Terça, 4 de setembro de 2012
Por
Ivan de Carvalho

O
normal é que não fosse assim. Quando há uma grande diferença de intenções de
voto entre o líder das pesquisas e o segundo colocado – e evidentemente entre
aquele e os demais candidatos –, o que costuma ocorrer é que o líder busque ao
máximo reduzir, quando não pode evitar, as oportunidades de debate com qualquer
ou vários concorrentes.
Isso
tem explicação óbvia. O líder, quando aceita debater com vários concorrentes ao
mesmo tempo, torna-se o alvo comum dos ataques dos que estão abaixo e querem,
portanto, derrubá-lo da liderança ou impor-lhe perda de intenções de voto que
permita uma redução da diferença. A lógica aparente recomenda que o líder não
se exponha e essa lógica tem pautado o comportamento de muitos, no Brasil, em
eleições anteriores.
Ao
debater com apenas um dos concorrentes, como seria o caso se o convite do UOL
fosse aceito, o líder concede (esta é a palavra adequada) ao adversário igualdade
de condições na ocasião específica, uma igualdade que não existe, ao menos
naquele momento, na campanha eleitoral. Assim, proporciona uma vantagem ao
concorrente.
Mas
proporciona ainda uma segunda vantagem. É que as atenções do eleitorado e da sociedade
em geral tendem a estar mais voltadas, durante a campanha, para um candidato
que esteja na liderança das pesquisas com uma vantagem muito expressiva, o que
é, no momento, o caso de ACM Neto. Então o concorrente inferiorizado em
intenções de voto, ao ter um confronto diretamente com ele e só com ele, usa o
líder das pesquisas e, supostamente, portanto, também líder na preferência dos
eleitores, como uma alavanca para ganhar também as atenções do público e passar
a este suas mensagens de campanha, tentando ainda desconstruir as do líder.
Assim,
a sugestão da lógica aparente seria a de que ACM Neto buscasse evitar o “papo
frente a frente” no UOL e Pelegrino o aceitasse imediatamente. Não foi assim
que aconteceu, segundo o jornalista Fernando Rodrigues.
Considerando
que ambos os candidatos contam com atuação parlamentar destacada – Pelegrino,
com mais tempo de estrada, já foi líder do PT na Câmara dos Deputados e nesta
mesma Casa legislativa ACM Neto é líder do Democratas –, não dá para supor que
algum deles estivesse com medo de ter um desempenho inferior ao do concorrente.
Assim,
forçoso é concluir que somente ACM Neto tinha razões para, com as clássicas
desculpas de dificuldades de agenda, recusar o convite (o risco de servir de
alavanca para o adversário e eventual receio de se expor, quando está numa
posição confortável que até sugere a conveniência estritamente
político-eleitoral dele de evitar riscos desnecessários).
Mas
então acontece exatamente o contrário. Pelegrino é que não aceita (a não ser
que desminta o jornalista Fernando Rodrigues sobre o convite). Esta recusa não
tem nenhuma lógica aparente. Pode ser que tenha alguma lógica aparentemente
imperceptível. Um dia talvez alguém perceba. Ou o próprio candidato petista
resolva revelar sua complexa estratégia.
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Este artigo foi publicado
originalmente na Tribuna da Bahia desta terça.
Ivan de Carvalho é jornalista
baiano.