Terça, 17 de setembro de 2019
Por
Helio Fernandes*
Quando Bolsonaro indicou-o como "super
ministro" da Economia, fez duas afirmações surpreendentes, assombrosas,
estarrecedoras.
1- "Sou completamente analfabeto em economia".
Rigorosamente verdadeiro e poderia se estender pelos assuntos mais variados.
2- Vou indicar como ministro, Paulo Guedes, sabe
tudo sobre o assunto, inclusive é formado pela famosa Universidade de Chicago.
Única afirmação verdadeira. Mas aos fracassos no Brasil, (anteriores) juntou
outros nos EUA. Diplomado e sem emprego, vivendo de ligações espúrias e
perigosas.
Resolveu então voltar para o Brasil onde colecionara
múltiplos fracassos. Ligado e perfilhado pelo capitão-presidente, atingiu o
auge e o apogeu da mistificação. Manejou e movimentou números alucinantes de
economia, o mínimo era o TRILHÃO, que exibia sem constrangimento.
De fracasso em fracasso, vai enfrentar um roteiro
cheio de obstáculos, que se chama TRAMITAÇÃO, com derrotas certas e inevitáveis
. Sem convicções e para se divertir, insultou a mulher do presidente da França,
manejando a baixaria com incrível facilidade.
Como a CPMF é um dos assuntos do dia, jornalistas
quiseram saber sua opinião. Resposta tola: "Não quero falar sobre o
assunto, o ultimo que falou foi demitido".
Estava se referindo ao secretario Especial da
Receita, Marcos Cintra, demitido sumariamente pelo próprio ministro Guedes. O
que se comenta abertamente: "Cintra estaria querendo criar imposto
imobiliário sobre as riquíssimas igrejas evangélicas, que podem tudo".
O GENERAL PORTA-VOZ, ANUNCIOU: "ESTÁ MARCADA
PARA O DIA 22, A VIAGEM DO PRESIDENTE PARA A ONU"
Não duvido que esteja. Já elogiei o general, o único
de todo o governo. Ele cumpre sua função, obrigação, profissão: transmite a voz
do presidente, mas não tem interferência na mensagem que está lendo. Semana
passada, comunicou: "Quinta-feira o presidente deixará o hospital".
Na quinta mudou o comunicado, "o vice general
Mourão ficará mais 4 dias em exercício, até hoje, terça 17". Novamente
portou a voz de forma diferente. Em vez de ligar Bolsonaro ao hospital,
localizou-o com a viagem.
Hoje o porta voz tem que explicar o que acontecerá
com o capitão presidente.
LULA PERDEU A LIBERDADE, PODE ESTAR PERDENDO ATÉ O
PT
Há 4 meses a PGR comunicou oficialmente ao
STJ: "Lula já cumpriu o tempo necessário para MUDAR para regime semiaberto
ou até domiciliar". O tribunal recusou sumariamente, o ex-presidente
continuou sem ser favorecido pelo que manda a lei.
A PGR vai entregar o cargo. E a lei vale para todos,
menos para Lula. Seus advogados entraram com recurso no STF. A Segunda Turma,
que libertava por 3 a 2, condenados da Lava Jato, mudou o placar, condenou Lula
por 3 a 2.
Recorreu para o plenário, Toffoli está sentado em
cima do pedido, que não consegue pauta. Entraram com recurso contra o
ex-magistrado Sergio Moro, acusando-o de PARCIALIDADE. Imediatamente examinaram
a questão, ABSOLVERAM o agora ministro, "PATRIMÔNIO NACIONAL". (Royalties para o capitão presidente).
No momento, o que parecia impossível ou
inimaginável. Do alto da cúpula do PT, ainda discreto mas crescendo, um
movimento para "tirar Lula das manchetes". O primeiro ato desse
roteiro, está encontrando dificuldades. Eleger um novo presidente para o
partido, que não seja tão lulista, quanto a atual.
O NOVO PGR, EXIBE ARROGANCIA INUSITADA
Quando Bolsonaro anunciou Augusto Aras como
substituto de Rachel Dodge, duas surpresas. Não cumpriu a tradição da lista
tríplice, (não era obrigado constitucionalmente) e escolheu um nome
completamente despreparado, desprestigiado, sem nenhuma liderança.
A própria Associação dos Procuradores repudiou
duramente a escolha. Em nota oficial disse horrores do novo PGR. Sem a menor
reação, a impressão é que concordava inteiramente com os comentários do órgão
mais representativo da sua função e profissão.
Só que a posição passiva, durou apenas 4 ou 5 dias.
Começou a visitar senadores, tem que ser sabatinado e aprovado por eles. Mas o
Augusto Aras que surgiu, inteiramente diferente. Contou a senadores e a
jornalistas, uma conversa que teria tido com o presidente.
Sua posição, (vastamente publicada) durante a
conversa que teria tido com o presidente, ultrapassa os limites da
MISTIFICAÇÃO. E para quem conhece e acompanha a intolerância de Bolsonaro, ele
não ouviria 10 por cento do relatado por Aras. Seria demitido antes de ser
escolhido, convidado e nomeado.
CARLOS LACERDA, MARIO LAGO, HELIO FERNANDES:
LEMBRANÇAS DA PRISÃO, 24 HORAS DEPOIS DO FAMIGERADO E INESQUECÍVEL, AI5
Assim que vi na televisão a leitura desse documento
amaldiçoado, comecei a me vestir, sabia que seria preso imediatamente. Fui para
o jornal, Lacerda me telefonou perguntando o que aconteceria com ele. Resposta:
"Você vai ser preso e cassado". Do outro lado, um berro: "Você
está acostumado a adivinhar, mas dessa vez, não vai acertar nem uma nem
outra".
Não queria, mas era facílimo acertar as duas. Eu fui
preso às 10 da noite, Lacerda no dia seguinte às 9 da manhã. Me abraçou
carinhosamente, falou: "Está bem. Estou preso mas não vou ser
cassado". É lógico que isso aconteceu quase imediatamente.
As conversas se prolongaram por quase 1 mês, dá pra
contar alguma coisa rapidamente.
Estando na ONU, como embaixador, poderia ser
cassado, mas não preso. Ele acreditou que não seria cassado, tinha enorme
influência no Exército. Mas os militares o abandonaram completamente. Escreveu
então artigo que está todo no título: "Carta a ex-amigos fardados".
Emocionante. Gostando ou não gostando de Lacerda, é imperdível. Não sei como
encontrar, mas muitos saberão.
Completando e complementando— Isso era 13 de
dezembro, consequências do famigerado AI-5. Passamos o Natal e o Ano Novo
presos. O Carlos Lacerda, que fora solto, foi cassado. No dia 2 de janeiro
viajou para a Europa, teve a grandeza de ir se despedir de mim e do Mário Lago.
Nós dois fomos soltos em 6 de Janeiro, Dia dos Reis. Os generais eram
torturadores e assassinos, mas muito católicos.
Estávamos no Regimento Caetano de Farias, como eu
disse dormíamos no chão. À tarde chegou o Mário Lago, foi preso no Teatro Santa
Isabel, estava fazendo um personagem escocês, vestia uma roupa característica
da Escócia. Existiam outros presos que não conhecíamos, Mario Lago explicou:
"Aqui só quem me conhece, é o Carlos Lacerda e o Hélio Fernandes, já
estivemos presos outras vezes. Eu estou com essa roupa mas não sou viado. (a
palavra gay, surgiria dezenas de anos depois).
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*Fonte: Blog Oficial do Jornal da Tribuna da Imprensa. Matéria pode ser republicada com citação do autor.