Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

terça-feira, 4 de maio de 2021

Enquanto a noite durar

 Maio

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Enquanto a noite durar


Em maio de 1937 morreu, aos vinte e seis anos, Noel Rosa.
Esse músico da noite do Rio de Janeiro, que em vida só conheceu a praia por fotografias, escreveu e cantou sambas nos bares da cidade, que os canta até hoje.
Numa desses bares um amigo o encontrou, na noturna hora das dez da manhã.
Noel cantarolava uma canção recém-parida.
Na mesa havia duas garrafas. Uma de cerveja e outra de cachaça.
O amigo sabia que a tuberculose estava matando Noel Rosa. Noel adivinhou a preocupação em seu rosto, e sentiu-se obrigado a dar uma lição sobre as propriedades nutritivas da cerveja. Apontando a garrafa, setenciou:
-Isso aqui alimenta mais que um prato de boa comida.
O amigo, não muito convencido, apontou para a garrafa de aguardente:
-E isso aqui?
E Noel explicou:
-É que não tem a menor graça comer sem ter uma coisinha para acompanhar.

Eduardo Galeano, no livro ‘Os filhos dos dias’. L&PM Editores, 2ª edição. 2012, página 150. 
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Noel Rosa. 11 de dezembro de 1910, Rio de Janeiro — 4 de maio de 1937, Rio de Janeiro

Noel Rosa - Conversa de Botequim (Gravação Original)