Segunda, 16 de março de 2015
Mariana Tokarnia - Repórter da Agência Brasil
Escreve-se Lava-jato ou lava jato? Hora extra ou hora-extra?
O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa passa a ser obrigatório no ano que vem, mas, para a Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB), ainda deixa dúvidas na grafia de palavras como
essas, que ainda não constam no dicionário da língua portuguesa. Para buscar
maior clareza, a OAB decidiu conversar com representantes do governo e da
Academia Brasileira de Letras (ABL) para propor mudanças nas regras do acordo.
A reunião de hoje (16) foi no Itamaraty e amanhã (17) haverá
discussão com membros da ABL. A intenção é que, até setembro, sejam
consolidadas mudanças para eliminar as brechas na grafia de determinadas
palavras. "O acordo ainda não está claro. Queremos fazer algo mais
lógico. A língua não é feita para intelectuais. O povo tem que saber grafar.
Perde-se muito tempo sendo alfabetizado", diz o especialista em
língua portuguesa e representante da OAB para Assuntos sobre Nova Ortografia,
professor Carlos André Nunes.
No Itamaraty, Nunes reuniu-se com o secretário Jorge
Tavares, do Departamento do Itamaray para Promoção da Língua Portuguesa. A
OAB pediu uma cadeira na comissão nacional que acompanha o Tratado
Internacional do Acordo Ortográfico. Para tanto, deve se reunir ainda com
representantes do Ministério da Educação e novamente com o pessoal do
Itamaraty. Uma reunião com a comissão deverá ser marcada, "o mais breve
possível", para discussão técnica de possíveis mudanças.
Uma das principais questões em debate é o uso do hífen. A
tão escrita Lava Jato, que dá nome à operação da Polícia Federal que investiga
desvio de recursos na Petrobras, entra no rol das palavras duvidosas.
"A imprensa grafa de todas as maneiras, com e sem hífen. O acordo não
está claro. Quando duas palavras se juntam e dão origem a outra palavra,
tem hífen. Mas, segundo a academia, quando perde-se a noção de composição e não
se sabe a origem da palavra, como é o caso, não se usa o hífen",
explica Nunes.
Há dúvidas também em palavras usadas no meio jurídico, como
hora extra, que pode ser usada com hífen, caso se entenda que é um termo
único, ou sem ele, quando se entende o termo como uma hora extraordinária. No
último caso, extra é característica da hora.
Outras dúvidas surgem no uso das letras maiúsculas ou
minúsculas, como no caso de país. A OAB vai sugerir que a palavra seja
grafada com a letra maiúscula quando se referir a um termo já citado. Por
exemplo, se um texto mencionar Brasil e logo em seguida país, escreve-se
País. A OAB também não está satisfeita com a eliminação do trema, que,
segundo a entidade, é fundamental para definir a pronúncia de determinadas
palavras.
Segundo Nunes, a questão passa a ser competência da OAB na
medida em que consta da Constituição Federal, devendo, portanto, ser
protegida pela entidade.
O acordo que visa à padronização das regras ortográficas foi
assinado em 1990 com outros países da Comunidade de Países de Língua Portuguesa
(CPLP). No Brasil, o acordo foi ratificado em setembro de 2008 e as novas
regras já estão em uso, embora em caráter não obrigatório, desde 1º de janeiro
de 2009. Caso as sugestões sejam aceitas, serão levadas aos demais países
que integram o acordo: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique,
Portugal e São Tomé e Príncipe.
A OAB solicitou audiências também com o Senado e a Casa
Civil da Presidência da República, e espera que haja posicionamento de ambos
quanto ao agendamento até o final desta semana.