Terça, 12 de julho de 201
Por Edilson Silva*
Mais
tarde, quando de sua pré-candidatura à presidência já definida, fui um
dos maiores defensores, dentro do PSOL, de uma aproximação com sua
candidatura, propondo estabelecer entre as legendas um debate
político-programático. Como é do conhecimento geral, as negociações
programáticas não avançaram e Marina saiu candidata sem aliança com o
PSOL, que por sua vez lançou outra candidatura. Marina, com uma votação
surpreendente, apresentou-se e foi interpretada pelo país como uma
perspectiva do novo e da mudança.
Dois
foram os fatores principais que não permitiram que as conversas com a
candidatura de Marina fossem adiante. O primeiro, talvez o principal,
foi a não disposição de se avançar no debate sobre a política econômica
praticada em essência por FHC e Lula, que privilegia de forma
absolutamente desproporcional o capital financeiro. O segundo fator foi o
apego do PV, então partido de Marina, à velha política. A aliança de
Gabeira, então candidato ao governo do Rio de Janeiro pelo PV, com o
PSDB do então candidato à presidência José Serra, selou a simbologia das
contradições que estavam colocadas para uma unidade naquele momento.
Se
quando saiu do PT Marina agregou ao seu capital político a marca da
coerência em relação ao seu compromisso com desenvolvimento sustentável,
com a defesa do meio ambiente, e também com a ética, pois dos petistas
históricos que ocuparam ministérios foi das únicas que não se envolveu
em escândalos, agora sua saída do PV lhe confere mais um valor: a defesa
de outra democracia contra a velha política. Com isso, Marina se desfaz
de uma terrível contradição que lhe perseguia, pois o PV há tempos já
havia se tornado um partido fisiológico, velho, alugado em vários
estados, chafurdando no que de pior existe na política brasileira.
Com
esta movimentação, saindo do PV, com o discurso que está fazendo,
Marina coloca-se em harmonia com um sentimento popular que ultrapassa
fronteiras contra o monopólio da política dos partidos e suas elites
carcomidas, o movimento que ocupa praças e ruas no norte da África, na
Europa, e também nas incontáveis passeatas pelo Brasil.
Ao
tornar-se uma grande referência nacional na defesa de um outro padrão
de desenvolvimento e crescimento econômico, ambientalmente sustentável -
como o fez na luta do Código Florestal, e agora agregando a isto a luta
contra o regime pseudo-democrático apodrecido das elites do país,
Marina se aproxima muito de fechar uma triangulação programática
inescapável para quaisquer forças políticas que queiram realmente mudar
nosso país em favor das maiorias excluídas, das minorias oprimidas e em
desa do meio ambiente.
Esta
triangulação se fecha com conclusões mínimas a respeito de outra
política economia. Outro padrão de crescimento e desenvolvimento, assim
como outro regime político, participativo, ético, transparente, são
incompatíveis com um orçamento público seqüestrado pelo capital
financeiro especulativo, que leva por baixo, todos os anos, mais de 35%
de todo o orçamento, cifras sempre superiores a R$ 350 Bilhões anuais.
São
estes recursos que estão fazendo falta para se estabelecer 10% do PIB
para a educação; para se aprovar a Emenda 29 que pretende ao menos
duplicar os recursos para a saúde pública; para se constituir um piso
nacional dos policiais militares (PEC 300); para habitação, saneamento,
reforma agrária, cuidados com nossos biomas, etc. Enfim, são estes
recursos que faltam para se iniciar uma virada real e estrutural no
país.
Assim
como Marina Silva concluiu que o governo do PT não lhe cabia, e depois
concluiu rapidamente que o PV não lhe cabia, espero sinceramente que ela
também conclua que não cabem desenvolvimento sustentável e um novo
jeito de fazer política dentro de um modelo econômico que privilegia um
punhado de especuladores, que assaltam os cofres públicos com ferocidade
criminosa e o silêncio e a cumplicidade covardes dos governos de
plantão.
*Edilson Silva, presidente do PSOL-PE e membro de sua Executiva Nacional