Sexta, 1º de dezembro de 2017
Da Tribuna da Internet
Carlos Newton
Charge do Samuca (Diário de Pernambuco)
Como dizia Vinicius de Moraes no genial “Soneto da Separação”, de
repente, não mais que de repente a grande mídia começou a noticiar a
pretensão do presidente Michel Temer se candidatar à reeleição, conforme
há vários meses vínhamos informando aqui na “Tribuna da Internet”, com
absoluta exclusividade. O motivo desta aventura eleitoral, como todos
sabem, é a desesperada necessidade de Temer manter o foro privilegiado.
Mas a candidatura à reeleição não é a única iniciativa destinada a
manter Temer a salvo da Justiça. Uma das alternativas é preservar o
foro privilegiado através da criação do chamado regime
semiparlamentarista, arquitetado pelo ministro Gilmar Mendes
exclusivamente para atender as necessidades de Temer, nada tem a ver
com o interesse nacional.
“MEIO GRÁVIDA” – Não existe nada igual no mundo,
ninguém sabe ao certo o que significa o semiparlamentarismo, que seria
mais ou menos como considerar uma mulher como “meio grávida”. A única
coisa que se sabe, com certeza, é que se trata de uma saída para Temer
não ser processado.
Além da semimudança do regime, o Planalto também se esforça para
ampliar o foro privilegiado. Quer modificar a emenda de Álvaro Dias,
aprovada por unanimidade no Senado e que restringe o foro privilegiado
ao presidente e vice-presidente da República e aos presidentes de
Câmara, Senado e Supremo. Uma das pretensões de Temer é estender o foro
aos ex-presidentes da República – ele, Lula, Dilma, FHC e Sarney.
Mas esta alternativa só serve para Temer, deixando no sereno os
ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco, pois a emenda Alvaro Dias
acaba com todos os foros especiais que hoje beneficiam cerca de 50 mil
autoridades. Portanto, o Planalto acha que o ideal seria simplesmente
arquivar a proposta do senador paranaense. Mas isso não acontecerá.
E O SUPREMO? – Os planos de Temer e do Planalto, que
têm apoio entusiástico da bancada da corrupção, amplamente majoritária
na Câmara, esbarram em dois obstáculos – a pressão da opinião pública
pelo fim da impunidade e a firme disposição do Supremo de não validar o
foro privilegiado para crimes cometidos antes da ocupação do cargo ou
mandato atual.
Isso significa que Temer terá de atirar Padilha e Moreira ao mar,
porque o caso deles é perdido, seja pela possível aprovação da emenda
Alvaro Dias, seja pela restrição a ser adotada pelo Supremo ao foro
privilegiado em crimes ocorridos anteriormente ao cargo ou mandato. Com
diziam os dois amigos comunistas Oduvaldo Vianna Filho e Ferreira
Gullar, se ficar o bicho pega, se correr o bicho come…
REELEIÇÃO – Quanto à candidatura de Temer, na Praça
dos Três Poderes não se fala em outra coisa. Para manter o foro
privilegiado e se livrar da implacável primeira instância da Justiça
Federal, Temer está mesmo disposto a ser candidato à reeleição. Não é
por mera coincidência que seu personal marqueteiro Elisinho Mouco está
instalado com a equipe há meses no quarto andar do Planalto, regiamente
pagos com recursos públicos.
Quando chegar a hora, Temer vai parodiar o velho bordão de D. Pedro
I, ao se insurgir contra Portugal: “Atendendo a insistentes pedidos
para concluir a recuperação do país, digam ao povo que fico” – será a
desculpa de Temer.
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P.S. – Padilha e Moreira estão desesperados. Sabem que serão apanhados tão logo percam o foro privilegiado, o que acontecerá depois que o ministro Dias Toffoli devolver os autos da proposta de Luís Roberto Barroso para restringir a proteção aos corruptos. É só uma questão de tempo. Mas eles fingem que não está acontecendo nada e jamais serão alcançados. São dois perdidos num governo sujo, personagens de um moderno Teatro do Absurdo sem final feliz. (C.N.)
P.S. – Padilha e Moreira estão desesperados. Sabem que serão apanhados tão logo percam o foro privilegiado, o que acontecerá depois que o ministro Dias Toffoli devolver os autos da proposta de Luís Roberto Barroso para restringir a proteção aos corruptos. É só uma questão de tempo. Mas eles fingem que não está acontecendo nada e jamais serão alcançados. São dois perdidos num governo sujo, personagens de um moderno Teatro do Absurdo sem final feliz. (C.N.)