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(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 14 de março de 2014

Mensalão agora tem dois tipos de réus – os petistas, cada vez mais inocentados, e os demais, cada vez mais condenados

Sexta, 14 de março de 2014
Da Tribuna da Internet
 
Carlos Newton
O advogado Leonardo Yarochewsky, que defende Simone Vasconcelos no processo do mensalão, realmente tem razão ao questionar o Supremo por estar usando dois pesos e duas medidas no julgamento dos réus. Nota-se claramente que passou a haver dois tipos de condenados – os ligados ao PT e o resto.

As penas dos petistas estão sendo reduzidas progressivamente. Em breve (agosto), todos estarão livres, leves e soltos, e depois serão inocentados na fase de revisão criminal (já explicada aqui na Tribuna da Internet pelo jurista Jorge Béja. Podem até exigir indenização por terem cumprido pena “injustamente”, vejam a que ponto chegamos. Quanto ao outros réus…

Simone Vasconcelos, por exemplo, nunca foi destaque na passarela do Mensalódromo, digamos assim. Era diretora da agência de publicidade comandada por Marcos Valério. Apesar de atuar como “coadjuvante”, recebeu pena de atriz principal.


Foi condenada a 12 anos e 7 meses, dos quais 10 anos e 10 meses correspondem à parcela transitada em julgado e 1 ano e 9 meses, à parcela pendente de recurso. As condenações são por formação de quadrilha (1 ano e 8 meses; pena prescrita), corrupção ativa (4 anos e 2 meses), lavagem de dinheiro (5 anos; dos quais 1 ano pendente de recurso), evasão de divisas (3 anos e 5 meses, dos quais nove meses pendentes de recurso), com regime inicial de cumprimento fechado.

DESPROPORÇÃO EVIDENTE

Portanto, a pena total de Simone (12 anos, 7 meses e 20 dias pelos crimes de corrupção ativa, lavagem de dinheiro e evasão de divisas) é maior do que a soma das penas de José Dirceu (7 anos e 11 meses) e José Genoíno (4 anos e 8 meses), sendo que o ex-chefe da Casa Civil inicialmente foi chamado, acusado e condenado como “chefe da quadrilha”. Portanto, essa dosimetria das penas trouxe uma desproporção evidente, acintosa e injusta.

“Das duas uma, ou o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu não comandou nada, não era o chefe de nada e, também nada articulou, e, portanto, deveria ser absolvido; ou o STF cometeu uma grande injustiça ao condenar aquela que reconhecidamente estava num terceiro escalão e em cumprimento de ordem, portanto, em posição periférica, a uma pena desta magnitude”, desabafou o advogado Leonardo Yarochewsky, que defende a funcionária de Marcos Valério.

O publicitário Cristiano Paz, para citar apenas mais um exemplo, foi condenado a pena de 23 anos, 8 meses e 20 dias, pena superior as de José Dirceu, Delúbio Soares e José Genoíno, somadas. Isso é compreensível? É aceitável? Que Justiça é essa?

O PT JÁ OS CONDENOU

Como lembrou o articulista gaúcho Percival Puggina, em oportuna intervenção aqui na Tribuna da Internet, se houve injustiças, malgrado todas as evidências, foram cometidas em primeiríssima mão pelo PT.

Foi o PT que afastou José Dirceu da chefia da Casa Civil em 2005. Foi o PT que tirou José Genoino da presidência do partido. Foi o PT que exigiu de Delúbio Soares o seu desligamento da legenda e, quando ele se recusou a fazê-lo, expulsou-o em ato do Diretório Nacional. Como tenho afirmado em outras oportunidades, o PT de 2005 sabia coisas que em 2013/14 esqueceu. O PT de 2005 tinha (tinha?) princípios que o PT de 2013/14 não mais leva em conta” afirmou Puggina, fazendo uma colocação verdadeiramente irrespondível. Afinal, foi o PT que primeiro condenou os réus do mensalão.

Quanto à Justiça brasileira, é tão podre quanto os outros poderes. E o cheio exalado pelo Supremo está putrefato, pestilento e nauseabundo.