Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Sucessão, mais uma vez


Segunda, 27 de fevereiro
Por Ivan de Carvalho
Muita gente que se interessa por política está com a atenção voltada para as próximas eleições municipais e, no que diz respeito aos baianos, no momento chamam mais a atenção as articulações sobre o pleito para prefeito de Salvador, por ser esta cidade nossa capital e para as eleições do futuro prefeito de São Paulo, por ser a capital do Estado que é o principal obstáculo à obtenção da completa hegemonia política do PT e seus aliados no país.

            Em Salvador, muita água ainda vai passar por cima da ponte Salvador – Itaparica até que o cenário se defina verdadeiramente, pois se o PT, partido que controla os governos federal e estadual, já escolheu seu candidato a prefeito, o perseverante deputado Nelson Pelegrino, que disputará o cargo pela quarta vez, muitas outras coisas estão pendentes e existem até as que não se sabe se estão ou não pendentes.

            Neste último caso, está a candidatura da deputada Alice Portugal, oficialmente pré-lançada pelo PC do B, que está jurando diariamente a simpática presença da candidata como uma das figurinhas nas urnas eletrônicas. Aliás, que negócio ridículo esse de pré-isso, pré-aquilo, um suposto pseudo-drible que todos imaginam dar na ainda mais ridícula legislação eleitoral, que só permite caracterizar um candidato a partir da convenção que formaliza a candidatura.

Conforme o PC do B, a candidatura de Alice não está pendente. Mas, sabe-se lá por qual diabo inspirado, Vladimir Ilytch Ulianov, vulgo Lenin, recomendou aos seus seguidores que “devemos mentir, mentir e mentir”, deixando-lhes essa herança maldita. Os comunistas têm agora o suplício de precisarem provar diariamente que repudiaram a herança. Da qual Joseph Goebbels, o ministro da Propaganda nazista, praticou apropriação indébita, ao ensinar que “uma mentira repetida mil vezes se tornará verdade”. Ou algo similar.

Mas, no lado governista, nem só a Pelegrino e Alice as coisas se resumem. A senadora Lídice da Mata, presidente estadual do PSB e nome de peso, acaba de subir no palco em que já estava o socialista deputado-capitão Tadeu Fernandes. E Lídice aí se colocou como algo pendente, uma possibilidade, como ela mesma definiu sua posição, não como uma certeza.

Não sei onde colocar a candidatura do deputado e chefe da Casa Civil da prefeitura, João Leão, do PP. A lógica impõe que seja na área governista, na qual está o PP em âmbito estadual e municipal. E o prefeito, que apoiará a candidatura de Leão enquanto esteja ela posta, o que fará no segundo turno, ainda mais que acaba de anunciar, no seu estilo visionário que tão certo tem se revelado, que vai se candidatar nas eleições de 2014? A deputado, a senador, a governador? Só ele sabe, se já souber. Talvez ele já tenha lá, isto sim, suas intenções sobre a quem dará apoio no segundo turno das eleições deste ano, mas só tome a decisão quando conhecer o resultado do primeiro turno.

O governismo estadual está comandando uma batalha para que as contas da administração de Salvador, com parecer desfavorável do Tribunal de Contas dos Municípios, sejam rejeitadas pela Câmara Municipal. Se o prefeito já tinha ou não uma tendência para alinhar-se no segundo turno às oposições, não sei, mas essa atuação do governismo praticamente o empurra para os braços da oposição. E governistas já o qualificam de ingrato, o que, decerto, não lhe é grato (desculpe, Alex Ferraz).

Bem, lá no começo fizemos referência à eleição para prefeito de São Paulo. Tema complexo e muito importante para o país. Mas uma observação simples dá para fazer nas poucas linhas que me restam: o PT, Lula e seu candidato-poste Fernando Haddad tomaram um drible espetacular da dupla PSDB-PSD. Lula imaginou estar quase com o PSD do prefeito Kassab no papo e a eleição idem, pois nenhum dos quatro inexpressivos aspirantes do PSDB tinha chance. Então Serra desce solenemente do muro, decide ser candidato, o PSD de Kassab declara apoio e Haddad fica lambendo sabão, sob o olhar de soslaio e o sorriso irônico da senadora Marta Suplicy.

Tem coisa mais vexatória?
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.