Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sábado, 12 de março de 2022

Nas lentes, a delicadeza e o grito da denúncia de Orlando Brito

Sábado, 12 de março de 2022


Palácio do Planalto: Principal campo de atuação de Orlando Brito. Foto de Sergio Lima

Do Blog

Por Chico Sant’Anna
Comecei a trabalhar no jornalismo, ainda como estagiário, na Bloch Editores, uma casa onde o lead da notícia – a exemplo de O Cruzeiro - tinha que ser a grande foto. A sucursal de Brasília, onde escrevíamos para as revistas Manchete, Fatos & Fotos, Geográfica Universal, Amiga e tantas outras, era dirigida por um fotojornalista, Sérgio Ross. E foi pelas mãos dele e dos fotógrafos Cláudio Alves e Ronan Pimenta, que comecei a conhecer os coleguinhas. Embora profissional de texto, minhas primeiras amizades foi com o que havia de melhor no fotojornalismo: Dentre esses, Adão Nascimento, João Luiz ' Moreno de O Globo, Samuka, Kim-ir-Sen, Tadashi Nakagomi, Milton Guran, Freitinha, Moreira Mariz, a família Stuckert e é claro, Orlando Brito.


As mazelas sociais não escapavam à sagacidade do olhar de Orlando Brito, como registrou André Dusek, em 1977, no interior de Goiás, quando cobriam a situação de trabalhadores sem terra.

A amizade com Brito se desenvolveu mais intensamente, pois todos fins de semana íamos a Goiânia cobrir o Campeonato Brasileiro de Futebol e em algumas oportunidades o automobilismo. Eu, estagiário pela Manchete Esportiva, e ele, já craque de O Globo. A volta do Serra Dourada era no opalão amarelo que ele tinha, rebaixado, tala larga, farol de milha, bancos reclinados. Todo incrementado.

Brito era um profissional que não furtava ajudar os iniciantes, que dava as dicas, os amigos, mas não dispensava uma pegadinha. Certa vez no autódromo Ayrton Senna, de Goiânia, ele apareceu com um boné de uma das escuderias de stock car, dizendo que estavam distribuindo nos boxes. Me fez largar tudo, pra tentar ganhar um também, mas era pegadinha. Pegadinha que se repetiu em Manaus, quando videocassete vhs era o máximo do requinte. Na hora do retorno a Brasília, numa visita presidencial, ele espalhou que bastava dar o CPF a uma funcionária da Zona Franca, para ser agraciado com um aparelho. Um assessor de imprensa da presidência da República acreditou na história e quase cria um incidente político na Base Aérea de Manaus. Queria a todo custo o seu videocassete e não aceitava ser discriminado.