Segunda, 27 de fevereiro
Por
Ivan de Carvalho

Em Salvador, muita água
ainda vai passar por cima da ponte Salvador – Itaparica até que o cenário se
defina verdadeiramente, pois se o PT, partido que controla os governos federal
e estadual, já escolheu seu candidato a prefeito, o perseverante deputado
Nelson Pelegrino, que disputará o cargo pela quarta vez, muitas outras coisas
estão pendentes e existem até as que não se sabe se estão ou não pendentes.
Neste último caso, está a
candidatura da deputada Alice Portugal, oficialmente pré-lançada pelo PC do B,
que está jurando diariamente a simpática presença da candidata como uma das
figurinhas nas urnas eletrônicas. Aliás, que negócio ridículo esse de pré-isso,
pré-aquilo, um suposto pseudo-drible que todos imaginam dar na ainda mais
ridícula legislação eleitoral, que só permite caracterizar um candidato a
partir da convenção que formaliza a candidatura.
Conforme o PC do B, a candidatura de Alice não
está pendente. Mas, sabe-se lá por qual diabo inspirado, Vladimir Ilytch
Ulianov, vulgo Lenin, recomendou aos seus seguidores que “devemos mentir,
mentir e mentir”, deixando-lhes essa herança maldita. Os comunistas têm agora o
suplício de precisarem provar diariamente que repudiaram a herança. Da qual
Joseph Goebbels, o ministro da Propaganda nazista, praticou apropriação
indébita, ao ensinar que “uma mentira repetida mil vezes se tornará verdade”.
Ou algo similar.
Mas, no lado governista, nem só a Pelegrino e
Alice as coisas se resumem. A senadora Lídice da Mata, presidente estadual do
PSB e nome de peso, acaba de subir no palco em que já estava o socialista
deputado-capitão Tadeu Fernandes. E Lídice aí se colocou como algo pendente,
uma possibilidade, como ela mesma definiu sua posição, não como uma certeza.
Não sei onde colocar a candidatura do deputado e
chefe da Casa Civil da prefeitura, João Leão, do PP. A lógica impõe que seja na
área governista, na qual está o PP em âmbito estadual e municipal. E o
prefeito, que apoiará a candidatura de Leão enquanto esteja ela posta, o que
fará no segundo turno, ainda mais que acaba de anunciar, no seu estilo
visionário que tão certo tem se revelado, que vai se candidatar nas eleições de
2014? A deputado, a senador, a governador? Só ele sabe, se já souber. Talvez
ele já tenha lá, isto sim, suas intenções sobre a quem dará apoio no segundo
turno das eleições deste ano, mas só tome a decisão quando conhecer o resultado
do primeiro turno.
O governismo estadual está comandando uma batalha
para que as contas da administração de Salvador, com parecer desfavorável do
Tribunal de Contas dos Municípios, sejam rejeitadas pela Câmara Municipal. Se o
prefeito já tinha ou não uma tendência para alinhar-se no segundo turno às
oposições, não sei, mas essa atuação do governismo praticamente o empurra para
os braços da oposição. E governistas já o qualificam de ingrato, o que,
decerto, não lhe é grato (desculpe, Alex Ferraz).
Bem, lá no começo fizemos referência à eleição
para prefeito de São Paulo. Tema complexo e muito importante para o país. Mas
uma observação simples dá para fazer nas poucas linhas que me restam: o PT,
Lula e seu candidato-poste Fernando Haddad tomaram um drible espetacular da
dupla PSDB-PSD. Lula imaginou estar quase com o PSD do prefeito Kassab no papo
e a eleição idem, pois nenhum dos quatro inexpressivos aspirantes do PSDB tinha
chance. Então Serra desce solenemente do muro, decide ser candidato, o PSD de
Kassab declara apoio e Haddad fica lambendo sabão, sob o olhar de soslaio e o
sorriso irônico da senadora Marta Suplicy.
Tem coisa mais vexatória?
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.