Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

A segunda opção


Terça, 26 de janeiro de 2010
Por Ivan de Carvalho

 Presidente ou ditador? Revolucionário bolivariano ou caudilho? Democrata criativo ou militar golpista, daquela estirpe dos “gorilas” de antigamente? Essas três questões seguramente estão no passado. E nos três casos, que dizem respeito à mesma pessoa, marque a segunda opção como a correta.
    Todo mundo que estiver lendo estas linhas sabe muito bem que estou me referindo ao coronel Hugo Chávez, o manda-chuva da Venezuela, que apareceu espetacularmente na política de seu país no comando de um grupo de militares, tentando derrubar um governo democraticamente eleito.
    Tudo que semeares, certamente colherás, dizem a Bíblia e muitas outras fontes, numa certeira constatação de lei universal. É a lei e dela ninguém pode fugir. As únicas coisas incertas aí são quando e sob que forma virá a colheita. Bem, anos depois da sua frustrada tentativa de golpe estava o coronel Chávez na presidência da República da Venezuela, regularmente eleito, quando uma coalizão de forças militares e civis – estas, políticas, empresariais e das classes médias – o retirou do cargo.
    Talvez porque sua ação, anos atrás, haja sido apenas uma tentativa frustrada, sua deposição haja durado apenas cerca de 48 horas, durante as quais esteve preso, sendo-lhe em seguida devolvida a presidência, sob pressão das camadas pobres (e não por coincidência) e menos educadas da população.
    Como os coronéis do Nordeste brasileiro tinham os fundamentos do seu poder na pobreza ignorante de grande parte da população da região e como hoje o presidente Lula tem, de longe, sua maior popularidade exatamente nesse mesmo Nordeste de população majoritariamente pobre, que não teve a chance de acesso à educação, mas ganhou Bolsa Família, Luz para Todos, Projeto Minha Casa (ainda que esqueçam de fazer o esgotamento sanitário)  e se encanta com o igual-herói cujo “único diploma  é o de presidente da República”, Chávez encontrou nos pobres da Venezuela seu fã-clube. De Getúlio Vargas dizia-se que era o “pai dos pobres” e a mãe dos ricos. De Lula pode-se (quase) dizer a mesma coisa.
    Mas de Chávez, por enquanto, pode-se dizer apenas que tem sido padrasto para os pobres e madrasta para os ricos, além de golpista, caudilho e ditador. Acaba de censurar (interromper as transmissões) de seis redes de televisão. Motivo: não respeitaram um decreto governamental que as declara emissoras “nacionais” e assim cria-lhes a obrigação (?!) de transmitir os discursos de... Chávez. E Chávez não se cala nunca, apesar da chapuletada do rei da Espanha.
O que não deu para entender foi a razão de haver sido atingida uma TV chilena, que também não transmitiu o discurso, mas não podia ser “nacional” na Venezuela. Os chilenos estão cobrando uma retaliação da presidente Michele Bachelet.

Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta terça.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.