Quinta, 2 de junho de 2016
Operador de Bené relata acerto de contrato do Planalto para quitar dívida
Por Filipe Coutinho e Talita Fernandes - Revista Época ////Blog do Sombra
O
empresário Bené, operador do PT preso pela PF, relata ação de assessor
da presidente para direcionar contrato milionário de publicidade da
Presidência, em 2015, para quitar dívida da petista com a agência Pepper
O empresário Benedito Oliveira Neto, o Bené, investigado na operação
Acrônimo da Polícia Federal, disse em sua delação premiada que o
ex-chefe de gabinete da presidente Dilma Rousseff usou um contrato do
Palácio do Planalto em 2015 para quitar dívidas da campanha presidencial
de 2010. ...
Essa é a primeira vez que a Polícia Federal obtém evidências de que o
Planalto comandado por Dilma desviou dinheiro público da Presidência da
República para quitar caixa dois de campanha. Segundo Bené, a operação,
coordenada no gabinete presidencial, transcorreu entre 2014 e 2015, em
meio às investigações da Lava Jato e da própria Acrônimo. ÉPOCA teve
acesso a parte dos depoimentos de Bené prestados à Polícia Federal em
sua delação, que serão usados para a abertura de novos inquéritos. Bené
está preso pela PF e é acusado de ser o principal operador de Fernando
Pimentel, ex-ministro de Dilma e atual governador de Minas.
Segundo o empresário, Gilles de Azevedo, assessor mais próximo de
Dilma, atuou para que o Planalto pagasse dívidas da campanha com a
agência de comunicação Pepper, responsável pelo pleito de Dilma em
2010.
Bené contou aos investigadores que o governador de Minas confidenciou a
ele que a Pepper vinha pressionando, desde 2014, para que fossem
saldadas dívidas de campanha. Foi então que Gilles de Azevedo trouxe uma
solução, segundo Bené _ e a solução foi pagar com dinheiro do Planalto.
Para isso, de acordo com a delação premiada, Gilles atuou para que a
secretaria de comunicação da presidência da República pagasse a dívida,
por meio de um contrato com a agência Click. A licitação, de fato, foi
feita e o contrato de R$ 44,7 milhões foi oficializado em apenas em
março de 2015. Ou seja, segundo relato de Bené, Giles antecipou a
formalização de um contrato da Presidência que só ocorreria meses
depois. Segundo o portal da transparência, a agência já embolsou R$ 17
milhões desde então. Além desse contrato com o Planalto, a empresa
mantinha apenas um nanico com a Embratur. Perguntado sobre o anexo da
delação referente ao acordo da Pepper com o Planalto, que cita a
campanha presidencial, Bené disse em depoimento: “QUE FERNANDO PIMENTEL
relatou ao colaborador que GILES AZEVEDO se propôs a atender ao pedido
de DANIELLE (PEPPER) a partir de contratação da agência CLICK em 2015,
na qual a PEPPER teria uma participação”, disse Bené em sua delação.
DELAÇÃO PREMIADA
Operador de Bené relata acerto de contrato do Planalto para quitar dívida
Segundo o delator, esse relato partiu de Fernando Pimentel, numa
reunião ocorrida em 2014 entre o atual governador de Minas e Gilles, num
apartamento na quadra 114 sul, em Brasília. “Em uma oportunidade no ano
de 2014, FERNANDO PIMENTEL chamou o colaborador para um encontro no
apartamento localizado na 114 sul, quando relatou que tivera um encontro
que acabara de acontecer com GILES AZEVEDO sobre cobranças que ambos
vinham recebendo de DANIELLE (PEPPER)". De acordo com Bené, a
contratação de agência Click seria uma maneira de “não expor as partes
(governo e Pepper)”.
Bené, contudo, disse que não atuou no caso e, por isso, não poderia
informar sobre pagamentos ou irregularidades no contrato. Segundo ÉPOCA
apurou, haverá um inquérito para investigar a suspeita levantada por
Bené.
MAIS DINHEIRO PARA O PT EM 2014
A delação de Bené acusa também o PT de arrecadar propina como doação
eleitoral na campanha de 2014. Esse valor foi inclusive destinado ao
diretório nacional do partido. Naquele momento, vale registrar, a
operação Lava Jato já estava na rua. O empresário afirma que Pimentel
cobrou R$ 5 milhões em propina do grupo JHSF. O valor foi usado, de
acordo o delator, como compensação pelo lobby que Pimentel fez para que o
grupo pudesse operar no aeroporto Catarina, em São Roque. Para isso,
segundo Bené, Pimentel tentaria viabilizar financiamento do BNDES, a
autorização da Secretaria de Aviação Civil e que os Correios passassem a
usar o aeroporto. Segundo Bené, apenas a autorização saiu.
O delator afirma que, de início, foi discutido colocar Fernando
Pimentel como sócio oculto do aeroporto. Depois, acharam mais prático
simplesmente cobrar R$ 5 milhões. A propina, segundo o delator, foi
acertada no apartamento de Fernando Pimentel, em Brasília. Bené dá
detalhes. Antes do encontro, ele foi informado por Pimentel que deveria
cobrar R$ 5 milhões. Na reunião, não foi tratado de dinheiro _ apenas
falaram das demandas da empresa. Foi então que Bené acompanhou os
empresários até a saída do prédio e informou o valor da propina com José
Auriemo Neto, apelidado de Zeco, e um executivo chamado Humberto. “Ao
final desse encontro, O colaborador acompanhou ZECO e HUMBERTO até a
saída do edifício da residência de FERNANDO PIMENTEL, oportunidade em
que o colaborador informou aos empresários a solicitação de 5 (cinco)
milhões de reais, o que foi aceito por eles”.
Em nota, o advogado de Pimentel, Eugênio Pacelli, desqualifica a
delação de Bené. "É preciso lembrar que a delação por si só não é
elemento de prova e a divulgação de parte de seu suposto conteúdo, ainda
na fase do primeiro depoimento, além de ilegal, o que pode invalidá-la,
não tem outro sentido senão o de influenciar a opinião pública e
promover a antecipação da condenação do investigado", diz.
ÉPOCA questionou ainda Giles de Azevedo, mas não obteve resposta até a
publicação do texto. A Pepper afirmou que não comentará em função do
sigilo imposto pela Justiça ao caso. A agência Click afirma que nunca
repassou dinheiro à Pepper. "A Isobar Brasil (nome atual da AgênciaClick
Isobar) informa que nunca teve e não mantém qualquer relação comercial
com a empresa alvo de apuração da reportagem da revista Época. A Isobar
reitera que, sendo uma das agências de comunicação que presta serviços à
Secom (Secretaria de Comunicação), cumpre rigorosamente as cláusulas
previstas pelo contrato com o Governo Federal".
A JHSF afirmou que recebeu "com surpresa a notícia de que foi
mencionada em delação premiada" de Bené. A empresa afirma que "não
cometeu qualquer ilícito, tendo feito apenas contribuições na forma da
lei".