Terça, 31 de julho de 2012
Este artigo dá continuidade ao publicado ontem (30/12).
Da Tribuna da Internet
O professor de economia Carlos Lessa, ex-reitor da UFRJ, ficou apenas
dois anos presidindo o BNDES (2003 e 2004), mas foi o bastante para
fazer uma verdadeira revolução no banco de fomento, abrindo caminho para
a fase de desenvolvimento que se registraria no governo Lula.
Lessa cortou os privilégios dos banqueiros, que recebiam 4% ao ano em
todas as grandes operações do BNDES, a título de taxa de intermediação,
sem moverem uma só palha. A equipe do banco estatal fazia todas as
avaliações, autorizava a operação, o financiamento era liberado e o
banco intermediário (nacional ou estrangeiro, vejam só quanta
liberalidade) ficava com o lucro do empréstimo.
Ao mesmo tempo, Lessa criou vários programas de incentivo à economia e
de modernização da agricultura, da indústria e dos serviços, deu apoio
rápido e desburocratizado às médias, pequenas e microempresas,
transformando o Cartão BNDES num instrumento da maior importância na
estrutura econômica nacional, com os juros mais baixos do país – cerca
de 1% ao mês.
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TRAMA DOS BANQUEIROS
Desde que Lessa lhes cassara o privilégio de “intermediar” todas as
operações do BNDES, os banqueiros tramavam a demissão dele, plantando
notas e mais notas na imprensa amestrada, com apoio do então ministro da
Fazenda Antonio Palocci, que estava “acertado” com os bancos desde a
campanha de Lula, em 2002, quando se tornou o intermediário entre o PT e
o sistema financeiro, acordo que resultou na famosa Carta aos
Brasileiros .
Mas Lessa resistia e até levava na brincadeira as insistentes
notícias sobre sua “próxima demissão”. Até que, em novembro de 2004 ele
deu uma entrevista à repórter Elvira Lobato, da Folha, em que fez duras
críticas à política econômica. Foi a gota d’água. Palocci convenceu
Lula e Dirceu a demitir o presidente do BNDES, substituindo-o por Guido
Mantega, que também estava no esquema dos banqueiros e aceitou deixar o
ministério do Planejamento.
No dia em que Lessa deixou o BNDES, houve uma impressionante
manifestação popular diante do banco. Os jornalistas compareceram ao ato
e Lessa deu uma coletiva. A frase mais contundente foi a seguinte:
“Mantega não é um brasileiro com B maiúsculo”.
Lessa tinha toda razão. Sem alarde, na maciota, Mantega (com b
minúsculo) revogou a determinação de Lessa, e os banqueiros voltaram a
receber os 4% pela suposta intermediação em todas as operações do BNDES.
Foi um escândalo que não houve, porque nenhum jornal ou revista
publicou.
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MANTEGA, UM CARREIRISTA
Mantega, que é um carreirista, foi acumulando junto aos banqueiros os
pontos de que necessitava para realizar seu grande sonho – ocupar o
Ministério da Fazenda. Ficou no banco de reservas, se aquecendo, até que
surgiu o escândalo do caseiro e Palocci foi derrubado do governo pela
primeira vez.
Sempre discretamente, Mantega entregou a economia aos banqueiros, que
no Brasil batem recordes mundiais de lucratividade, cobram as tarifas
que bem entendem, fazem o que querem. E para confirmar que os banqueiros
é que mandam no país, Palocci depois teria uma segundo chance,
repetindo na campanha de Dilma Rousseff o mesmo esquema que celebrara na
campanha de Lula. Só faltou uma nova Carta aos Brasileiros.
Como em time que está ganhando não se mexe, os banqueiros deixaram
Mantega na Fazenda e entronizaram Palocci na Casa Civil. Mas o
enriquecimento ilícito de descarado do “premier” petista acabou
derrubando-o de forma definitiva. Mas os banqueiros preservaram Mantega,
que desde o início do governo a presidente Dilma tenta substituir, mas
não consegue.
AMANHÃ:
Dilma tem horror de Mantega, mas não pode
demiti-lo, porque os banqueiros não deixam. Aliás, os banqueiros
já tramam contra a reeleição de Dilma. Eles preferem Lula.
Dilma tem horror de Mantega, mas não pode
demiti-lo, porque os banqueiros não deixam. Aliás, os banqueiros
já tramam contra a reeleição de Dilma. Eles preferem Lula.