do
território do erro para ingressar no da irresponsabilidade e no crime
consciente contra a saúde pública.
O Brasil é o principal destino de agrotóxicos
proibidos no exterior. De acordo com dados da ONU, diz a Agência Pulsar, pelo
menos dez variedades vendidas livremente aos agricultores brasileiros não são
mais usadas na Europa e nos Estados Unidos.
Mas isso não deve deixar ninguém surpreso. Todo
mundo que quis saber já sabe que o Bisfenol A é uma substância cancerígena. Ela
é usada, no Brasil, nas latas de refrigerantes e cervejas e nas garrafas
plásticas tipo pet. Em outros países, a exemplo dos Estados Unidos e dos países
europeus, já foi proibida. No Brasil continua permitida. Explicação
extremamente fajuta e inaceitável dessa incrível Anvisa (Agência Nacional de
Vigilância Sanitária): não podemos proibir sem mais aquela porque os acordos do
Mercosul nos impedem fazer isso sem que haja um consenso.
E fiquem de câncer os brasileiros à espera do
consenso que um dia virá para, talvez, curá-los.
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Este artigo foi publicado originalmente na
Tribuna da Bahia desta sexta-feira.