Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sábado, 23 de janeiro de 2010

O umbigo de Liliput


Sábado, 23 de janeiro de 2010
Por Ivan de Carvalho

A maioria do Psol (passa em minha cabeça de véspera de sábado a idéia de duas pessoas, em contraposição à minoria composta por uma pessoa) decidiu que o partido lançará candidatura própria a presidente da República. Dois nomes estão lançados – o do promotor aposentado, pessoa conhecida, respeitada e sem votos, Plínio de Arruda Sampaio; e o do ex-deputado, também sem votos, já que não conseguiu reeleger-se, tendo a cabeça cortada pelo eleitorado, João Batista, de codinome Babá.
    Numa animada convenção (é possível fazer uma produtiva festa de decibéis com quatro pessoas, o que já se tem constatado nos mangues quando se colocam quatro caranguejos numa lata) em junho, o país de Liluput, melhor dizendo, o Psol, decidirá entre seus dois aspirantes. Há em Liluput um paradoxo, pois nesse país em miniatura há dois grandes eleitores.
    Um deles emergiu há poucos dias e certamente o leitor que haja se dado ao trabalho de passar os olhos em dois artigos anteriores sobre as recentes ocorrências relacionadas a Liliput já está sabendo que esse grande eleitor é o bravo bispo da arquidiocese baiana de Barra, dom Luiz Flávio Cappio, que já tem em sua biografia duas greves de fome contra o projeto (atualmente em execução) de transposição de águas do rio São Francisco. Dizia o ex-governador baiano Octávio Mangabeira: “Pense um absurdo. Na Bahia há precedente”. No caso do apoio do bispo ao pré-candidato do Psol Plínio de Arruda Sampaio, não havia precedente nem na Bahia e não se trata de nenhum absurdo, é claro.
    Portanto, vamos ao segundo grande eleitor. Ou melhor, eleitora, porque se trata da ex-senadora, ex-candidata a presidente, vereadora de Maceió e candidata ao Senado Heloísa Helena. Não está claro se ela vai apoiar, para presidente da República, Plínio ou Babá, embora seja óbvio que o Brasil – apesar de toda a jactância e ufanismo de seu atual presidente – está precisando ainda de uma. Sem babá o país tem feito muita besteira ou, pelo menos, muita besteira se tem feito no país – e aqui é coisa séria, o Brasil não é nenhum Liliput. Pelo amor de Deus, não pensem que a babá pode ser Dilma. Ela já é a PAC-WOMAN.
    O discurso de Heloísa Helena é um encadeado de slogans e palavras de ordem, mas além de extremamente ética, ela é inteligente. Estava defendendo o apoio de Liliput, vale dizer, do Psol, à candidata a presidente do PV, a senadora e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva. Mas sua tese perdeu, inclusive porque o deputado Fernando Gabeira, do PV, topou ser candidato a governador do Rio de Janeiro e estar no mesmo palanque com o tucano José Serra no segundo turno eleitoral. Não no primeiro, quando, naturalmente, apoiará a candidata do PV, Marina Silva.
    Mas aí Liliput olhou para o próprio umbigo, encantou-se com ele e ignorou o Universo em derredor. Apostou que o espaço existe só para Liliput.
    Mas sem drama. Houve tempo em que parte da humanidade e supostos “cientistas” pensavam que a Terra era o centro do Universo.

Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano