Da Tribuna da Imprensa
Por Igor Mendes

Fiquei estarrecido ao
assistir a notícia sobre o afastamento do desembargador Siro Darlan [clique aqui e leia artigo do desembargador sobre o assunto] das funções que desempenhava à frente da coordenação jurídica das varas
da infância, da juventude e do idoso e também da comissão de adoção
internacional. Afastamento que resultou de decisão unilateral do presidente do
Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, que não escondeu em tratar-se de um ato
político: Siro Darlan foi deslocado por discordar da “orientação, pensamento
filosofia de trabalho da atual administração”. Foi citada, ainda, na referida
decisão, mensagem veiculada pelo desembargador em seu facebook, do dia 17-05
último, na qual criticava a criação de um novo auxílio para os magistrados,
relacionado à educação dos seus filhos.
Siro Darlan, provavelmente
a mais gabaritada referência que temos nos assuntos relativos ao Estatuto da
Criança e do Adolescente, é afastado em meio à cruzada movida pelos monopólios
de imprensa a favor da redução da maioridade penal- medida apoiada por
políticos corruptos e ineptos, como estes que governam o estado do Rio, que
tentam jogar sobre as costas dos outros os efeitos de sua própria
incompetência. Não é coincidência.
Não espanta que essas
arbitrariedades sejam cometidas. Mas o fato de serem praticadas assim de modo
tão descarado é absolutamente alarmante. O recado é claro: ou curvar-se diante
do pensamento único, ou sucumbir. O que há de democrático na nossa sociedade
que aceitará esse rolo compressor? Sairá da arena sem luta? Ou vamos, cada um
na sua seara, de acordo com nossas possibilidades, opor resistência?
Ouso dizer que Siro
Darlan não foi afastado pelos pares do Tribunal, não apenas- há alguns dias
Luis Fernando Pezão declarou que a polícia prende (referia-se a menores de
idade), mas “alguns desembargadores soltam”. Para bom entendedor, meia palavra
basta. Por aí se vê até onde vai a tal “independência” dos poderes. Declaração
aquela, aliás, que revela crassa ignorância: do ponto de vista legal, como bem
lembrou recentemente o ministro do STF, Marco Aurélio, quem prende e solta
é o judiciário, somente. Pretender algo distinto é assumir sem pudor o Estado
de Polícia, para o qual caminhamos a passos largos.
*
A Delegacia de
Homicídios, que havia dado por “encerrado” o caso do médico na Lagoa, com o
aplauso da imprensa sanguinolenta, expert em condenar sem julgamento,
teve que engolir depoimento de um novo jovem, que desmentiu a farsa até então
montada. No dia 02-06 um adolescente foi espancado até a morte nas dependências
do DEGASE- e dizem que são “brandas” as condições (desumanas) em que essas
pessoas são mantidas!
É cada vez mais
difícil assistir ao noticiário, mas não temos tempo para ficar com o estômago
embrulhado. É preciso ir à luta!
A
propósito:
Será que ocorrerá, na
cadeia, o encontro que seria histórico entre os ativistas do movimento “não vai
ter Copa!” e alguns políticos e dirigentes da CBF, envolvidos até o pescoço no
mar da lama da FIFA? Duvido muito. Dilapidar o patrimônio público, através de
obras superfaturadas e propinas, não costuma gerar punição no nosso país- Maluf
que o diga. Protestar contra esse estado de coisas, sim.
Rio,
04 de Junho de 2015. 183 dias de detenção.