Terça, 19 de janeiro de 2010
Por Ivan de Carvalho
Está desencadeada uma guerra no Psol. O partido rachou. Fico pasmo em saber que uma coisa tão pequena seja ainda capaz de se dividir.
É verdade que no fictício país de Liliput, onde tudo era pequeno, os rachas e divisões eram possíveis. Não lembro de que hajam ocorrido efetivamente, mas teoricamente poderiam ocorrer. O Psol certamente é uma espécie de Liliput na política brasileira. Só tem uma liderança importante, a da ex-senadora Heloísa Helena, ex-candidata a presidente da República e atualmente vereadora em Maceió, preparando-se para tentar retornar ao Senado.
Heloísa Helena, na minha humilde e talvez embaçada maneira de ver as coisas, não é importante pelo que pensa. Ela pensa uma porção de tolices.
Seu discurso é um encadeamento de palavras de ordem e slogans ensinados durante décadas pela propaganda de uma ideologia morta, mas ainda insepulta por causa da conhecida teimosia (que frequentemente é qualidade) da espécie humana e da burrice (que sempre é defeito) de uma boa parte da mesma espécie. Heloísa Helena é importante, não por seu pensamento político ou seu discurso ideológico, mas pelo que ela é. Honrada, ética, corajosa, incorruptível, indomável – exatamente o que tanto está faltando no Brasil e em seus quadros políticos.
Mas, tirando ela, achar o Psol é como encontrar agulha em palheiro. Quase um milagre. E deve ter sido assim, na base do milagre, que o bravo bispo de Barra, dom Luiz Flávio Cappio, duas greves de fome em defesa do rio São Francisco na biografia, encontrou o Psol e decidiu apoiar a pré-candidatura de Plínio de Arruda Sampaio (uma pessoa respeitada e sem votos) a presidente da República. Apoio dado em nome da certeza de que o possível candidato do Psol “fará o necessário debate sobre os reais problemas que afligem o povo pobre desse nosso país tão rico”. Não sei se identifico essa frase do bispo com o prato feito dos discursos de Heloísa Helena ou com os trocadilhos do jornalista e amigo Alex Ferraz. Então, que opte o leitor, querendo.
Mas, voltando ao assunto principal, o liliputiano Psol rachou. Estava em entendimentos com o PV para apoiar a candidatura de Marina Silva a presidente da República. A candidatura de Plínio de Arruda Sampaio era apenas uma sombra no horizonte. Mas aí o deputado Fernando Gabeira, que com a senadora e ex-ministra Marina Silva forma a dupla politicamente importante do Partido Verde, disse afinal que topa ser candidato a governador do Rio de Janeiro pelo PV. Tudo bem para o Psol, se Gabeira não tivesse o apoio do PSDB, que quer fazer do palanque de Gabeira também o palanque de José Serra no Rio. Por causa disso está o maior auê na lata de quatro caranguejos do Psol – casa dividida, talvez casa arruinada.
Opinião muito pessoal: fiquei perplexo por não haver o bispo de Barra optado pelo apoio a Marina Silva, candidata do PV a presidente. É ela que, como dom Cappio, tem preocupação com o meio ambiente – uma, o do Brasil, outro, o do rio São Francisco.
Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta terça.
Ivan de Carvalho é jornalista Baiano