Sábado, 11 de dezembro de 2010
Por Ivan de Carvalho

Há duas razões possíveis para esse comportamento, que já vem de bastante tempo, mas se acentuou durante o segundo mandato do presidente Lula, quando esteve à frente do Ministério da Justiça – ao qual a Polícia Federal é subordinada – o petista Tarso Genro, até ser exonerado para candidatar-se, com êxito, a governador do Rio Grande do Sul.
Uma das razões possíveis para esse comportamento pode ser o esforço para mostrar serviço e ganhar o reconhecimento da sociedade, que majoritariamente ainda não está apta, por deficiência cultural e educacional, para diferenciar a ação policial correta da pirotecnia que agride, inclusive, direitos humanos.
A outra razão possível para o referido comportamento pode ser a instrumentalização política da Polícia Federal, por encomenda do governo ou por iniciativa da própria PF. Nesta última hipótese, para mostrar serviço, não à sociedade, mas ao governo, quando atinge, de modo indevido e precipitado, adversários deste.
É possível que as duas razões – mostrar serviço à sociedade e prestar serviço político ao governo, atingindo seus adversários – estejam somadas em alguns casos, enquanto em outros apenas uma das duas esteja presente.
A Polícia Federal acaba de produzir na Bahia um desses casos em que busca atuar como polícia e juiz. Trata-se do caso de uma suposta compra de votos no município de Buerarema, envolvendo lideranças políticas locais e outras pessoas, inclusive a deputada estadual eleita Cláudia Oliveira (do PT do B) e o deputado federal mais uma vez reeleito Jutahy Jr., do PSDB.
Em Ilhéus, diz toda a mídia, a Polícia Federal deu a entender (modo muito cômodo de tentar destruir por antecipação a imagem de um político sem assumir a responsabilidade da acusação) que o deputado Jutahy está envolvido, junto com outros parlamentares e ex-candidatos, em compra de votos, apesar de a própria PF em Ilhéus informar que irá investigar, no prazo de 30 dias, se foi cometida alguma ilegalidade e por quem. Ora, ainda não sabe nem isso, mas já envolve pessoas nominalmente.
O deputado Jutahy Jr. fez sua própria defesa, na mídia, em tom de desafio. O presidente da Assembléia Legislativa, que hoje está no PDT e integrado à base política do governador petista Jaques Wagner, mas durante muito tempo foi ligadíssimo (e continua com forte relacionamento) a Jutahy Jr. se manifestou em defesa deste. Outra defesa, também incisiva, foi feita pelo deputado ACM Neto, do DEM.
No caso de Jutahy Jr. pode-se suspeitar (se a PF pode lançar suspeitas públicas antes de fazer a tal investigação que anunciou em prazo de 30 dias, qualquer um pode suspeitar da PF) que mais do que a pirotecnia, o “julgamento” da PF, que poderia ser chamado também de maledicência, se deva ao fato de que, além de ser a principal liderança baiana do PSDB (principal partido de oposição ao governo federal), o deputado Jutahy Jr. é um dos parlamentares mais ligados ao ex-candidato a presidente José Serra e atuou como um dos principais operadores políticos de sua campanha para presidente. Daí pode estar sendo “punido”.
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Este artigo foi publicado originalmente na “Tribuna da Bahia” deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.