Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sábado, 28 de janeiro de 2017

O que a esquerda deveria dizer as suas ovelhas negras, segundo Dalto Rosado: 'Fora tudo, fora todos!'

Sábado, 28 de janeiro de 2017
Do Blogue Náufrago da Utopia
Por Dalton Rosado

O facciosismo como critério negativo da crítica 

"Às pessoas facciosas, depois de admoestá-las severamente, evita-as, pois, senão, também serás corrompido" (Bíblia, Livro de Tito)

Nestes dias nos quais se escancaram as provas da promiscuidade do todo o segmento político (só estão de fora os que ainda não tiveram força de acesso ao poder ou de interferência nele, mas logo, logo caminharão para tal comportamento, à medida que dele se aproximarem) com o empresariado, expressos pela grande mídia na cobertura da decretação da prisão do bilionário Eike Batista, nós podemos aferir quão facciosas e inconsequentes são as defesas dos corruptos de um lado e de outro.

A Globonews se apressa em demonstrar enfaticamente que os jatinhos do empresário Eike Batista serviram aos governantes petistas e seus aliados, omitindo o fato de que dito empresário, como sói acontecer, também servia aos políticos mais conservadores. Nisto não há nenhuma novidade.


O capital costuma corromper a todos os que exercem o poder político, o qual funciona como sua submissa linha reguladora auxiliar. Desta onda não escapa ninguém: os poucos que não se corrompem, perdem o jogo e são dele expulsos como um vírus estranho ao organismo.

Aécio Neves, outro amigo desde criancinha do Eike Batista

Por seu turno, constato que os companheiros da esquerda, ao contestarem tal facciosismo midiático, verdadeiramente inaceitável, fazem-no no sentido de isentar de culpa os governantes que pertencem ao seu campo político.  

Aos revolucionários, que não compactuam com a promiscuidade, seja ela praticada por companheiros ou pelos corruptos históricos (os insensíveis, prepotentes e intolerantes governantes da direita), cabe adenúncia de todos os corruptos, indistintamente; e o apoio àqueles que, movidos por sentimento de neutralidade jurídica (difícil de ser mantida numa sociedade na qual predomina o poder do capital), norteiam a sua atuação jurisdicional para o combate à corrupção, provenha ela do agrupamento político que provier..

A eterna cantilena de que os membros do poder judiciário que combatem a corrupção estão a serviço das forças da direta ou do capital estrangeiro é inconsistente, ainda que eles estejam enquadrados por uma ordem jurídica opressora na sua essência. Mas nós precisamos distinguir as coisas, sob pena de condenarmos as boas ações, ainda que paliativas ou ingênuas.


O combate, por parte do Judiciário, da corrupção derivada de práticas promíscuas do poder publico com o empresariado privado, equivale a enxugar gelo, na medida em que a grande corrupção sistêmica (aquela que subtrai do trabalhador parte do seu tempo de trabalho, não remunerando-o, via extração de mais-valia) é oficialmente permitida.

Mas, isto não significa que a corrupção considerada oficialmente como criminosa não deva ser denunciada e combatida, com a punição de quem quer que a pratique, qualquer que seja o campo político do corrupto, e quaisquer que sejam as suas intenções. É o mínimo que se deve fazer.

Admitir que a corrupção possa ser consentida desde que praticada por companheiros, supostamente servindo para alavancar boas causas, significa permitir o uso continuado de um mesmo cachimbo, acreditando que ele não vá entortar a boca. Tal concepção corresponde a um equívoco moral e a uma ética hipócrita, deturpada e facciosa, amoralista em sua essência.

O empresário Eike Batista construiu a sua meteórica fortuna a partir de maracutaias com o poder, praticadas em todos os níveis deste mesmo poder e em conluio com as siglas partidárias, tudo na base do é dando que se recebe.



A corrupção associada ao poder público sempre envolve esferas diferenciadas de controle; de tão variada, não pode ser atribuída apenas a uma ou outra corrente política. Trata-se de um agir entranhado na ordem institucional sistêmica, no qual todos os agentes públicos dirigentes e privados saem ganhando e a imensa maioria do povo, que é quem paga os impostos, sai sempre perdendo.
      
À esquerda seria indispensável que abandonasse a defesa de seus pares corruptos, readquirindo credibilidade para combater os seus adversários ideológicos igualmente corruptos.

Aos revolucionários somente cabe uma frase, cada vez mais necessária: FORA TUDO, FORA TODOS! (*)

(por Dalton Rosado)


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* "Fora tudo, fora todos!" é o refrão da música Coquetel molotov, de autoria de Dalton Rosado, que você pode escutar aqui..

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