Domingo, 8 de janeiro de de 2012
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Aconteceu [ontem],
no Teatro Vila Velha [Salvador, Bahia], o III Festival Internacional CTE Capoeiragem [Centro de Treinamento e Estudos da Capoeiragem]. O
evento contou com a participação de mestres, contra-mestres, professores
e alunos de capoeira do Brasil e do exterior. Houve também
apresentações de maculelê, samba de roda, batizado de capoeira, troca de
graduação e formaturas.
Como
se trata de uma manifestação cultural, o Museu Vivo não poderia ficar
sem registrar um evento de suma importância para a cidade do Salvador.
Mestre
Balão é responsável pelo grupo há cerca de 13 anos. Ele disse que o CTE
(Centro de Treinamento de Estudos da Capoeiragem) é uma dissidência dos
quilombolas do Barro Vermelho. Existem núcleos espalhados em países
como: Estados Unidos, Bélgica, Austrália e Suíça. Em Salvador, o CTE treina na academia Speed que fica no bairro da Pituba.
"A nossa função não é apenas o treino da
Capoeira, mas também o estudo. É uma emoção muito grande saber da nossa
identidade como baiano e como brasileiro através da cultura
afrodescendente. A base do povo é a sua identidade, é o conhecimento do
individuo". - Mestre Balão
ENTREVISTA COM MESTRE VERMELHO
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Mestre Vermelho |
Museu Vivo -
O senhor é considerado um dos precursores desse movimento que incorpora
a capoeira fazendo uma mistura com a manifestação folclórica. Poderia
falar um pouco sobre isso?
Mestre Vermelho - Na verdade, tudo começou com Rosita Salgado
e com a professora Emília de Biancardi. Depois vieram muitos outros
grupos como o nosso, o Afonjá, o Bahia Total, depois o grupo Moenda -
durante 25 anos e após essa movimentação a capoeira espalhou-se pelo
mundo. Não por nós, mas porque ia acontecer. Aconteceu e hoje mais de
150 países tem capoeira da Bahia, do Rio de Janeiro, de Pernambuco e do
Brasil em geral.
Museu Vivo -
Até um tempo atrás havia preconceito em relação à capoeira. Hoje muitos
jovens têm procurado esse tipo de esporte. Como o senhor ver essa
mudança?
Mestre Vermelho -
Sabe-se que a capoeira vinda dos escravos e havendo um preconceito
contra eles, mesmo após a abolição da escravatura existe, ainda hoje,
uma certa dificuldade dos negros conseguirem o seu espaço. Com a
Capoeira não poderia ser de outra forma. Ela foi perseguida e houve o
tempo em que o capoeira era preso. As coisas começam a
mudar a partir do momento que Getúlio Vargas viu a capoeira e a achou
muito bonita. Ele resolveu transformá-la em esporte nacional. Ela passou
a ser apresentada nos salões, em palácios de governos,
em transatlânticos no porto, em eventos, congressos e hotéis. Hoje a
Capoeira não é feita apenas pelas classes populares do subúrbio, nas
esquinas de rua e nos quintais, mas é feita também nas academias. É
dinâmica e ainda irá evoluir mais, vai perder um pouco da tradição e
conseguir novos movimentos.
Museu Vivo - O senhor ensina Capoeira Regional ou Angola?
Mestre Vermelho - Eu sou daqueles que diz: capoeira é capoeira!
A regional é uma variante. Tem o mesmo valor, embora eu seja angoleiro.
Podemos dizer que são modos de jogar capoeira, mas são também duas
culturas. O angoleiro pensa um pouco diferente do regional. O regional
enfatiza mais como luta e o angoleiro o universo. O angoleiro é
angoleiro no modo de andar, ao dobrar a esquina e de se vestir, já o
regional é mais solto, é formado mais por estudantes. As duas são muito
importantes e se misturam. Daqui a um tempo vai se falar apenas CAPOEIRA.
EDVA BARRETTO

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Samba de roda |
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Maculelê |
Aguardem vídeos do evento!
Anderson Luis de Araújo Moreira
Museólogo - COREM 1R 0279-I