Quinta,
16 de julho de 2015
Da
Anistia Internacional
Mônica Cunha é uma lutadora e basta olhar e escutar para ter
certeza. Mulher, negra, do subúrbio do Rio de Janeiro, criou três filhos.
Há 14 anos, sua vida virou de ponta-cabeça. Um de seus
filhos, Rafael, de 15 anos, foi apreendido pela polícia depois de participar de
um roubo. A dor como mãe a conduziu por caminhos de aprendizado e de
mobilização. Hoje, ela se orgulha de ser uma das fundadoras do Movimento
Moleque, que promove direitos de adolescentes que estão no sistema
socioeducativo e seus familiares.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) se transformou
em seu livro de cabeceira. Depois de mais de 10 anos de dedicação, ela sabe
como poucos onde estão os problemas e como poderiam ser algumas soluções. Nesta
entrevista exclusiva à Anistia Internacional, ela fala sobre sua história de
vida, suas motivações, maioridade penal e os 25 anos do ECA.
Anistia Internacional – Como nasceu o
Movimento Moleque?
Porque tive um filho, o filho do meio, o Rafael que veio a
cometer o primeiro ato infracional aos 15 anos, em 2001.
Eu morava em São Cristóvão [Rio de Janeiro], trabalhava numa
pensão onde vendia quentinhas. Certo dia, me ligaram da delegacia dizendo que o
meu filho estava preso. Eu não acreditei e bati o telefone. Em seguida, uma
detetive ligou com todos os meus dados pedindo que eu comparecesse à DPCA –
Delegacia de Proteção à Infância e ao Adolescente.
Quando cheguei à delegacia, meu filho estava algemado e
sujo, como se o tivessem arrastado pelo chão. Eu fiquei desesperada e até este
momento eu não sabia o que tinha acontecido. Corri para abraçar meu filho, mas
um dos policiais que estavam ao lado dele, o segurou e falou para mim: “Na hora
que vocês estão parindo bandido, não percebem. Aí a gente vai na rua para
limpar e vocês vêm cheias de amor. Aí o bandido tem mãe.” Eu, abusada,
simplesmente respondi: “Quando eu pari meu filho, o médico só disse que foi do
sexo masculino. Não disse que era bandido não”.
Isso me fez enxergar a necessidade de criar o Movimento
Moleque, que nasceu no dia 10 de dezembro de 2003, com as mães dos meninos de
todas as unidades do Padre Severino (unidade do sistema socioeducativo da
cidade do Rio de Janeiro), vestidas de preto e viradas de costas para a porta
da instituição.
O Movimento Moleque é de denúncia, de reivindicações. Ele
apresenta para as famílias de adolescentes cumprindo medida socioeducativa os
direitos que elas têm, e os ajuda a cobrar sua implementação. É para empoderar
estas mães, porque elas vão poder não só se ajudar, como ajudar os meninos.
Antes do Estado controlar esses jovens, quem deve fazer isso
são as mães. Foram elas que deram a vida para esses meninos, não o Estado. E
são elas que cobram para que o Estado implemente o Estatuto da Criança e do
Adolescente.
AI – Como foi sua experiência no
sistema socioeducativo com o Rafael?