Domingo, 24 de julho de 2011
Por Heloísa
Helena*
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Quem vivencia as cidades brasileiras
- vivendo no sentido intenso da palavra, sem se acomodar apenas com sua vidinha
pessoal – conhece a importância das Bicicletas como modalidade de transporte
urbano, tanto do ponto de vista da sustentabilidade ambiental como diante da precariedade
dos transportes coletivos e da necessidade de redução no orçamento doméstico das
extorsivas tarifas. Milhões de trabalhadores pobres brasileiros saem das suas
casas nas madrugadas e alvoradas, com bicicletas velhas, sem equipamentos de
proteção pessoal, levando uma pequena quantidade de alimento para todo o dia de
trabalho exaustivo, sem técnicas de alongamento e submetidos a grandes distâncias
que ultrapassam os limites físicos, temerosos da violência cotidiana e angustiados
com a possibilidade – tantas vezes já visualizada – de acidentes, mutilações e
mortes no trânsito!

O debate sobre esse tema e todas as
alternativas propostas sobre o Sistema Cicloviário - como mecanismo de
apropriação democrática dos espaços de circulação urbana – infelizmente não
sensibiliza a muitos, pois não envolve um setor poderoso na rede de propinas e
crimes contra a administração pública - como o transporte coletivo e a
construção de rodovias – e nem envolve setores sociais de grande poderio político
e econômico. Embora o Código de Trânsito já disponibilize em vários artigos a
estruturação dos direitos e deveres desses usuários e não faltem propostas
concretas a serem viabilizadas pelo poder público na garantia de acesso seguro
aos principais pontos das cidades.
Pois bem... a bicicleta foi
inventada em 1790 (de madeira e impulsionada com os pés, embora 4 séculos antes
deste feito o Leonardo da Vinci já a tinha desenhado com pedais e correntes!),
em 1898 veio ao Brasil apenas para consumo e diversão dos riquíssimos Barões do
Café e apenas em 1948 começou a ser fabricada no país e se tornou popular. A
“magrela” ou “bike” como é carinhosamente chamada por muitos apaixonados em
nosso país – e largamente utilizada como meio eficiente de locomoção
especialmente na China e Holanda – pode ser uma excelente ferramenta de
mobilidade e acessibilidade eficaz e agregadora. Daí a importância de implementar
os projetos de circulação (ciclovias, ciclofaixas, circulação partilhada), de
sinalização (vertical, horizontal, semafórica), de estacionamento
(bicicletários, paraciclos), de campanhas educativas (para ciclistas, usuários
de outros veículos e pedestres) e da definição da área de abrangência (com a
definição de limites extremos - interesse, necessidade, limite físico) e
integração com outros meios de transporte equipados para tal. Além de
alternativas viáveis como linhas de crédito para população de baixa renda na
aquisição de bicicletas e equipamentos de proteção pessoal.
Em muitas cidades de Alagoas e aqui
em Maceió - nos bairros do Tabuleiro, Benedito Bentes, Clima Bom, Jacintinho,
Trapiche, Complexo Lagunar, etc – milhares de moradores de áreas vulneráveis
socialmente, trabalhadores na informalidade - buscando desesperadamente “bico”
para sustentar suas famílias com dignidade e resistindo com bravura ao mundo
das facilidades e violência do tráfico de drogas – ou na construção civil e em
outras áreas da economia local – às vezes até escondendo suas bicicletas para
não perderem o vale-transporte, se deslocam todos os dias usando bicicletas.
Exatamente por respeito profundo a esses trabalhadores, estamos em importante
etapa de pactuação – em Coordenação do
MP/AL (Dr. Max e Dra. Denise) – com organizações não-governamentais (Associação
dos Ciclistas e Bicicletada), Sindicatos de Trabalhadores e Patronal
(Construção Civil) e todas as Instituições Públicas diretamente responsáveis pelo
setor. Estamos confiantes que conseguiremos garantir a implementação do Plano
de Mobilidade Urbana com prioridade a formas de circulação coletivas, aos
pedestres (especialmente com deficiência ou restrição de mobilidade) e aos
ciclistas dentro do Sistema Viário.
Claro que muitos dirão que tudo isso
é impossível e vão se contentar com seus carrões nos “pegas” de vadios
filhinhos de papai ou sendo um ridículo machão brutamontes no trânsito... ou no
caso dos políticos ladrões e suas súcias nada disso importa pois as propinas
das ciclovias são pequenas se comparadas com as rodovias e confiam eles que os
trabalhadores pobres continuarão facilmente manipulados para que eles possam
continuar a reinar. Mas, “pra variar”, muitos de nós continuaremos lutando,
apresentando emendas ao Orçamento para garantia das ciclovias, fiscalizando e
exigindo que sejam encaminhados os Projetos (prerrogativa exclusiva do
Executivo) de Mobilidade... Além do óbvio em continuar de lupa na mão para
evitar a canalhice política no processo de licitação do transporte coletivo e
garantir as cláusulas sociais de proteção aos motoristas e cobradores dos
ônibus. Ufa! Como dizia a grande e maravilhosa alagoana Nise da
Silveira...”Para navegar contra a corrente são necessárias condições raras:
espírito de aventura, coragem, perseverança e paixão!”
Heloísa Helena é vereadora do PSOL em Maceió.
Twitter: @_heloisa_helena
Heloísa Helena é vereadora do PSOL em Maceió.