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(Millôr Fernandes)

domingo, 6 de março de 2022

A desigualdade social na capital do país

Domingo, 6 de março de 2022
Realidade no DF deve ser debatida e profundamente transformada - Arquivo Agência Brasil


Brasil de Fato DF

O DF é um lugar onde se vive a riqueza da diversidade, mas também as marcas das desigualdades

O Distrito Federal como Unidade da Federação que comporta a capital do Brasil possui um conjunto de características que expressam o nosso imenso país.

Nessa múltipla realidade encontramos a diversidade e a padronização, as opressões e as resistências, o lucros e a exploração, os espaços coletivos e a individualização, os privilégios e a negação de direitos, a busca pelo sentido da existência em coletividade e a imensidão da solidão.

Nessa mistura de antagonismos e diferenças, o Distrito Federal como síntese do Brasil é um lugar onde se vive a riqueza da diversidade, mas também as marcas das desigualdades sociais e econômicas que vêm se aprofundando cada vez mais nos dias atuais.

Essa situação se dá principalmente por conta da atual conjuntura política marcada por um Governo Federal que tem destruído as políticas públicas, as conquistas democráticas e os direitos de cidadania. E junto a isso, a pandemia da Covid-19 que já perdura há dois anos, também tem agravado essa difícil situação em que se encontra a maioria da população brasileira e do Distrito Federal.

Dados da pesquisa realizada pelo IBGE em 2018 e divulgados em 2020, demonstram que o DF teve nesse ano um Produto Interno Bruto (PIB) no valor total de R$ 254,817 bilhões, sendo o oitavo maior PIB do país.

Contudo, conforme dados divulgados pela Codeplan (2020), ao possuir um PIB per capita de R$ 85.661,39, o DF passa a ocupar o primeiro lugar do país, tendo além do maior PIB per capita da Federação um total equivalente a 2,5 do PIB per capita do Brasil que é de R$ 33.594,00.

Desigualdade social e econômica

Para a geração desse PIB, o DF possui, enquanto principais atividades e setores econômicos, o setor de serviços responsável por 50,3%, a administração pública responsável por 45%, a indústria responsável por 4,2% e a agropecuária responsável por 0,5%.

Destaca-se, enquanto particularidade do Distrito Federal, a significativa distribuição desigual da renda desse PIB per capita por região administrativa. Como exemplo disso, os dados da Codeplan (2020a) demonstram que as regiões administrativas do SCIA/Estrutural e Varjão possuem o PIB per capita mais baixo da Unidade Federativa, sendo de até R$ 500,00, enquanto o Lago Sul possui o mais alto no valor de R$ 7.000,00 a R$ 8.000,00.

Dados do IBGE de 2020, apontam que em relação ao trabalho e rendimento o Distrito Federal possuía no período de realização da última pesquisa do IBGE, em 2018, uma média salarial por trabalhador (a) formal de 5,5 salários mínimos por mês, tendo a 5ª maior média salarial do país. Ao mesmo tempo, possuía 45,5% da sua população total desenvolvendo alguma atividade laboral com remuneração e apresentava 30,9% dos domicílios com renda per capita de até meio salário por pessoa.


Sobre o acesso à política de educação, o IBGE (2020) identificou que 97,5% da população possui algum nível de escolaridade, e em relação à infraestrutura se constatou que 87,9% da população tem acesso ao esgotamento sanitário adequado.

Em relação ao mesmo período de 2018, os dados sobre emprego demonstram que neste ano houve no DF uma taxa de desemprego de 18,6% da população economicamente ativa, tendo um índice mais alto de 22,1% nas regiões administrativas de Brazlândia, Ceilândia, Planaltina, Riacho Fundo, Riacho Fundo II, SIA, Samambaia, Santa Maria e São Sebastião.

Seguido a isso, no ano de 2019 o desemprego chegou a 18,3% em todo o DF, tendo um índice mais alto de 24,6% nas regiões administrativas de Fercal, Itapoã, Paranoá, Recanto das Emas, SCIA/Estrutural e Varjão.

Além do índice de desemprego, os dados da Codeplan também apontam que outro dado que é importante destacar é a taxa de informalidade do trabalho no DF, que em 2018 foi de 28,74%, tendo a região administrativa do Varjão a maior taxa com um total de 49,68%.

O que esses dados nos mostram?

Considerando esses dados, identifica-se que a partir de 2020 a existência da pandemia da COVID-19 passou a intensificar os desafios acerca da realidade socioeconômica do DF, diante do agravamento da crise econômica, social, política e sanitária vivenciada no país.

Enquanto parte dessa realidade, o Distrito Federal (DF) se caracteriza pela especificidade de possuir a maior renda do PIB per capita do Brasil, apesar de possuir uma população de pouco mais de 3 milhões de pessoas e ter um setor industrial que corresponde a apenas 4,2% desse PIB, em simultâneo, a principal atividade econômica do DF diz respeito ao setor de serviços, correspondendo a 50,3% do PIB.


Essa constatação demonstra que a principal fonte econômica do DF está relacionada à média geral da renda da sua população, que sustenta a dinâmica de funcionamento do setor de serviços enquanto principal fonte do PIB.

Contudo, em relação à distribuição dessa renda o DF apresenta uma desigualdade entre regiões administrativas que varia entre a renda per capita mais baixa que vai até R$ 500,00 e a renda per capita mais alta que se situa entre R$ 7.000,00 a R$ 8.000,00.


Esse indicador nos mostra a profunda desigualdade socioeconômica existente no DF, principalmente quando se identifica que associado a isso, as regiões possuidoras da menor renda do PIB per capita possuem os maiores índices de desemprego e de trabalho informal.

Desta maneira, vemos que essa é uma realidade que deve ser debatida e profundamente transformada. Enquanto houver tamanha concentração de renda e riqueza junto ao aumento permanente da condição de pobreza, do desemprego e das péssimas condições de vida da maioria da população do DF, o desenvolvimento, a justiça social, a autonomia e a dignidade das pessoas permanecerá como algo impossível de se alcançar.

*Michelly Elias é assistente social e professora do Departamento de Serviço Social da Universidade de Brasília (UnB).

**Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.


Edição: Flávia Quirino