Segunda, 9 de maio de 2011
Por Ivan de Carvalho

Mas,
para começar exatamente pelo que está em melhor situação, vale lembrar que, com
antecedência, o ex-ministro José Dirceu avisou, não por acaso na Bahia, numa
reunião que devia ser secreta, mas não foi – a Bahia tem afinidade com essas
coisas absurdas – que o governo de Dilma Rousseff seria muito mais do PT do que
o governo Lula.
Ele
queria dizer que, não tendo Dilma uma liderança própria (e certamente que
olhava também o grau de aparelhamento em que os petistas já haviam posto o
Estado brasileiro nos oito anos anteriores), o PT teria condições de livrar-se
dos freios que Lula, na Presidência da República, lhe impusera, e ganhar
autonomia para buscar a hegemonia na área partidária e um forte controle do
governo.
No
primeiro round disso que será uma
luta de vários, Lula e Dilma foram derrotados por correntes do PT. José Eduardo
Dutra, afinado com Lula e Dilma, mas doente, não podia continuar no comando da
legenda. Então, Lula e Dilma puseram em campo como candidato o ex-ministro
Humberto Costa. Mas outros setores lançaram Rui Falcão, que causou desagrado a
Lula e Dilma, mas chegou a ameaçar disputar se estes insistissem com Humberto
Costa. Lula e Dilma recuaram, Rui Falcão foi eleito e não esconde o apetite de
poder do partido que preside. Além disto, o PT, como partido no governo, está
às voltas com a herança maldita que deixou para si mesmo, havida do governo
Lula. “Quebrei o Estado, mas ganhei a eleição”, disse, intramuros, o ex-governador
paulista Orestes Quércia após eleger seu sucessor. Lula talvez possa dizer algo
parecido agora.
Vistas
as coisas por outro ângulo, os dois principais protagonistas da política
brasileira desde 93 foram o PT e o PSDB. Ambos nascidos na matriz da social
democracia, que ideologicamente, em nível internacional, tinha mais afinidade
com o PT. Mas evoluiu e, hoje, afina-se mais com o PSDB. De qualquer maneira, o
eixo principal da política brasileira, que tem como oponentes, o PT e o PSDB,
pode ser visto como falso – ambos nasceram da mesma matriz social-democrata e
as diferenças ideológicas estão apenas nas nuanças.
Se
o PT está em crise, o mesmo, com mais ênfase, pode-se dizer do PSDB. Uma das
principais razões é a teimosia de José Serra, que busca transformar em
monopólio seu a condição de candidato tucano a presidente da República.
A
falsidade ideológica da polarização PT-PSDB abre espaço para outras legendas se
apresentarem como representantes de setores da sociedade que estão hoje órfãos
de representação. Mas as duas legendas que poderiam fazer isto, o PMDB e o DEM,
também estão em crise. E
crise grave.
O
PMDB tem dois problemas básicos. O primeiro: depois de conquistar suas antigas
bandeiras (anistia, redemocratização, eleição direta para presidente, entre
outras menos vistosas), não soube por outras bandeiras no lugar. Sem bandeiras,
sem mensagem, não dá. O segundo: corre o mesmo risco que devastou o DEM, ex-PFL
– como, depois que abandonou Ulysses e Quércia, nunca mais lançou candidato
próprio, apoiando sempre candidatos alheios a presidente, o PMDB começou a
definhar. Como diz um experiente peemedebista: “Time que não joga não faz
torcida”. O PMDB está examinando essa coisa, já fala em lançar o
vice-presidente Michel Temer ou o governador fluminense Sérgio Cabral à
sucessão de Dilma em 2014. É esperar para ver, mas me parece improvável que
isso ocorra.
Quanto
ao DEM, que mudou de nome e tentou mudança que não deu certo, creio que sua
chance de permanência e recuperação está em representar os setores liberais da
sociedade, defendendo a liberdade econômica, redução da carga tributária, os
direitos e garantias individuais e assumir corajosamente certas bandeiras do
tipo “contra o aborto”, entre outras. Não para representar a sociedade, mas uma
fatia dela.
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Este artigo foi publicado
originalmente na Tribuna da Bahia.
Ivan de Carvalho é jornalista
baiano.