Quinta,
11 de junho de 2015
Do
MPDF
Começou nessa quarta-feira, 10/6, e vai até sexta-feira,
12/6, o simpósio A Concepção Modernista de Brasília e a Perspectiva da
Mobilidade Urbana, promovido pela Promotoria de Justiça de Defesa da Ordem
Urbanística (Prourb). O evento busca contribuir com o debate sobre a
elaboração, a implementação e a fiscalização da política de mobilidade urbana
no DF. A vice-procuradora-geral de Justiça, Selma Sauerbronn, ressaltou a
urgência e a relevância do tema. "Espero que a gente saia com algumas
proposições que venham a melhorar a vida de todos. Mobilidade também é questão
de saúde, cultura e educação", completou.
A primeira palestra, Mobilidade e Saúde, foi ministrada pelo
médico e professor da Universidade de São Paulo (USP) Paulo Saldiva, que
enxerga as cidades como um ecossistema humano, onde vivem habitantes que não
têm um sistema de proteção. Para ele, a cidade é importante, pois é onde nasce
a história da civilização, entretanto também é um fator de adoecimento.
"Estamos mais perto de resolver os problemas de saúde do que os de
mobilidade", comentou. Para o médico, Brasília foi criada com a crença de
que o transporte individual daria certo e a ciência resolveria todos os
problemas atuais.
"Cada vez mais perdemos tempo nos corredores de
tráfego, o que aumenta as chances de câncer de pulmão, infarto do miocárdio e
morte precoce por problema respiratório ao nascer. A poluição do ar pode trazer
todos os problemas que fumar traz, com a diferença que o cigarro é uma questão
de escolha, e a poluição é inescapável", disse. Além disso, o médico
lembrou dos problemas ocasionados pela poluição sonora e o sedentarismo,
consequências do sistema atual de transporte
Para o palestrante, a solução da mobilidade urbana não será
consensual. Sempre haverá grupos que se sentirão afetados, pois há interesses,
fatores culturais e econômicos. "Existe um boicote deliberado ao
transporte coletivo. O indivíduo tem que querer mudar de transporte porque é
melhor, mais rápido, mais barato. Brasília tem que dar o exemplo para o resto
do país, ela tem um valor simbólico por ser a capital do Brasil", opinou.
"Qualidade de vida deveria ser o elemento integrador de todas as políticas
urbanas. Esse é um desafio para a saúde e para a mobilidade. Acredito que a
Justiça vai ter um papel importante nesse trabalho", finalizou.
Mateus Lima é formado em economia e teve como tema de
trabalho de conclusão de curso a mobilidade urbana, por isso se interessou pelo
simpósio. Ele faz parte de movimentos ligados a bicicleta e pretende fazer
mestrado na área. "Essa primeira palestra foi muito esclarecedora. Achei
legal que o palestrante deu um aspecto geral com enfoque na saúde. Ele abordou
algumas coisas que no fundo já sabemos, mas como é uma pessoa da área falando
você entende o porquê".
Periferização, uso de trilhos e
perspectivas
A primeira manhã do simpósio foi aberta com a palestra A
Capital Modernista, sua Metrópole e a Mobilidade Urbana, proferida pelo
geógrafo Aldo Paviani, diretor de Estudos Urbanos e Ambientais da Companhia de
Planejamento do DF (Codeplan). O pesquisador apresentou dados sobre a
mobilidade no Distrito Federal e na periferia metropolitana. O Plano Piloto tem
8% da população e concentra 43% dos postos de trabalho. A periferia
metropolitana, por outro lado, oferece 55% das oportunidades de trabalho. Essa
concentração tem impactos diretos nas necessidades de deslocamento da
população. "O grande erro da periferização foi, em 1957, transferir os
operários para Taguatinga sem oferecer oportunidades de trabalho",
afirmou.
O secretário de Mobilidade do DF, Carlos Henrique Tomé,
apresentou o panorama atual e as perspectivas da mobilidade urbana em Brasília.
"Não há solução para o problema da mobilidade que aposte no transporte
individual", defendeu. Segundo Tomé, há desafios financeiros, operacionais
e institucionais para a melhoria do transporte coletivo no DF, mas algumas
soluções podem ser alcançadas no curto prazo. "Muitas necessidades podem
ser atendidas com soluções criativas, sem necessidade de dispender mais recursos",
acredita.
Para Marcelo Dourado, diretor-presidente do Metrô-DF, o
Brasil está na contramão da história da mobilidade. "Em países mais
desenvolvidos, a opção preferencial é o modal ferroviário", comentou.
"O metrô é capaz de levar 1.400 pessoas de uma só vez. Um ônibus não leva
mais que 60. Está claro que não há solução para a mobilidade urbana no Brasil
sem o uso de trilhos". Entre os projetos da companhia, estão o lançamento
de editais para a expansão e a modernização do metrô, além de ligações com
cidades de Goiás por meio de trens semiurbanos e da implantação de veículos
leves sobre trilho (VLTs).
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