Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Democratas e fusão


Quarta, 18 de julho de 2012
Por Ivan de Carvalho
O presidente nacional do PMDB, senador Valdir Raupp, afirmou, ontem, que seu partido vem discutindo a hipótese de fusão com “meia dúzia” de legendas. Acrescentou que “a possibilidade de fusão é praticamente real” e que uma fusão, se houver, não será necessariamente com os seis partidos com os quais o assunto vem sendo tratado. “Não quer dizer que a fusão seja com os seis, talvez sejam dois, três”, disse, adiantando que as conversas serão aceleradas após as eleições de outubro e devem ser concluídas em 2013.

            Um dos alvos exploratórios do PMDB seria o Democratas, segundo se especula no meio político, ressalvando que os resultados das eleições deste ano para prefeitos e vereadores deverão influir muito numa decisão do DEM a respeito. É óbvio que um bom resultado para os democratas tenderá a estimular a persistência da legenda, enquanto um resultado expressivamente abaixo do esperado mostraria, supostamente, uma inviabilidade de a legenda permanecer autônoma e estimularia, portanto, a fusão.

            No entanto, ainda que venha a prevalecer a hipótese de uma fusão, o PMDB não seria o único candidato a absorver o DEM. Este teria no PSDB uma opção, de certo modo mais coerente ou menos incoerente, pois o DEM é um partido na oposição ao projeto de poder do PT e o PSDB também se coloca nessa linha, enquanto com o PMDB acontece algo muito diferente: durante o primeiro governo Lula esteve dividido, com o “PMDB do Senado” apoiando o governo e o “PMDB da Câmara, então majoritário no partido, fazendo oposição, ainda que reticente, vacilante, como reticente e vacilante tem sido a oposição do PSDB desde que o PT chegou ao poder.

            Mas já para a reeleição de Lula o PMDB apresentou-se inteiro como apoiador do candidato e aliado do PT, tendo na eleição da petista Dilma Rousseff participado da chapa, indicando seu então presidente, deputado Michel Temer, para candidato a vice-presidente da República. Após a eleição de Dilma, o PMDB já foi alvo de muita pancadaria desferida pelo governo e pelo PT, mas continua sem largar o osso. A carne ainda existe para o PMDB, mas diminuiu a olhos vistos. Se continuar com eles fechados, quando os abrir verá que, além do osso, restam-lhe apenas pelancas. Talvez, intuindo isto, o PMDB, tentando recauchutar a musculatura, esteja tão interessado em fusões com outras legendas.

            Uma fusão do DEM com o PSDB é ruim, pois as ideias desses dois principais partidos de oposição não são iguais, nem iguais são seus eleitorados. Com o PMDB também seria ruim, já aí por dois motivos: enquanto o DEM, apesar dos pesares, tem um ideário, o PMDB já não tem. Além disto, o DEM é oposição ao projeto de poder do PT e o PMDB tem auxiliado o PT a executar seu projeto. Isso tira qualquer sentido a uma eventual fusão PMDB-DEM.

            Ex-vice-presidente nacional do Democratas e presidente da seção baiana da legenda, José Carlos Aleluia descartou, ontem, a possibilidade de fusão de seu partido com o PMDB. Alegou exatamente a posição de participante do governo Dilma deste partido. “Somos independentes e não faremos fusão com partidos governistas”, disse. Para Aleluia, o DEM precisa se firmar como alternativa ao atual governo, representando “o centro-democrático, a democracia cristã”.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quarta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.