Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Sufoco em São Paulo


Sexta, 21 de setembro de 2012 
Por Ivan de Carvalho
A pesquisa Datafolha publicada ontem mantém Celso Russomano, do PRB, em isolada liderança na disputa pela prefeitura de São Paulo, e subindo de 32 para 35 por cento das intenções de voto. O máximo que ele já havia atingido durante a campanha, embora por outro instituto de sondagem de opinião pública, havia sido exatamente essa marca de 35 por cento, de onde descera para 32 por cento. Se tomarmos a liberdade de misturar institutos de pesquisa, poderíamos dizer que ele recuperou seu próprio recorde. Se não misturarmos, levando em conta apenas o Datafolha, podemos afirmar que ele simplesmente continuou crescendo.

Os analistas parecem haver chegado a uma estranha unanimidade – se nada ocorrer que promova um terremoto eleitoral na cidade de São Paulo, Russomano vai classificar-se para o segundo turno com votação bem acima do segundo colocado. E este segundo, também são unânimes os analistas, tanto pode ser o candidato do PSDB, José Serra, quanto o candidato do PT, Fernando Haddad.

Serra vinha caindo lenta, mas seguidamente, nas pesquisas eleitorais. Haddad vinha subindo, continuamente, ainda que também lentamente. E esperava o PT que ele agora desse um salto: a senadora petista e ex-prefeita Marta Suplicy, com reconhecido prestígio em certas áreas da cidade, afinal aceitou os desesperados apelos para ingressar na campanha eleitoral de Haddad, o poste que Lula decidiu por no cargo de prefeito da maior metrópole do país.

Assim é que Marta deixou a primeira vice-presidência do Senado, licenciou-se do mandato e ganhou o Ministério da Cultura, de onde foi delicadamente expurgada Ana de Holanda, irmã de Chico Buarque. E então entrou na campanha, tapando o nariz para um companheiro de coligação, o ex-governador e ex-prefeito Paulo Maluf.

Bem, passaram-se alguns dias sob a nova configuração, então foi feita a pesquisa e – e não deu certo, pelo menos até aqui. Haddad, que na pesquisa Datafolha anterior obtivera 17 por cento, oscilou dois pontos para baixo e agora tem 15 por cento. Isto significa que houve uma interrupção da sua curva de subida, acrescida de uma incômoda e – não há maldade em dizer – depressiva inflexão para baixo.

Já com o tucano José Serra aconteceu exatamente o contrário. Ele que vinha em descenso contínuo, interrompeu a curva de queda e, possivelmente só para esnobar o contendor petista, subiu um ponto percentual – dos 20 da pesquisa Datafolha anterior para 21 por cento das intenções de voto, agora. Claro que há sempre aquela história da margem de erro da pesquisa, mas, com a aproximação das eleições, o Datafolha ouviu 1.802 eleitores e a margem de erro é de apenas dois pontos percentuais. Como a diferença encontrada entre Serra e Haddad é agora de seis pontos (21 e 15, respectivamente), nem utilizando a margem de erro em suas possibilidades máximas se chega ao empate técnico.

A interrupção de crescimento e a leve ascensão de Serra não acenderam o sinal amarelo na campanha do PT. Este já estava aceso há muito tempo. Agora, acionados foram os sinais vermelhos e os alarmes sonoros. O corneteiro toca “avançar cavalaria” e é possível que uma porção de marqueteiros esteja gritando “pânico, pânico” pelos corredores do comitê central de campanha.

Se a eleição fosse hoje, o petista estaria fora do segundo turno. Há muito tempo, ganhando ou perdendo, o PT não fica fora do segundo turno numa eleição paulistana. Agora, sofre esta ameaça. E, pior, com o poste apresentado e apadrinhado por Lula, precisamente quanto o PT parece estar em má fase quanto às eleições em capitais de Estados e outras cidades importantes, tudo isto misturado com o julgamento do Mensalão e as novas peripécias de Marcos Valério. O PT, é o que se fala, deve reagir, com furiosos ataques contra José Serra e, com algumas cautelas, também contra Celso Russomano, que é do PRB, que é ligado à IURD, que controla a Rede Record.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta sexta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.