Sábado, 28 de julho de 2012
Tríade mediática
Cumpre-nos clarificar na praça e nos suportes de
comunicação livres o que é ocultado, desfocado e cortado
nas televisões, jornais e rádios, na tríade
mediática. Mais do que explorar o filão das
novelas judiciárias, a opinião publicada carece de uma armadura conceptual, de uma agenda
de investigação até ao osso e de colunas de tratamento sem
anestesia. No entanto, sempre que os media dos grupos se referem a
casos
dos grupos, excitam-se com o tema durante uns dias e de imediato recentram as
atenções nas manchetes de futebol, sangue e sexo. A criminalidade
económica público-privada e a liquidação do
património estratégico não sugerem aprofundamento. Tocam
áreas cruzadas e personagens com guarda-chuva. Os media preferem incidir
os holofotes sobre uma ou outra personalidade mais indefesa ou caricata, um
outro incidente mais movimentado. Resumem o escrito e o dito ao texto,
ignorando o contexto. Ora, o tráfico e a corrupção, bem
como a entrega do ouro ao bandido, remetem-nos para a engrenagem
institucional-partidária e para a sua tutela, o grande capital. A
comunicação, que se proclama social, contenta-se com o clamor
inócuo e o comentário de superfície, a fim de não
despertar quem a vê, quem a lê, quem a escuta. Ao ficar-se pela
rama, entregue ao pensamento único e à
contra-informação, acaba por desempenhar um papel
equívoco, branqueador de factos e desnorteador de mentes. Uns branqueiam
vis metais ou capitais, outros branqueiam jornais ou telejornais. O
Dicionário da Propaganda é tão imaginativo que o roubo das
troikas ou tríades é considerado um pacote e um ajuste, uma ajuda
e um resgate. A indignação patriótica atingiu o
clímax com o Ultimato Inglês de 1890 e concorreu para o
descrédito e o derrube da Monarquia. Mas muito boa gente ainda
não se apercebeu do alcance do Ultimato Alemão de 2011. O Bloco
Central Político/Económico/Mediático tudo tem feito para
retardar a cólera democrática e a exigência do pagamento da
crise pelos que a causaram: especuladores e dilapidadores, traficantes e
corruptos. Somente com o povo levantado do chão e a retoma do projecto
de Abril se porá termo ao saque e à servidão e se
reabrirá a estrada do progresso social e cultural.
(César Príncipe no artigo "Tráfico & corrupção: Doença genética do capitalismo", publicado no "resistir.info")