Por
Felipe Quintas e Pedro Augusto Pinho
Algum partido discute a transformação de nosso Estado Colonial em verdadeiro Estado Nacional?
O Brasil nunca teve, efetivamente, no comunismo alternativa de poder ou de governo. Embora com sociedade extremamente desigual, cheia de preconceitos e discriminações, o sistema doutrinador, implantado desde o início da colonização – “dilatando a fé” – entregou à ordem católica constituída para combater a reforma no seio do cristianismo, a Companhia de Jesus, o monopólio do ensino naqueles primeiros tempos, dos governadores-gerais e dos vice-reis.
E, por quase toda nossa história, a pedagogia colonial de tal modo se infiltrou em nossas mentes, em nosso ser, que, neste século 21, ainda vemos pessoas que nada têm em bens materiais, que só ganhariam com qualquer mudança que se produzisse nas relações sociais, temerem o “perigo comunista”.
Os Estados Unidos da América (EUA) estruturaram desde sua organização em 13 colônias, e pelos processos de independência – guerras contra o Império Inglês e a guerra civil – a sociedade capitalista, o individualismo do herói, o “cada um por si, Deus por todos”. Seu sistema político é o retrato desta sociedade politicamente uniforme, sem opções ou alternativas. Como no irônico dito da era industrial, a grande mudança do governo democrata pelo republicano é que o poder passa da General Motors para a General Electric.
O Brasil Império era bem uma cópia, apenas a ironia aqui dizia que nada mais conservador do que um liberal no governo e nada mais liberal do que um conservador na oposição.
A Revolução de 1930 nos trouxe, pela primeira vez na história pátria, o Brasil para o Governo. E as medidas tomadas por Getúlio Vargas – nunca esquecer que as primeiras foram: em 14 de novembro de 1930, o Ministério da Educação, e em 26 de novembro de 1930, o Ministério do Trabalho – eram verdadeiras cartas de alforria para a pedagogia colonial e para as diversas escravidões.
Desde então, todas as forças do atraso e da colonização em nosso País lutaram e lutam contra a “Era Vargas”, um sinônimo de soberania e cidadania. Foram estas forças que aplicaram os golpes de toda sorte: militares, parlamentares, jurídicos, midiáticos e eleitorais desde 1945 até 2018. Estamos diante de nova farsa: as eleições de 2022.
Algum partido discute a transformação de nosso Estado Colonial em verdadeiro Estado Nacional? Algum candidato apresenta projetos para substituição do poder financeiro pelo poder popular nas decisões de governo?
Examinando o histórico de todos os candidatos ou pretensos candidatos aos cargos no Executivo pode-se, com convicção, escolher algum que venha nos libertar das amarras financeiras apátridas, da escravizante ideologia neoliberal e neopentecostal?
Para que servem escolas e mídias que não contribuem para formar cidadãos? Que buscam confundir religião com meios de produção, comportamentos privados com projetos e lutas políticas? Que muito mais desinformam do que esclarecem?
Dentro da ótica da soberania, o Brasil regride desde a Nova República. E nesta falta de patriotismo, da prevalência do interesse das finanças apátridas sobre todos as demandas nacionais – emprego, saúde, educação, moradia, saneamento, mobilidade urbana – se desenvolve a política nacional.
E, consequentemente, a política, além de ser farsante, é corrupta. Quem é mais capaz de corromper do que aquele que tem dinheiro, que vive exatamente das fraudes, da especulação, dos golpes e que constrói o sistema de governo onde o poder do dinheiro supera tudo e todos?
E nosso prezado leitor constata a realidade da corrupção desde o período em que as finanças apátridas assumem o poder no Brasil, como se houvesse honestidade no período de governos militares que não mais existe nos governos civis. Enquanto a verdade é do golpe (1967) dentro do golpe (1964), que colocou militares nacionalistas, formados na Era Vargas, como Médici e Geisel, não agindo em favor do capital financeiro mas da industrialização nacional, seja por empresas privadas seja por empresas públicas ou de economia mista.
O confronto dos orçamentos dos anos 1970 com os dos anos 2010 mostrará claramente esta passagem do nacional para o apátrida, do industrial para o financeiro, do plano de desenvolvimento para o do tripé macroeconômico, da prioridade do pagamento da dívida nas despesas governamentais, mesmo que a custa da vida dos brasileiros.
Este artigo não é um convite à ausência, à abstenção ou ao voto nulo. É o esclarecimento que evita frustrações, desenganos com a política e os políticos. Papa Francisco se pronunciou em favor da política como a mais nobre ação do homem. Tudo é político, e em tudo há um pensamento, uma filosofia política.
Precisamos estar conscientes do momento histórico e das oportunidades. Não votaremos com toda certeza pela mudança radical de poder, que tanto necessitamos. Votaremos pelo possível, pelo mínimo de benefícios que o povo possa usufruir, como mais trabalho com direitos e maiores ganhos para o trabalho. Essa já será significativa mudança onde o trabalho nem mesmo existe e quando aparece nem mesmo tem a garantia de alguma retribuição.
É preciso votar e continuar exigindo os direitos da cidadania, e que os governos coloquem a soberania brasileira como farol para as ações políticas. Como já a realeza romana definia, quatro séculos antes de Cristo, o direito individual se curva diante do direito de todos, da sociedade. E este princípio, consolidado no Direito Romano, deu-lhe vida até nossos dias, nos códigos civis de todo mundo ocidental, onde o direito é construído pelos cidadãos.
Portanto caros leitores, às urnas, mesmo desconfiando delas e sabendo que apenas colheremos, se tanto, um mínimo de direitos e não a continuidade de suas retiradas e do esfacelamento do Estado Nacional.
*Felipe Maruf Quintas é cientista político.
*Pedro Augusto Pinho é administrador aposentado.
Fonte: Monitor Mercantil