Sábado, 4 de dezembro de 2010
Por Ivan de Carvalho
É
consenso no meio político que o PMDB foi, no segundo mandato do presidente Lula
e na campanha eleitoral da presidente Dilma Rousseff, o aliado fundamental.
Para
o próximo quatriênio, o PMDB chega com um status mais elevado em relação ao
quatriênio anterior, o do segundo mandato do presidente Lula
Neste caso, o
PMDB não deu apoio formal ao candidato do PT a presidente, não lhe deu seu
tempo de propaganda gratuita no rádio e na televisão e foi para as urnas
dividido praticamente ao meio, como estivera durante o primeiro mandato de
Lula. O “PMDB do Senado” (com notórias exceções) apoiava o governo e apoiou as
candidaturas do presidente, enquanto o “PMDB da Câmara” colocava-se na
oposição.
Mas depois da
eleição de Lula para seu segundo mandato presidencial as coisas mudaram. O PMDB
da Câmara apoiou o governo Lula. Como não apoiara sua eleição, entrou no
governo, como instituição partidária, sem “comer sal e poeira”, na expressão
criada pelo governador Jaques Wagner. Então, era compreensível que não tivesse
todos os privilégios concedidos aos que travaram a batalha eleitoral ao lado de
Lula.
Mas agora é
diferente. Como instituição, o PT apoiou Dilma Rousseff, participou da
coligação, marcou solidariedade total com a presença do presidente da legenda,
deputado Michel Temer, na chapa de Dilma, como candidato a vice. Deu seu tempo
de propaganda eleitoral gratuita no rádio e televisão à candidata petista e
ajudou-a com sua capilaridade partidária em praticamente todo o território nacional.
E com o enorme reforço psicológico que a aliança com o PMDB representava.
Então, era de
se esperar que – uma vez que a rainha teria de ser mesmo a presidente Dilma – o
PMDB entrasse na história como se fosse o príncipe. Mas nada. Está arriscado até
a não ser tratado como duque. Barão, talvez.
A primeira e
dolorosa paulada está sendo aplicada no Congresso: uma proposta de emenda
constitucional que retira do vice a atribuição de suceder o (a) presidente,
caso este fique impedido (por morte, impeachment ou doença gravíssima,
incapacitante) de exercer o cargo. O vice continuaria sendo substituto eventual
(uma viagem do presidente aqui, outra ali), mas nunca sucessor. Teria que
assumir e promover eleições presidenciais em, no máximo, 90 dias ou, se mais de
metade do mandato presidencial já houver passado, ver o Congresso Nacional
escolher um novo presidente titular. O PT não quer correr riscos, nem mesmo os
atualmente previstos na Constituição.
A segunda
paulada está sendo ensaiada na formação do ministério do próximo governo. O
PMDB exige (e isso já faz tempo) cinco ministros para pastas com “densidade”:
dois indicados pelo PMDB do Senado, dois pelo PMDB da Câmara e o quinto na
“cota pessoal” do vice Michel Temer. Dilma está oferecendo quatro. Convém esperar
o resultado dessa queda de braço.
Outra
paulada? Sim, em duas fases.
Primeira
fase. O líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves, desconfiado que o PT pretendia
passar-lhe a perna, articulou, formou e anunciou um bloco de bancadas
partidárias envolvendo o PMDB, PT, PP, PTB e outros, num total de 202 dos 513
deputados da Câmara. O “blocão” atuaria, se preciso, na eleição para a Mesa da
Câmara e continuaria ativo, apoiando o governo, e, claro, se defendendo dele. O
PT entrou em pânico – e em
guerra. Dilma e Lula lançaram-se à operação desmanche e ainda
pressionaram Temer para que pusesse panos quentes. A primeira defecção foi o
PP. O “blocão” articulado pelo PMDB na Câmara entrou (na melhor das hipóteses) em
estado de catalepsia.
Segunda fase.
Na quinta-feira, o PT anunciou a formação de um “blocão” no Senado. Sem o PMDB.
Mas com PT, PDT, PSB, PC do B, PRB, num total de 29 senadores. Isso dá ao bloco
o comando de quatro comissões permanentes no Senado e cargos-chave na Mesa
Diretora.
E aí?
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Este artigo
foi publicado na Tribuna da Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.