Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Mais disputa no Democratas

Quarta, 2 de fevereiro de 2011
 Por Ivan de Carvalho

No momento em que estas linhas eram escritas, as atenções do meio político e de uma parte, talvez não muito expressiva, da população, concentravam-se na eleição do novo presidente da Câmara dos Deputados, cargo para o qual o candidato oficial – apoiado oficialmente pelo aglomerado de partidos governistas e pelos dois principais partidos de oposição, o PSDB e o Democratas – era o deputado petista gaúcho Marco Maia. Aliás, Maia já vinha, porque ocupava antes o cargo de primeiro vice-presidente da Câmara, exercendo a presidência desde que o peemedebista Michel Temer deixou este cargo para ser o vice-presidente da República.
           
            Não esperei pelo resultado. Maia tinha três desafiantes, nenhum deles uma ameaça à sua eleição – Sandro Mabel, “rebelde” do PR, cujo partido apoiava Marco Maia; Jair Bolsonaro, do PP do Rio de Janeiro, militar reformado, radical e extremamente franco, figura polêmica por natureza; e Chico Alencar, do Psol do Rio de Janeiro.

  Os dois últimos justificavam suas candidaturas com o propósito de mostrar que nem todos, na Câmara dos Deputados, concordam que esta casa legislativa e, mais amplamente, o próprio Congresso Nacional, sejam um mero apêndice do Poder Executivo, sem independência para tomar decisões próprias e sempre obediente à vontade do presidente (vá lá, do presidento ou da presidenta) da República. Quanto a Sandro Mabel, que já andou profundamente metido em trapalhadas de natureza ética, só ele mesmo parecia capaz de entender a própria candidatura.

 Mas se as eleições no Congresso concentravam as atenções no meio político, corria em paralelo, chamando alguma atenção até pelo surpreendente e inusitado, o drama-quase comédia do Democratas, um partido em busca de rumo, ainda que seja (pelo menos por enquanto) o quarto no ranking dos maiores partidos do país.

 Bem, na segunda-feira a bancada do DEM na Câmara dos Deputados escolheu, por 27 votos contra 16 dados ao concorrente, o deputado baiano ACM Neto para líder da bancada. Isso vem sendo considerado uma espécie de prévia ou demonstração de força na disputa pelo comando do partido, que terá seu desfecho em 15 de março. E a vantagem de ACM Neto, de 11 votos numa bancada de 43 deputados, vem sendo considerada suficientemente ampla para desestimular o bloco que apresentaria como candidato a presidente da legenda o ex-senador pernambucano e ex-vice-presidente da República Marco Maciel.

 Mas isso, confirmando-se, encerra a disputa? Parecia, na superfície, que sim, mas constatou-se ontem que não. É que o outro grupo do atual presidente do partido, deputado fluminense Rodrigo Maia (do qual faz parte ACM Neto), ao contrário do que a mídia vinha equivocadamente fazendo parecer, não tem como candidato apenas o senador José Agripino Maia, do Rio Grande do Norte.

Este senador, que o ex-presidento Lula tanto se esforçou para derrotar, sem conseguir, tem um concorrente dentro do mesmo grupo – o deputado Ronaldo Caiado, de Goiás. Isto surpreendeu Agripino, a ponto de ele comentar para o Blog do Noblat que “você está mal informado, o Caiado me apóia”. Caiado, no entanto, confirmou ontem mesmo que sua candidatura foi colocada em dezembro, está de pé, e mais: “Estamos conversando. Vamos ver como será composta a Executiva. É um jogo de xadrez, não de damas onde há um mata-mata. Temos ainda 45 dias para definir”, ressaltou, falando ao mesmo blog.

            Aí complicou. Vão acabar disputando no DEM até o cocô do cavalo do bandido.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quarta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano