Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

A fogueira da sucessão

Terça, 28 de fevereiro de 2012
Ivan de Carvalho
De um modo que se poderia qualificar de contraditório, a sucessão municipal de Salvador esteve quase apagada nos dias que precederam o carnaval e durante a festa, mas quando o fogo desta se apagou, uma grande fogueira irrompeu no campo de batalha em que se decidirá com quem fica o comando do Palácio Thomé de Souza.

O mais interessante nessa história é que não dá para dizer exatamente quem jogou gasolina no fogo, pois cada lado das forças em conflito tem a sua própria versão ígnea, a sua proposta chamejante ou o seu homem-bomba. Nestas circunstâncias, o melhor a fazer, para o cidadão comum, é colocar-se a distância segura e apreciar o espetáculo como merece ser apreciado.

Aristóteles ensinou que “política é a arte de bem governar os povos”. Muito pouca gente aprendeu isso. Mas o espetáculo artístico, com tons de incrível realismo, que a política em torno da sucessão na capital da Bahia nos oferece, neste momento, é de encher os olhos, uma delícia.

Quanto a realismo, o que mais chama a atenção é o homem-bomba Alcindo da Anunciação, vereador que, tão novo no PT, já está, “sem papas na língua”, como afirmou, revelando segredos estratégicos de seu partido e, de quebra, dando orientação moral. Foi o que fez, tagarelando em entrevista à Tribuna da Bahia que há articulação para o PT votar pela aprovação das contas da prefeitura (que têm parecer desfavorável do Tribunal de Contas dos Municípios) em troca da sabidamente desejada ajuda do prefeito à candidatura do candidato do PT a prefeito, deputado Nelson Pelegrino. “Todo mundo sabe que existe o namoro entre Wagner e o João Henrique por causa da disputa da prefeitura. Agora, o PT deve avaliar se vale mesmo a pena garantir a aprovação das contas”, ensinou Alcindo.

É de lascar.

E, complicando, um assessor do prefeito afirmou ao site Política Livre que mais uma vez, no domingo, com a proposta de marcar um encontro do candidato petista Pelegrino com o prefeito João Henrique para tratar da sucessão municipal. O prefeito teria respondido com um “não” seco e afirmado que não conversa com Pelegrino antes da votação das contas do município pela Câmara Municipal. Segundo comentou o assessor, o prefeito acha que o PT abriu guerra contra ele, com ações e palavras, e quer um encontro de bastidores.

Bem, o líder do PT na Câmara desmente qualquer tentativa de seu partido de trocar atitudes em relação ao governo municipal por apoio do prefeito a Pelegrino. E promete mais hostilidades do que as várias que o assessor do prefeito já apontara, além do voto petista pela rejeição das contas, o que pode deixar o prefeito inelegível por oito anos. Quanto a Pelegrino, em nota ao site Política Livre, negou ter procurado ou enviado emissário para falar de apoio do prefeito à candidatura dele.

O PMDB entrou na briga para tirar uma lasquinha. O presidente estadual, deputado Lúcio Vieira Lima, disse que o PT dá um atestado público de inidoneidade ao propor a aprovação das contas do prefeito em troca do apoio dele ao candidato petista. “Onde já se viu isto? Estes petistas perderam o juízo”, ironizou ou admirou-se Lúcio Vieira Lima.

Aliás, falando de PMDB, o ex-prefeito Mário Kertész deve participar da propaganda partidária do PMDB na Bahia. E Lúcio Vieira Lima disse que não é Xuxa, mas confia que conseguirá convencer MK a aceitar a candidatura a prefeito pelo PMDB, mesmo sem a união das oposições. Lúcio e seu irmão Geddel têm conversado com Kertész e este tem conversado sobre o mesmo assunto com muitas outras pessoas, afirma-se nos bastidores.