Do Blog Náufrago da Utopia
Por Celso Lungaretti
Um artigo imperdível é o do grande físico José Goldemberg, O fim da 'era do petróleo'? (vide íntegra aqui), publicado nesta 2ª feira (16) n'O Estado de S. Paulo.
Baseado em dados da revista Foreign Affairs, ele sustenta 
que o motivo da atual queda dos preços do petróleo "é uma mudança 
estrutural na economia dos Estados Unidos e de países industrializados, 
cujo consumo caiu de 50,1 milhões de barris de petróleo por dia em 2005 
para 45,5 milhões em 2013", tendência surgida "antes da crise da 
economia de 2008 e muito antes do aumento da produção de gás e óleo de 
xisto nos Estados Unidos".
Tais mudanças estruturais, segundo ele, têm duas componentes:
- pelo lado da produção, a eficiência na extração do petróleo, que está aumentando, de modo que pequenos produtores estão produzindo mais e os países importando menos. O aumento da produção de gás também leva à redução do uso de petróleo;
- pelo lado do consumo, automóveis mais eficientes e automóveis elétricos e híbridos reduzem o consumo de gasolina ou diesel. Além disso, a eficiência energética em geral leva à redução do consumo de energia de todos os tipos.
Daí suas conclusões: 
"Por sua própria natureza, as energias renováveis e a aplicação crescente de medidas de eficiência energética são descentralizadas - como é a produção de gás e óleo de xisto em pequenos poços - e não se prestam à formação de cartéis, que só funcionam quando são poucos os produtores. Por essas razões, a queda dos preços do petróleo - se for permanente - indica que os custos menores de energia abrirão caminho para um futuro energético mais diversificado, o que será salutar para todos.
Durante décadas cientistas se digladiaram com análises e teorias contraditórias: ou as reservas de petróleo se esgotariam rapidamente (em 20 ou 30 anos) ou durariam muito mais (de 50 a 100 anos). Paradoxalmente, a controvérsia parece estar se resolvendo de uma forma inesperada: não são as reservas de petróleo que se vão esgotar, mas o seu consumo é que vai cair, deixando muito petróleo no solo. Novas opções serão as fontes de energia dominantes no futuro".
Resta sabermos se o ritmo da mudança estrutural na matriz energética 
será suficiente para evitar que as alterações climáticas atinjam um 
ponto de não-retorno -o maior risco enfrentado pela humanidade desde o 
fim da guerra fria.
Particularmente, acredito que não. Minha esperança é de que, quando 
começarem a pipocar as grandes catástrofes decorrentes do aquecimento 
global, a ficha finalmente caia para os cidadãos e governos, 
acordando-os de sua letargia atual e fazendo com que comecem a tomar as 
medidas drásticas que se fazem necessárias para garantirem a existência de um século 22.
E, para a Petrobrás, eis outra má notícia: tudo indica que o pré-sal 
venha a ser mais um sonho de uma noite de verão, como muitos que os 
brasileiros já acalentaram em suas quimeras de que o progresso caia do 
céu para alçá-los instantaneamente ao patamar de 1º mundo.
Goldemberg alerta que a exploração de petróleo a grandes profundidades 
se tornou inviável pelo custo (aproximadamente US$ 50 o barril) e 
desnecessária em função da abundância da oferta. Persistindo o quadro 
atual, o investimento não compensa. Caso se confirmem as tendências por 
ele apontadas, menos ainda.
Então, ao invés de tentar convencer os brasileiros de que está em curso 
uma monumental conspiração para entregar as riquezas brasileiras aos 
gringos, o PT melhor faria se começasse a refletir sobre como o governo 
deve redimensionar a Petrobrás em função da nova realidade que já 
estamos vivendo.

 
 
 
